Facebook: o início do fim?
por Abílio dos Reis (Texto) | 8 de Fevereiro, 2022
Primeiro, não se vá ao engano: Facebook é uma app, Meta é a empresa que detém a dita app. E na semana passada, a empresa-mãe disto tudo (Instagram e os serviços de mensagens Messenger e WhatsApp), reportou os resultados do quarto trimestre de 2021 e fez saber que navegava por águas por si desconhecidas ao anunciar que, pela primeira vez na sua história, perdeu utilizadores. A notícia, sem surpresa, causou um autêntico tsunami nos mercados.
O que aconteceu:
- Na Meta Platforms, Inc., o ritmo da venda de anúncios abrandou e a revisão das receitas para o primeiro trimestre de 2022 ficou abaixo das expetativas;
- O Facebook perdeu utilizadores diários na América do Norte pela primeira vez em 18 anos;
- Efeito Apple. A mudança das políticas de privacidade no iPhone vai criar um rombo de 10 mil milhões de dólares na venda de ad business só este ano;
- O Facebook está a perder terreno para outras plataformas nos EUA, nomeadamente o TikTok;
- Os mercados não foram na cantiga (do relatório).
Para se ter noção de como as contas do 4.º trimestre foram recebidas pelos mercados, basta ter em mente que originou uma queda de um quarto do seu valor bolsista. Por outras palavras, o preço das ações da Meta caiu mais de 26%, perdendo 230 mil milhões de dólares de capitalização num único dia — um recorde em Wall Street. Adicionalmente, as estimativas para as receitas do atual trimestre ficaram aquém do estimado.
A razão? Existem várias, mas provavelmente porque até agora estávamos cientes de que havia um abrandamento do seu crescimento; não de que já estávamos perante um declínio. Não obstante, apesar de registar menos meio milhão de pessoas de um trimestre para o outro, a Meta frisa que 1,929 mil milhões de pessoas ainda vão à aplicação todos os dias.
Se um tombo de 26% é um dos grandes? Obviamente que sim. Estamos a falar da maior queda em bolsa num só dia (ou como o Expresso bem colocou num dos seus podcasts, a “riqueza portuguesa de um ano perdida pelo Facebook num dia”). Se chega para falar na morte do Facebook? No futuro, talvez; para já, não.
Calma, que ainda dá dinheiro
Apesar do mercado não ficar convencido com as contas da dona do Facebook e de se terem escrito muitos artigos sobre as perdas na última semana, convém não esquecer que pelo meio há reportar receitas de 33,67 mil milhões de dólares (um aumento de 20% face ao período homólogo). Posteriormente, ainda que seja menor do que o esperado pelos analistas, há que dizer também que o lucro por ação foi de 3,67 dólares.
Porém, que estas palavras não desvirtuem o aconteceu: o facto é que as ações da Meta afundaram brutalmente. É verdade que a empresa já tinha tido dias menos felizes e com grandes oscilações, mas este episódio é particularmente problemático. Isto porque, tal como frisa a Protocol, Zuckerberg “precisa de tempo, dinheiro e paciência” para levar a cabo a aposta no metaverso — o que pode vir a ser chato para o criador do Facebook. É que o problema parece estar precisamente aí: na volta não tem a quantidade desejada de nenhum. Pelo menos, da maneira como pensava que se calhar tinha.
(PS: É certo que tem muitos outros milhões guardados, mas Zuck também deverá ter ficado com dores no toutiço ou não tivesse perdido 29 mil milhões no meio deste dia negro na história do Facebook.)
Um futuro não muito otimista?
Nikita Bier (um ex-executivo do Facebook) enfatizou, numa série de publicações no Twitter que se tornaram virais há uns dias, que a empresa está atualmente de mãos atadas atrás das costas. Se é verdade que o crescimento do TikTok pode ajudar a perceber a perda de utilizadores e a desconfiança dos mercados, isto por si só não explica tudo.
Por exemplo, há a questão de que os fundadores estão a optar por não trabalhar diretamente com a Meta (i.e, não conseguem criar novos produtos) e o facto de que a empresa não conseguiu ultrapassar o escrutínio “anti-trust” na compra da Giphy (no Reino Unido a autoridade da Concorrência e Mercados exigiu que o negócio não avançasse por preocupações na área da concorrência da publicidade e monopólio das redes sociais). Por fim, há aquilo que já se escreveu em linhas anteriores deste mesmo texto: a aposta no metaverso só trará frutos nos próximos dez anos e a empresa pode não conseguir esperar pelo futuro da Internet.
Bier, contudo, quis deixar uma coisa bem clara na sua mensagem: na sua opinião, Zuckerberg é o “maior operador” do mundo e o único fundador das apelidadas Big Tech (Amazon, Apple, Google, Microsoft, Meta) que ainda é o “Boss” de serviço, com total controlo do que se faz e passa na empresa. Mais: afirma que, a longo prazo, não aconselha que se aposte contra o homem que há 18 anos criou um monstro capaz de ditar os nossos costumes e rotinas.
Em suma, talvez seja melhor não vaticinar já o Facebook e aguardar mais um pouco para se passar a sua certidão de óbito. Quanto muito, para já, podemos escrever que a rede social que noutros tempos nos ligou a todos… estagnou. Porque há que ter em mente uma coisa: por muita ambição que se tenha, não existem pessoas suficientes no mundo que permitam continuar a crescer para sempre. O que não invalida, claro, que sem uma alteração na política de estratégica dos anúncios, a conversa daqui a uns tempos não seja outra. E com contornos ainda bem mais negros.