Nuno M. Silva: “Uma pessoa que tem muitas ideias não é necessariamente um empreendedor, é um idiota”
Era um miúdo que fazia negócio com a troca de cromos e com as consolas Nintendo na primária. Em casa, com os pais, poucas eram as tarefas que também não envolviam negociações e contratos. Mas foi aos 18 anos que tudo começou de forma mais séria. “Os negócios estiveram sempre comigo e aos 18 anos abri uma empresa. Cheguei ao pé dos meus pais e disse ‘pai e mãe, tive uma ideia de negócio e vou abrir uma empresa’. Eles olharam os dois para mim e pronto, ‘ok, filho, nós acreditamos em ti’. Depois perguntaram quanto é que precisava para começar e ajudaram. Foi assim que montei a minha primeira empresa de informática. Estive lá quatro anos mas acabei por vendê-la a dois colaboradores meus e ainda hoje ela existe”, explica Nuno M. Silva, empreendedor e autor do livro “Torna-te um fora de série”, apresentado amanhã, 17 de outubro.
É um livro de “empreitada em empreitada”, de lições que foram sendo aprendidas. “Aprendi o que é o empreendedorismo e também a vertente mais pessoal em tudo, o que me levou a começar a escrever, em 2014, para o Empreendedor.com. Os artigos nesse site começaram a ter uma visualização muito significativa e surgiu a ideia de escrever um livro onde pudesse contar a minha história e ajudar as pessoas a serem ‘fora de série’”, explica.
"Não basta fazermos coisas novas, temos de fazer coisas diferentes e muito bem. É pensar que só temos aquela hipótese e que estamos a jogar sem rede"
Para chegar ao sucesso, diz Nuno, é preciso muita tenacidade. “E também é preciso antecipar os erros que outras pessoas já cometeram. Se nós podermos aprender com outras pessoas a ter as ferramentas necessárias para otimizar o sucesso, tenho a certeza que optimizamos também as nossas hipóteses de lá chegar”, refere.
No restante caminho, é preciso ser-se um “executor nato”. “Não basta fazermos coisas novas, temos de fazer coisas diferentes e muito bem. É pensar que só temos aquela hipótese e que estamos a jogar sem rede. Se falharmos não é como na escola: quando chumbamos a uma cadeira podemos voltar a fazer o exame. Aqui temos de fazer bem à primeira e temos de reunir todo o esforço que está ao nosso alcance para que as coisas deem certo”, reforça Nuno M. Silva.
Isto é, no fundo, o que permite construir uma definição de ‘fora de série’: “um fora de série é uma pessoa que faz um projeto e dá tudo o que tem para fazer bem. É uma pessoa que não está satisfeita com a mediocridade, está satisfeito com a excelência. Procura fazer bem mesmo quando ninguém está a ver, é exímio na execução. É saber mais e melhor do que é suposto. É ser consistente, é ser singular”.
"Existem muitas ideias mas depois não há a tenacidade suficiente para que consigam levar as coisas para a frente, desistem muito facilmente"
Mas, com isto, há uma pergunta que se impõe. Quem tem muitas ideias também é um ‘fora de série’? Nuno M. Silva não hesita. “Eu acho que ideias há muitas. Uma pessoa que tem muitas ideias não é necessariamente um empreendedor, é um idiota. A diferença entre uma pessoa que tem ideias e um empreendedor é que um empreendedor analisa a oportunidade, tem a ideia e consegue perceber como é que consegue efetivamente desenvolvê-la. O grande segredo para o sucesso não está propriamente na ideia mas na maneira como ela é desenvolvida. A partir do momento em que se tem uma ideia temos de ver que a partir dali vamos assumir um conjunto de metas e objetivos e temos de fazer tudo para os atingir. O que eu vejo muito — porque também sou mentor na Startup Sintra — é que existem muitas ideias mas depois não há a tenacidade suficiente para que consigam levar as coisas para a frente, desistem muito facilmente. Hoje em dia esse é o grande handicap [travão] da malta mais jovem. Temos de acreditar e fazer tudo o que está ao nosso alcance para dar certo”.
Para o empreendedor, uma das pessoas que “dá tudo o que tem para fazer bem” é Tim Vieira, conhecido investidor do Shark Tank. Por isso não teve dúvidas na hora de pedir que lhe escrevesse o prefácio do livro. “Nós já nos conhecíamos. Estivemos juntos o ano passado numa viagem que fizemos à China, com outros empreendedores. Estivemos muito tempo juntos e fomos desenvolvendo uma amizade. Ele é uma pessoa fantástica e tinha de ser um ‘fora de série’ como ele a escrever o prefácio do meu livro”.
"Há sempre mais a fazer. Há tantas oportunidades para se inovar, há muito campo para explorar e para desenvolver"
Ao longo de 22 capítulos, o livro “Torna-te um fora de série” apresenta “um conjunto de ferramentas a pessoas comuns para libertarem o seu super-poder”. De forma pragmática, são apresentados os ingredientes necessários para se ter sucesso a nível pessoal e profissional. E não se pense que já tudo foi dito sobre o assunto ou que as ideias já estão esgotadas. “No século XIX fizeram uma entrevista ao diretor de patentes dos Estados Unidos e perguntaram-lhe se naquela altura ainda havia hipótese de existir mais alguma ideia nova, porque já havia tantas. E estamos a falar aí por volta de 1870, por isso podemos ver desde aí até agora a quantidade de coisas novas que foram feitas. Há sempre mais a fazer. Há tantas oportunidades para se inovar, há muito campo para explorar e para desenvolver, não só no empreendedorismo com a vertente capitalista mas também no empreendedorismo social”, remata.