Depois dos DVDs e do streaming, a Netflix quer ser a titã do gaming
por Abílio dos Reis (Texto) | 17 de Agosto, 2023
“Heart of Stone”, filme em que Gal Gadot protagoniza cenas de perseguição a alta velocidade com vasta sessão de pancadaria em Lisboa, domina as visualizações, os tops e as notícias sobre a Netflix. Mas hoje voltamos a atenção para uma novidade recente da plataforma que passou pelos pingos da chuva: a de que começou a fazer streaming de videojogos também.
Nesta segunda-feira, enquanto muitos portugueses estavam a gozar de um merecido período de férias ou de um fim de semana prolongado de descanso, um pequeno grupo de subscritores no Canadá e no Reino Unido começou a ter acesso privilegiado às ambições da plataforma no que respeita ao gaming. Tradução: a Netflix arrancou com os primeiros testes abertos ao público dos seus jogos na nuvem.
- O que é “jogar na nuvem”? É uma tecnologia que permite jogar videojogos sem ser necessário ter o disco ou a necessidade de transferir o jogo para o aparelho no qual se está a jogar – dispensando as tradicionais placas gráficas e processadores mais potentes porque o jogo é jogado a partir de um servidor (sendo por isso necessário uma ligação estável e de alta velocidade à Internet). É pensar em serviços como o PlayStation Plus ou Xbox Cloud Gaming.
Não é que se fale muito nisso ou que seja produto muito popular entre os seus mais de 232 milhões de clientes. Mas a realidade é que em 2021 a gigante do streaming começou a disponibilizar jogos como parte integrante do seu serviço de subscrição. Para acompanhar o lançamento disponibilizou cinco títulos (dois relacionados com “Stranger Things”) e desde então foram adicionados mais nomes ao catálogo e atualmente existem mais de 50 jogos disponíveis (alguns bem jeitosos). Estes jogos não têm microtransações, anúncios ou taxas extra. E muitos são baseados nas séries mais populares da plataforma.
No entanto, estes jogos têm estado disponíveis “apenas” nos sistemas iOS e Android (telemóveis e tablets). Algo que a Netflix quer mudar no futuro — e deu um grande passo nesse sentido ao anunciar num post do seu blog que arrancou esta semana com testes em fase beta para tornar os seus títulos jogáveis nos dispositivos em que normalmente desfrutamos da aplicação, nomeadamente em TVs, PCs e Macs através do site oficial (PlayStation e Xbox ficam de fora).
Nesta fase de testes vão estar dois jogos disponíveis: o primeiro Oxenfree (feito pelo Night School Studio, que a Netflix agora detém) e um novo título, Molehew’s Mining Adventure.
Para jogar na televisão, o post assinado pelo Vice-Presidente do departamento dos jogos, Mike Verdue, explica que os subscritores vão poder “utilizar um comando que já temos nas mãos a maioria do dia — os nossos telefones”. Nos PCs e Macs vai dar para jogar com um rato e um teclado.
- Em suma, esta fase beta vai servir para testar a tecnologia de streaming de jogos e o controlador (comando).
Sobre a notícia, a The Verge prevê que dada a “longa experiência da Netflix em streaming de vídeo”, a transição para gaming seja feita sem grandes problemas (além de que está a começar por baixo, com apenas dois jogos e em dois mercados limitados, para acautelar transtornos e arranjar soluções atempadamente). E se a coisa der para o torto, a Netflix nunca vai perder o que já tem: um vasto catálogo e as versões mobile e para tablet.
No entanto, o anúncio de que o Art Director dos premiados “God of War” (Rafael Grassetti) se vai juntar a um dos principais argumentistas da saga “Halo” na Netflix Games (empresa com 450 empregados) para produzir um novo jogo original de grande orçamento (AAA) e esta notícia de que a Netflix está a começar a testar jogos na nuvem (um mercado que se espera valer quase 21 mil milhões de dólares em 2030) sugerem que ambição é para investir neste medium.
Primeiro foram os DVDs, depois o streaming. Agora, o plano é para conquistar os videojogos. Só que o mundo do gaming, como nota este artigo da The Ringer, é um animal notoriamente complexo e exigente, cujo calendário de produção, pelo menos ao nível dos êxitos de vendas, excede em muito o da televisão e do cinema. Além de que a Microsoft e a Sony são as duas gigantes que dominam o mercado e contam com décadas de avanço.
Mas se há algo que joga a seu favor são os milhões de subscritores (não está a começar do zero) que já tem e o saber agradar a massas. Sabendo disso, numa visão a longo prazo, a Netflix parece estar a preparar videojogos que vão muito além do agrado e exigência dos “gamers” tradicionais. O intuito é chegar ao maior número de pessoas possível. E de “Mindhunter” a “Bridgerton”, o que não faltam são muitos títulos bem conhecidos por explorar. Se isso por si só vai chegar para ser uma titã dos videojogos? Teremos de esperar para ver.