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“Há startups que vão passar a valer zero muito em breve”. O que é que plataformas de IA e a lanterna do iPhone têm em comum?

por Miguel Magalhães (Texto) | 21 de Janeiro, 2025

A Dealflow entrou em Portugal em 2021 e desde aí criou uma plataforma que agrega dados de milhares de startups e projetos de inovação com o apoio da União Europeia. Em 2024, começou também a investir.

De todo o capital que existe na Europa, apenas 0,01% está a ser investido em startups.

Ao mesmo tempo, a União Europeia disponibiliza 100 mil milhões de euros para projetos de investigação sobre os quais nem sempre é fácil encontrar informação detalhada.

A falta de capital e de informação criou na Europa uma aversão ao risco, que faz com que a maior parte dos investidores andem sempre atrás uns dos outros no mesmo tipo de negócios.

Foram estes desafios que levaram Thijs Povel decidiu criar a Dealflow.

Como tudo começou

Thijs era investidor num fundo e começou a desenhar o projeto entre a Bélgica e a Suiça, mas em 2021 decidiu mudar toda a equipa para Lisboa pelas razões que já conhecemos: bom tempo, boa comida, praia e um custo de vida melhor. Foi em Portugal que começaram a desenvolver a plataforma com a qual queriam resolver a falta de informação e de ligação entre startups e investidores.

  • “Antes de começar a Dealflow eu sentia falta de uma ligação entre dados da União Europeia e uma plataforma como a Dealroom, onde podes ter informações sobre empresas e onde é mais fácil um investidor encontrar inovações de áreas como painéis solares, tecnologias em baterias ou computação quântica”, diz o CEO da Dealflow. “Então fizemos uma parceria com a Dealroom e decidimos combinar as duas plataformas criando uma plataforma white-label que está ligada aos dados da Comissão Europeia e onde podemos ver tanto os projetos de inovação e de investigação como as startups, tendo o melhor de dois mundos”, explica.

Ao longo de três anos, através da União Europeia e da ligação a startups, multinacionais, investidores e outro tipo de stakeholders, a Dealflow foi ficando cada vez mais robusta com mais de 10.000 projetos, 27.000 investidores e 400 fornecedores de serviços.

O caminho para investir

Em 2024, Thijs partilha que chegou o momento de começar a investir. “Esta foi a ideia desde o dia 1. Uma das coisas que a Comissão Europeia faz é que eles dão o apoio inicial ao projeto, mas depois querem que este sobreviva sem eles. Então deram-nos o capital para montar a plataforma e lançá-la, mas depois queriam que continuássemos. Então a ideia era que criássemos um fundo à boleia da plataforma para investirmos nas startups que descobriamos através da mesma”.

  • Com o seu fundo Venture.EU, a Dealflow está a apostar em startups early-stage, com investimentos entre 200 mil e 4 milhões de euros por empresa. Neste processo, Thijs já está a sentir os problemas crónicos da Europa na hora de investir. 
  • Se olharmos para o capital levantado nos EUA é seis vezes maior do que o registado na Europa. Há muito mais dinheiro disponível e a razão para isso é se olharmos para os EUA, em 1974, eles implementaram o ERISA Act, que permitiu que fundos de pensão e de seguros também pudessem investir em venture capital. Na Europa, não temos isto e cada estado-membro tem as suas próprias regulações e tornam a vida muito díficil a um fundo de pensões. Como resultado, dos 9 biliões (trillion) de euros que temos na Europa, apenas 0,01% vai para venture capital”, conta.

O que reserva o futuro?

Em termos de tese de investimento, a Dealflow está focada em áreas como o Clima, a Saúde e, claro, a Inteligência Artificial. Thijs admite que podemos estar a passar por uma bolha, mas cabe às startups aprenderem com o passado e ajustarem-se ao mercado.

  • “Eu acho que há uma bolha gigante e há várias empresas que vão valer zero muito em breve. Não tentem competir com a OpenAI nas suas funcionalidades, seja com geração de imagem ou se sabes que eles vão trazer algum tipo de pesquisas. Mas podem aproveitar os modelos através de uma API e construir algo por cima dela”, afirma o CEO da Dealflow. “Aconteceu o mesmo com o iPhone, e para as apps de luz antes de a Apple passar a integrá-la nos modelos. Havia pessoas a comprá-las e depois passaram a valer nada. Acho que vamos ver a mesma coisa”

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