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Fernando Braz: “Em 2025, a IA não vai substituir humanos, mas capacitá-los para tarefas de maior valor”

por Gabriel Lagoa | 23 de Dezembro, 2024

Desafiámos 10 líderes portugueses a partilhar as suas principais apostas para o próximo ano. “Vinte, Vinte e Cinco” é a nossa nova série de entrevistas com as suas ideias. Fernando Braz, Country Manager da Salesforce Portugal, antevê 2025 como o ano da transformação pela IA, onde agentes autónomos libertarão profissionais para tarefas estratégicas, num contexto de urgente digitalização empresarial.

Uma coisa que vamos deixar de fazer na rotina devido à IA em 2025?

A Inteligência Artificial (IA) deve ser vista como uma ferramenta que capacite pessoas e organizações, tornando os processos mais eficientes e permitindo um maior foco nas tarefas mais criativas e menos rotineiras. Em 2025, com o avanço dos agentes autónomos de IA, algumas das coisas que deixaremos provavelmente de fazer incluem a execução manual de tarefas simples de automatizar, como trocar datas de reservas no setor do turismo, ou efetuar a troca de uma peça de roupa por um tamanho diferente, com a entrega numa nova morada, ajudando a melhorar a eficiência e a produtividade em setores como vendas, marketing e atendimento ao cliente.

Estes agentes, integrados em plataformas tecnológicas, já estão a transformar a forma como trabalhamos, oferecendo automação inteligente e recomendações proativas baseadas nos dados. Não se trata de substituir os humanos, mas sim de capacitá-los para atividades de maior valor, como a construção de relacionamentos, criação de inovação ou a tomada de decisões estratégicas. Em última instância, podemos dizer que a IA nos permite focar no lado mais humano do trabalho, enquanto os agentes autónomos tratam do resto. 

Que marca precisava de um rebranding em 2025?

Olhando para a realidade empresarial em Portugal numa perspetiva macro,qualquer marca que não tenha adaptado a sua presença digital às expectativas em constante evolução dos consumidores estará em risco de ficar para trás. O rebranding, neste contexto, não se limita apenas a uma atualização estética, mas deve ser visto como uma oportunidade estratégica para alinhar a identidade das marcas com as necessidades digitais e as experiências personalizadas que os clientes esperam cada vez mais.

Para as empresas, sobretudo as de média dimensão, este é um momento decisivo. Muitas destas organizações têm uma herança rica e conexões locais fortes, sendo que, para continuarem a crescer e a prosperar, precisam de abraçar rapidamente o digital. E isto é algo que implica não apenas modernizar a imagem de uma marca ou empresa, mas também a adoção de tecnologias e estratégias que melhorem a interação com os clientes, otimizem processos internos e criem oportunidades de mercado e de crescimento.

Se tivesses 1 milhão de euros para investir numa empresa no próximo ano, qual seria e porquê?

Apontaria o foco para uma organização que, com esse investimento, tivesse o potencial para transformar mercados e comunidades. Porque não uma empresa com raízes locais, mas uma visão global, que esteja comprometida com a transformação digital e com a criação de valor sustentável para clientes, colaboradores e o ambiente?

Imaginemos, por exemplo, uma PME em Portugal que combine tradição com inovação – talvez uma empresa de vinhos que utilize tecnologia para otimizar produção, personalizar experiências de clientes e expandir para mercados internacionais. Ou uma startup tecnológica que esteja a desenvolver soluções baseadas em inteligência artificial para resolver problemas reais, como a eficiência energética ou a inclusão digital.

O “porquê” desta escolha é simples: são as organizações que abraçam o digital e os dados, que têm a capacidade para gerar crescimento económico, fortalecendo também a capacidade de antecipar tendências, melhorar a experiência do cliente e contribuir para um futuro mais conectado e sustentável. Devemos olhar para a inovação e transformação digital não só como necessária para as empresas, mas também para as pessoas e para a sociedade.

Que tipo de posição vai ser mais procurada nas empresas em 2025? E a mais dispensável?

Em 2025, as empresas vão procurar cada vez mais profissionais que saibam aliar competências técnicas à capacidade de liderança e de pensamento estratégico. Acredito que posições relacionadas com a análise de dados, ética em IA e design de experiências personalizadas estejam no topo das prioridades.

Por outro lado, tarefas puramente operacionais e repetitivas, como a inserção manual de dados ou o processamento básico de informações, serão cada vez mais automatizadas. Isto não significa que os profissionais dessas áreas se tornem dispensáveis, mas sim que possam evoluir para funções que exijam maior capacidade de interpretação, supervisão e tomada de decisão.

O futuro do trabalho não é sobre substituir humanos, mas sobre permitir que humanos e agentes de IA trabalhem em conjunto.  Assim, as pessoas podem concentrar-se naquilo que fazem melhor: construção de relações com significado, inovação e liderança. As empresas que abraçarem este equilíbrio entre tecnologia e talento humano estarão mais bem preparadas para prosperar.

Se tivesses de mudar de emprego e indústria em 2025, para qual ias?

Sabendo que a próxima onda da inteligência artificial irá incluir a robótica, a ter de fazê-lo escolheria uma área em que fosse possível convergir inovação tecnológica e impacto positivo nas pessoas. 

A robótica, em particular, não é apenas o futuro, mas também o presente em rápida evolução, estando já a oferecer soluções para desafios complexos em setores como a saúde, a agricultura, a logística e a exploração espacial. É uma indústria com a capacidade para ajudar a moldar um mundo onde máquinas e humanos colaboram de forma harmoniosa, elevando a produtividade e resolvendo problemas de forma mais sustentável.

O ano de 2025 vai ter 8765 horas. Diz-se que para aprender uma skill são necessárias 10.000 horas. Se pudesses escolher uma skill para ter instantaneamente em 2025 qual seria?

Não sei se poderá ser considerada uma ‘skill’, mas vejo como útil a capacidade de compreender e otimizar sistemas de colaboração entre humanos e máquinas. É nesta colaboração que reside o futuro do trabalho e do progresso humano, pelo que além de falarmos na importância de incorporar agentes autónomos de inteligência artificial para assumirem tarefas repetitivas, devemos ter a capacidade para compreender e executar, da melhor forma, sinergias entre o que as pessoas fazem melhor – o trabalho criativo, a empatia e relação humana e a estratégia, com aquilo que as máquinas podem suportar – o processamento de dados, a eficiência e a precisão. Ter a capacidade para orquestrar essa colaboração poderá ser uma competência de extrema importância para se alcançarem resultados. 

Já estreou o segundo episódio da minissérie que produzimos durante a Web Summit. Vê aqui A Nova Vaga de Inovação na Europa”.