Investir numa startup. O que faz os investidores decidir
por Rute Sousa Vasco (Texto) | 26 de Maio, 2022
O que valorizam os investidores e que perguntas devem as startups fazer antes de decidir abrir o capital.
A sala é fresca e arejada e o grupo está inicialmente disposto em U. Ao centro, Sofia Santos, partner da Faber Ventures explica, num tom sereno, como é que a sociedade de capital de risco toma decisões de investimento. Um grupo de cerca de 25 pessoas ouve atentamente, alguns já passaram pelo processo, outros estão a pensar nisso. A sessão é parte do programa da Startup Capital Summit que, a 11 de maio, juntou em Coimbra os principais fundos de investimento e entidades ligadas ao financiamento, como o Banco Europeu de Investimento (BEI), o Fundo Europeu de Investimento (FEI) e o Banco Português de Fomento (BPF).
Para quem não está familiarizado com o funcionamento através de capital de risco, pode parecer que é só dinheiro. Quando ouvimos nas notícias que a startup A ou B levantou um investimento de um ou vários milhões, aquilo que se retem é a palavra milhão. Milhões são boas notícias. É dinheiro a entrar, logo significa um ganho para quem fundou a empresa.
Na maior parte dos casos, ou nos melhores casos, aqueles que um dia talvez sejam uma empresa que vai efetivamente valer muito dinheiro, não é assim.
“Estão preparados para assumir esse compromisso?”, perguntou Sofia.
Os rostos na sala eram um bom indicador de como a maioria já tinha feito essa pergunta a antes, pelo menos a eles próprios.
A entrada de um fundo de capital de risco numa empresa significa duas coisas aparentemente opostas: segurança e ansiedade. Segurança por haver um novo sócio que acredita na empresa e coloca dinheiro para que cresça e ansiedade porque a partir daí vai ser preciso prestar contas a terceiros. Se um objetivo falhar, se as contas não forem as que se pensaram, deixaram de ter de se justificar apenas consigo próprios. E, da mesma maneira, no dia a dia, a empresa deixou de ser só deles, não decidem sozinhos.
Para quem já passou por várias etapas de validação de uma ideia ou de uma tecnologia, talvez até já tenha os seus primeiros clientes, é tudo menos fácil assumir essa nova etapa. Os milhões gastam-se, mas a vida muda. E é preciso ter a certeza que se quer estar numa empresa assim – que deixa de ser nossa no presente pela possibilidade de valer mais no futuro.
Como é que os investidores decidem?
Noutra sessão, Stephen Morais, partner da Indico Capital Partners, apresentava números que ilustram o escrutínio pelo qual passam os projetos que acabam por ser investidos por capital de risco. “Nos últimos três anos e meio vimos 2300 oportunidades de investimento e investimos em 29. Nestes projetos, investimos entre 33 e 34 milhões de euros e já angariaram 1,5 mil milhões de euros”. É um buraco de agulha entrar aqui, mas também não será por acaso que a Indico tem três unicórnios no seu portefólio (dois deles com fundadores portugueses, o Anchorage e a Remote).
Ou, seguindo ainda as palavras de Stephen Morais, estamos sempre na indústria dos Ronaldos, há muitos jogadores de futebol, poucos vão ser Ronaldos”.
Neste contexto, quais as perguntas que os fundadores de startups devem fazer antes de decidirem apresentar a sua ideia e abrir o capital da empresa, nomeadamente a uma sociedade de capital de risco?
As respostas dos gestores de fundos são bastante coincidentes – e não é por acaso.
Voltemos à sala onde Sofia Santos reuniu com o grupo de empreendedores e ao momento em que alguém pergunta: quais são os sinais de alerta quando avalia uma startup?
A partner da Faber Ventures enumera-os, sem dificuldade:
- Não sair de Portugal – porque significa não prever escala
- Fazer equipa com muitos juniores porque representam menos custo – mas vão custar mais em tempo aos fundadores
- Precipitar alterações de produto por causa da perspetiva de um cliente
Pedro Ribeiro Santos, parter da Armilar Venture Partners, reforça a ideia de escala. “Portugal não é um mercado de tecnologia – é um piloto”, sublinha. O investidor tem na sua carteira projetos de dois unicórnios nacionais, a Outsystems e a Feedzai, e privilegia, nas suas palavras relações de proximidade e longo prazo em que os gestores dos fundos sejam sobretudo conselheiros no que respeita à estratégia.
“Se tiver de dar um conselho é que empreendam com propósito e ambição”, afirma.
Para Alexandre Barbosa, partner da Faber Ventures, preparação é a palavra-chave. “Preparem-se e saibam o que esperam as pessoas com quem vão falar. Não vale a pena, por exemplo, ir falar com investidores que esperam tração comercial quando o vosso produto ainda está a um ano de chegar ao mercado”.
Stephen Morais remata com o trio maravilha que os investidores procuram (ideia, equipa, mercado): “É preciso apresentar uma ideia melhor do que o que existe, tem de ter mercado, e é preciso fome de vencer”.
É nesta corrida que vivem as startups e é por este nível de exigência que a decisão de ir buscar investimento deve ser avaliada atendendo ao perfil dos fundadores, da equipa e, naturalmente, às necessidades de financiamento.
“Ser empreendedor é ser uma espécie de atleta de alta competição. Tens que dormir bem, alimentar-te bem, ter tempo para ler, ter tempo para te preparar. E, da mesma forma que acontece com os atletas, sabes que há um tempo para estares na máxima performance e um dia vai mudar”. A confidência é partilhada por um empreendedor com reconhecimento dentro e fora de Portugal e também ele a gerir a equação de ser investido versus ser comprado.