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Há uma coisa nestes frigoríficos em que não repara, mas que faz a diferença: cortiça

por | 9 de Março, 2018

Há uma coisa nestes frigoríficos em que não repara, mas que faz a diferença: cortiça

Em 2015, três colegas que trabalhavam na área da refrigeração comercial começaram a olhar para as dificuldades do processo de isolamento com poliuretano injetado. Por isso, surgiu “a ideia de fazer um isolamento térmico com uma espuma natural, com um aglomerado de cortiça expandido”, diz Filipe Guimarães, um dos fundadores. Depois de um processo de incubação na Amorim Cork Ventures, em 2016 foi criada a empresa que “produz e comercializa chassis para equipamentos de refrigeração comercial com uma alternativa aos processos tradicionais”.

“Nos equipamentos de refrigeração comercial, tal como acontece nos equipamentos de refrigeração doméstica, temos de ter o cuidado de retirar o calor dos alimentos para que eles mantenham as suas características e não se degradem”, explica Filipe, mostrando que o funcionamento destes equipamentos em nada difere dos frigoríficos que temos em casa. Todavia, o foco da GrõwanCork são equipamentos comerciais. “Por exemplo, quando entramos num café, numa grande superfície ou numa pastelaria temos as vitrinas frigoríficas que normalmente nem vemos porque costumamos olhar antes para os produtos que estão expostos. Mas a verdade é que aqueles equipamentos estão lá e têm uma função que é isolar, evitar que o calor entre para a área refrigerada e degrade os produtos. Atualmente, quase 95% dos produtos desse tipo de equipamentos são isolados com poliuretano injetado e o que nós fizemos foi substituir esse isolamento por aglomerado de cortiça expandido, mantendo na mesma as características de isolamento e oferecendo uma espuma natural com a possibilidade se ser reciclada infinitamente”.

A cortiça, sendo um produto “100% natural e 100% reciclável”, é o parceiro ideal para este projeto, mas não apenas pela capacidade de isolamento. “A grande vantagem é ser uma espuma natural que não é nociva para o ambiente, ao contrário do poliuretano. Mas não é fácil, porque estamos a combater com grandes fabricantes de químicos no mundo, mas o nosso objetivo é mostrar que com um produto natural português é possível conseguirmos os mesmos índices de eficiência energética e isolamento térmico. Provavelmente seremos os únicos no mundo a desenvolver este tipo de atividade com uma espuma natural”, conta.

Além da refrigeração comercial, a GrõwanCork aposta também noutro tipo de projetos. “Temos a possibilidade de oferecer diversos produtos a nível de painel sandwich para a indústria da construção civil, sejam painéis de divisória, de revestimento exterior ou de insonorização, tendo sempre o aglomerado de cortiça como matéria-prima. Há também outra área de projetos customizados: fazemos o desenvolvimento de qualquer solução desde que seja enquadrável no nosso processo de fabrico — revestimentos de contentores para casas modelares, criação de células para alta montanha, seja para controlo de provas de ski ou postos de informação”, exemplifica Filipe.

A partir de Guimarães, onde está sediada, a GrõwanCork tem o sonho de se internacionalizar. “O ano passado submetemos duas candidaturas ao Portugal2020, uma de inovação produtiva, que nos permitiu criar a nossa unidade industrial, e uma de internacionalização. Já ganhámos alguns clientes nacionais, fizemos o arranque das vendas já com a nossa unidade industrial a trabalhar e este ano o grande objetivo é iniciarmos a internacionalização, com vendas diretas para fabricantes de equipamentos de refrigeração comercial, porque até este momento tudo o que fizemos de vendas para o mercado externo foi sempre através de fabricantes nacionais, que nos permitiram chegar a esses clientes. Queremos começar a vender diretamente para clientes internacionais, para países como a Espanha, França, Itália e Alemanha”, refere.