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GoldNutrition: como um negócio para culturistas se tornou numa marca que vende 10 milhões de euros

por | 3 de Maio, 2022

Mais de 1000 atletas já emprestaram o nome à primeira marca de nutrição desportiva em Portugal. Em 20 anos, a GoldNutrition soma mais de 200 referências e projeta lançar outras 50 este ano.

A nutrição desportiva começou nos EUA, na década 70, ligada ao culturismo. Seriam precisos mais 20 anos para que em Portugal uma empresa abrisse mercado aos suplementos nutritivos para ajudar a performance de atletas. Apesar do nome internacional, esta é a história de uma empresa portuguesa hoje presente em 20 mercados.

Na origem da GoldNutrition está Custódio César, nutricionista de formação e hoje detentor de 27% do capital da empresa. É ele que conta o início da história. “Havia em Portugal três ou quatro marcas para culturistas. Nós representávamos a TwinLab, líder mundial nos anos 90. Começa aí a nossa história, o nosso know-how vem daí”, relata.

Os primeiros anos foram de definição de um novo perímetro de mercado com produtos com impacto na performance desportiva que tiveram de passar o crivo de desportistas, amadores e sobretudo da comunidade técnica e científica associada ao desporto.

Um dos exemplos foi a introdução do CLA (Ácido Linoleico Conjugado). “Uma gordura feita a partir da açafroa da Índia, importante para a perda de massa gorda”, refere o fundador. Apresentávamos os produtos a médicos. Ninguém conhecia a creatina em Portugal. Hoje é das substâncias ergogénicas mais provadas com benefícios para os atletas”, sublinha. “Íamos a congressos de medicina desportiva e ligados à ISSN (Sociedade Internacional de Nutrição Desportiva), começámos a suplementar atletas e ver os resultados. Fomos adquirindo conhecimento”.

Custódio César, Fundador e Diretor Técnico da GoldenNutrion | © Diogo Gomes / Madremedia

20 mercados e um crescimento de 25% em 2021 

O grande salto acontece quando a equipa de fundadores deixa o negócio da representação de marcas terceiras e decide lançar a sua própria marca, a GoldNutrition. Para tornar os suplementos produtos não apenas conhecidos mas aceites pela generalidade dos potenciais consumidores, a aposta foi na associação a atletas. “O primeiro foi o ciclista Vítor Gamito (vencedor da Volta a Portugal em 2000), depois tivemos uma equipa de ciclismo profissional, que esteve na Volta a Portugal, em 2005, os gémeos Castro…”. Em 20 anos, apoiaram cerca de 1000 atletas, muitos deles olímpicos (Fernando Pimenta, Jorge Fonseca e João Pereira), de mais de 50 modalidades.

“O interesse inicial era ter a competição no topo e depois atingir uma base alargada de consumidores. Uma pirâmide construída ao contrário”, refere Custódio César.

Com o passar dos anos, alargaram âmbito e público-alvo. “Só em 2014 entramos no mass market. O mercado mudou, massificou. Não estamos a falar de uma commodditie, mas estamos mais perto de um mercado de massas do que quando começamos com a marca”, admite Patricia Berezetcki, atual CEO da empresa.

“Abrimos o mercado. Fomos a primeira marca de nutrição desportiva em Portugal mas há quem pense que somos uma marca estrangeira por causa do nome. A internacionalização foi pensada desde o início”, sublinha.
 
Atualmente, a GoldNutrition tem duas filiais, uma em Espanha e outra na Roménia e está à venda em 20 mercados.  Em termos de peso, “Portugal representa metade, Espanha, 20 por cento e Roménia, 10 por cento, mas está a crescer rápido”, regista Patricia Berezetcki. Detém-se na Roménia, país onde nasceu. “Cresceu muito devido à ligação às federações. É um mercado outdoor parecido com Portugal”, explica.
 
Saídos de uma pandemia, “em 2021, crescemos 25 % em relação ao ano de 2020 e não foi porque caímos em 2020. Fizemos um ano parecido a 2019”, aponta. Em vendas foram 10 milhões de euros, em 2021, 8 milhões, em 2020.
 
O online representa apenas 5 a 10 %”, mas, afirma a CEO, é uma opção estratégica. “Crescemos durante a pandemia, mas funcionamos muito pelos canais de venda e não queremos entrar em concorrência com a distribuição, que é o nosso cliente”.

© Diogo Gomes / MadreMedia

A aposta no mercado da meia-idade

A ligação às universidades, de Coimbra, Porto ou centros de pesquisa, como o Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, é um dos pilares da empresa. “Temos uma equipa in house que faz os produtos. Adquirimos um laboratório para produzir algo nosso, mas com mais de 200 referências é impossível ter produção própria para todos, mas todos são produzidos em laboratórios europeus e todas as fórmulas são feitas por nós”, diz Patricia Berezetcki.
  
Preveem apresentar este ano no mercado mais 50 produtos, segundo projeta Custódio César e uma das apostas é o mercado dos consumidores de meia-idade, “pessoas que só agora começam a ter a preocupação de ter uma vida saudável”, nas palavras de Patricia Berezetcki. 
 
“A pandemia veio alterar as preocupações das pessoas em relação à nutrição, ao seu sistema imunitário, bem-estar e saúde mental”, corrobora o fundador. Recupera a célebre frase de Hipócrates, pai da medicina – “Que o alimento seja o teu primeiro medicamento” -, mas salvaguarda: “nós não queremos substituir os alimentos”.

“Um suplemento é para suplementar alguma carência que alguém tem. Não estamos aqui para curar. É um apoio para ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável”, reforça Patricia Berezetcki.
 
A crise de saúde pública não só trouxe novos consumidores como acelerou a empresa para a digitalização. Para a CEO, o foco das atenções está na Inteligência Artificial (IA). “Tivemos um projeto, entretanto abandonado por causa pandemia, mas acredito que daqui a 3-5 anos vamos conseguir trazer mais tecnologia à empresa e criar uma plataforma em que a IA consegue oferecer ao consumidor a informação que necessita para ter uma dieta personalizada e um plano de treino personalizado”.
 
Abre a porta a quem poderá acrescentar na área tecnológica. “Gosto de ir pelas parcerias com empresas estratégicas, é desafiante. Não estou a ver isto para fazer in house. Ajuda-nos a ganhar tempo”, confessa.  
 
Dá um exemplo. “Há um método, não intrusivo, de medir a glicémia, e há empresas já com IA por detrás para criar uma base de dados e dar informação ao consumidor”. “Um chip colado e descarrega para o telemóvel. Se vais treinar ou competir é importante saber o valor de  açúcar no sangue”, acrescenta Custódio César.

Regressar ao ADN

Patricia Berezetcki, CEO da GoldNutrion | © Diogo Gomes / MadreMedia

Altura para desenhar o triângulo de ação da GoldNutrition. “Em 2021, reorganizamos em três categorias. O nosso ADN é sports e performance. É dali que vimos. É a mãe”, reafirma o fundador. “E com base nisso começamos com duas partes complementares: a saúde e bem-estar onde temos a parte de emagrecimento, barras e pequenos-almoços, snacks e o conceito clean label. A terceira parte é saúde e vitalidade, esta dividida em duas vertentes, a geral, vitamina e a clínica que tem a ver com ajuda a pessoas com algumas doenças de cardio vascular. É complementar”.

“A nossa aposta é voltar ao ADN e focar. A maioria dos produtos deste ano vão ser o sports e não só para a alta competição, mas para os atletas do dia-a-dia”, remata Patricia Berezetcki.“Mas não deixamos de lado a performance. Estamos a lançar um produto inovador, patenteado, importado dos EUA, com estudos publicados, na diminuição de tempo reação dos atletas”.