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Marjut Falkstedt: “A minha mensagem para as empresas é tenham coragem”

por Rute Sousa Vasco (Texto) | 16 de Julho, 2025

A diretora-executiva do Fundo Europeu de Investimento (FEI), Marjut Falkstedt, trouxe uma mensagem clara aos empresários que a ouviram no encontro promovido, a 11 de julho, pelo Banco Português de Fomento: “digitalização, sustentabilidade, competitividade não são buzzwords; são os pilares da economia”.

E é com os olhos postos nestes pilares que o FEI anunciou a maior parceria financeira de sempre com Portugal que vai permitir financiar a economia e as empresas em mais de 6,5 milhões de euros. “É a maior parceria financeira de sempre entre Portugal e o FEI”, sublinhou Marjut Falkstedt, recordando o histórico de mais de 35 parcerias no nosso país entre programas para venture capital e private equity.

O objetivo é fazer este dinheiro chegar a cerca de 40 mil empresas nacionais, cumprindo um dos desígnios do Relatório Draghi  sobre a necessidade de fechar a lacuna de investimento que existe na Europa.

“Estamos num momento da União Europeia em que enfrentamos muitos desafios geopolíticos, com todas estas discussões sobre tarifas, que têm sido, digamos, promovidas e inspiradas pelos Estados Unidos. E tudo isto tem impacto nas empresas da União Europeia. E quando olhamos para Portugal em particular, penso que podemos afirmar que existem enormes necessidades de investimento para permitir que as empresas cresçam e de fazer com que o investimento europeu flua para as empresas europeias. Essa é agora a nossa principal missão: fazer chegar liquidez às empresas de uma forma que lhes permita crescer, florescer e expandir os seus negócios”, afirmou Marjut Falkstedt em entrevista ao The Next Big Idea.

Num mundo em acelerada mudança tecnológica, as startups desempenham um papel crucial e a Europa, afirma Marjut Falkstedt, está comprometida em criar líderes mundiais.

Marjut Falkstedt (FEI) e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, assinam protocolo de 6,5 mil milhões de euros
Créditos: Banco Português de Fomento

“Aquilo que as startups precisam, o seu sonho, é tornarem-se líderes europeias nas suas áreas de atividade. E, mais do que isso, quererem ser líderes mundiais e esse é o nosso objetivo agora. Temos mesmo de ajudar nesse processo, com todos os modelos e instrumentos de financiamento que temos à nossa disposição — sejam empréstimos, garantias, capitais próprios ou capital de risco”.

A capacidade de liderar tecnologicamente é, defende, hoje decisiva para a competividade de cada país e, no caso europeu, da UE como um todo. “Por exemplo, quando falamos de cibersegurança, todos os países e todos nós, individualmente, vamos lidar com questões de cibersegurança. Precisamos que estas empresas surjam com novas ideias. Precisamos de formas totalmente diferentes de produzir, o que é muito importante também em Portugal.

Quando falo de inovação, falo da coragem de seguir ideias e pensar fora da caixa. A forma como trabalhávamos ontem, já não é a forma como trabalharemos na próxima semana – pode parecer um pouco abrupto, um pouco radical dito assim. Mas a inovação ajuda-nos verdadeiramente a competir, e a competitividade é fundamental”.

Sobre a avaliação que faz da capacidade de Portugal em inovar, Marjut Falkstedt traça um retrato otimista. “Em Portugal, vejo muitos sinais de empresas a pensar fora da caixa, a modernizar a sua cadeia de produção A minha mensagem para essas empresas é tenham coragem. A inovação é isso”.

“As empresas são quem conduz as ideias e nós não podemos fazer essa parte. Mas podemos tratar da componente financeira”

Questionada sobre o desafio que Portugal tem de crescer acima da média europeia, a diretora executiva do FEI defende que a ideia-chave é centrar a economia nas empresas e colocar à disposição condições para as fazer crescer e prosperar. “Porque as empresas são quem conduz as ideias e nós não podemos fazer essa parte. Mas podemos tratar da componente financeira”.

Para que esse caminho seja feito, há uma urgência em mudar a forma como se olha para o mercado global – um tema recorrente também na economia portuguesa.

“Quando se tem um negócio, normalmente pensa-se a nível nacional, regional ou até local. E, do ponto de vista empresarial, é necessário mudar esse mindset e ter um plano de negócios centrado no crescimento e na expansão. E aqui, nós – as instituições públicas – temos de ter meios para apoiar esse caminho. Bancos como o Banco de Fomento são parte da solução, mas também os bancos comerciais, os fundos de capital de risco, todo o ecossistema financeiro deve trabalhar em conjunto com o governo para que isso aconteça”.

O Banco Português de Fomento, que é também uma das cerca de 40 instituições financeiras que são acionistas do Fundo Europeu de Investimento, será o ‘braço armado” privilegiado para fazer chegar 6,5 mil milhões de euros às empresas portuguesas nos próximos anos. “É muito mais do que uma parceria normal entre, por exemplo, uma instituição financeira e um cliente, porque estamos a construir algo em conjunto para benefício das empresas portuguesas”.