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Liberlândia. A “zona de ninguém” que procura ser o primeiro estado baseado em blockchain

por Miguel Magalhães (Texto) | 18 de Outubro, 2024

As recentes eleições do micro-estado levaram a que Justin Sun, fundador de uma plataforma blockchain avaliada em 14 mil milhões de dólares, fosse nomeado primeiro-ministro.

Quando ouvimos falar em micro-estados na Europa, vem-nos logo à cabeça nomes como o Luxemburgo, o Liechenstein e o Mónaco. Mas na fronteira entre a Croácia e a Sérvia, na margem ocidental do Rio Danúbio, existe um menos conhecido chamado Liberlândia.

O território tornou-se numa “zona de ninguém” depois do desmantelamento da Jugoslávia no início dos anos 90, até que em 2015, Vit Jedlika, um antigo político checo, decidiu aproveitar uma área de 7 quilómetros quadrados para fundar uma nova nação. Para referência, Lisboa é 14 vezes maior.

Na última década, a Liberlândia não teve qualquer tipo de reconhecimento diplomático internacional e parte disso deve-se aos princípios libertários pelos quais se tem regido.

Isenção quase total de impostos, a não existência de serviço militar e um sistema económico e monetário baseado em criptomoedas.

No site do micro-estado, este diz ter cerca de 1.000 cidadãos registados, 4.000 residentes virtuais, mais de 1.5 milhões de dólares em receitas orçamentais e 99% das suas reservas em Bitcoin, a moeda oficial para assuntos governamentais.

E foi precisamente o Governo da Liberlândia a marcar a atualidade nos últimos dias.

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Um criptomilionário entra em cena

O empresário chinês Justin Sun, que fundou a Tron, uma plataforma blockchain avaliada em 14 mil milhões de dólares, venceu as mais recentes eleições e foi de seguida nomeado primeiro-ministro da Liberlândia. 

Como decorrem as eleições neste micro-estado? Através da Liberland Blockchain, um sistema descentralizado no qual cidadãos podem votar, tribunais decidir e negócios ser registados, dependendo do montante que detêm da criptomoeda Merit (Mérito em português), que regula todo o ecossistema.

O que torna este caso particular e não só um case study de utilização de blockchain em processos democráticos, é que Sun está com um processo judicial instaurado pela SEC nos EUA, por fraude relativamente a negócios com os seus cripto-ativos.

Isto levanta questões várias questões. 

Por um lado, se esta é a escolha mais indicada para um estado que quer mostrar a melhor versão de uma criptoeconomia.

Por outro, qual é exatamente o dia-a-dia de um primeiro-ministro de 1000 cidadãos e terá esse ministro direito a imunidade diplomática?