Uma viagem pela Web3 à moda do Porto
por Miguel Magalhães (Texto) | 20 de Março, 2023
O ETHPorto contou com mais de 700 participantes numa conferência e hackathon em simultâneo que, durante três dias, trouxeram a indústria blockchain pela primeira vez a uma das maiores cidades em Portugal. O ETHPorto é um evento onde a comunidade local e global reuniu-se para discutir e propor soluções face a diversos desafios tecnológicos, semelhante a outros eventos da comunidade Ethereum realizados um pouco por todo o mundo.
Numa semana em que soaram ecos dos potenciais efeitos do colapso de dois bancos muito ligados ao mundo das startups, quem entrasse no Hardclub, no Porto, ficava com a impressão de que estava tudo bem. No popular espaço de concertos à beira do Douro, decorreu entre os dias 16 e 18 de março a ETH Porto, um evento de web3 com uma ligação particular à Ethereum, a maior rede de blockchain atual.
Nos últimos 5 anos, este tipo de eventos começaram a acontecer em cada vez mais cidades e a reunir cada vez mais pessoas, à medida que o interesse pela indústria foi crescendo, com mais projetos, mais aplicações e mais investidores. Lisboa já tinha recebido e organizado eventos deste género, mas no Porto foi a primeira vez.
Tudo começou com um sonho de Mário Ribeiro Alves, CEO da LayerX e um dos organizadores do evento. “Eu comecei a interessar-me pela Web3 em 2016 e sou um portuense de gema e portanto para mim era muito importante dar a conhecer a minha cidade a outras pessoas. A maior parte do ecossistema web3 internacional já conheceu Lisboa, mas o Porto ainda é desconhecido enquanto hub de web3”, explica.
Circular pelo evento ao longos dos dois primeiros dias era encontrar diferentes áreas com propósitos bem definidos. Logo a seguir à entrada do Hardclub, depois do check-in, foi formado um longo corredor com os parceiros e sponsors do evento disponíveis para conversar com qualquer empreendedor ou empresa à procura de uma oportunidade para colaborar. Eram eles a Fundação Ethereum, a plataforma Gnosis Chain, a Chainlink, a Starkware, a Bison Digital Assets, a Ledger, a Polkamarkets, entre muitos mais, que além de terem esta exposição, também tiveram a oportunidade de se apresentar a mais de 700 pessoas nos painéis que faziam parte da zona de conferências do evento.
ETHPorto versus o resto
Contudo, os temas principais do evento nem passavam pelas introduções destas empresas. 2022 foi um ano particularmente duro para a indústria da web3, com a queda generalizada do mercado e com uma sucessão de casos que prejudicaram a reputação que o setor vinha a construir desde o início da pandemia.
Por isso, na ideação da agenda do evento, Mário Ribeiro Alves e a organização procuraram um equilíbrio entre duas componentes principais:
- Momentos em que pudessem discutir o futuro da indústria: como integrar a próxima geração de utilizadores, como colaborar com instituições públicas, o impacto ambiental da criptoeconomia, como criar uma melhor experiência de utilizadores, que integrações tecnológicas são necessárias.
- Momentos em que pudessem explorar o contexto português: como é que a blockchain está a ser aplicada na agricultura, como é a pesca pode beneficiar com a tecnologia, como é que podemos ter melhor vinho com a blockchain ou, inclusive, como é que podemos ter melhor ciência recorrendo a aplicações web3.
“Eu já estive em vários eventos deste género Ethereum ou não. Já estive nos EUA, já estive um pouco por toda a Europa, já estive na Ásia também. E o objetivo era com base nas diferentes experiências que eu tive construir aquilo que me parecia um evento diferente. Uma das referências que tive foi o ETH Lisbon enquanto hackathon e outra foi o SpaghettETH [esteve presente no evento] que é um evento muito pequeno que aconteceu em Milão no ano passado, e era um evento com 300-400 pessoas só focado em conferências e eu queria trazer essa proximidade.”, acrescenta Mário Alves.
A hackathon, que costuma ser o elemento comum em todos os eventos ETH, foi o fio condutor de todas as dinâmicas, na qual cerca de 300 developers estiveram a trabalhar ao longo de 48 horas em projetos desenvolvidos não só na rede Ethereum, bem como nas plataformas associadas ao evento como a Gnosis Chain e a Chainlink. As melhores equipas tiveram a oportunidade de apresentar a sua solução na cerimónia de encerramento do evento que decorreu no sábado, dia 18, na Casa da Música.
LayerX e o futuro do trabalho
Mário Ribeiro Alves subiu ao palco do Hardclub na sexta-feira para a talk “Future of Employment in Ethereum” com um propósito muito claro: posicionar a sua empresa naquilo que acredita ser o futuro do emprego. Na sua apresentação, explicou que o mercado de trabalho, com o impacto da Revolução Industrial, evolui para algo que em vez de ser baseado na remuneração de tarefas, era baseado (na maior parte dos casos) nas horas que alguém passava a fazer algo, criando horários de trabalho e uma discussão que se alonga há dois séculos sobre a noção de produtividade.
A tecnologia blockchain permite que a noção de tarefas possa novamente ser aplicada a uma série de indústrias, nomeadamente a de desenvolvimento tecnológico, com uma infraestrutura de pagamentos melhor do que existe atualmente. Existem plataformas de freelance como a Fiverr, que tendo uma premissa parecida, oferecem uma série de desafios como a moeda em que o trabalho é pago, a rapidez com que os pagamentos são feitos e a capacidade de construir uma reputação.
Na blockchain é possível desenvolver smart contracts (contratos inteligentes) nos quais a tarefa, a sua finalização e a carteira digital de quem a completou podem estar interligadas fazendo com que toda a operação seja imediata e potencialmente certificada com um NFT (criando reputação). É com soluções neste âmbito que Mário Alves quer posicionar a LayerX (ex- Taikai Labs) que foi a apresentada nas últimas semanas, e que vai integrar as soluções das duas empresas das quais Mário já era CEO – a TAIKAI e a Bepro. A primeira é uma solução para a organização de hackathons e a sua monetização. A segunda é uma plataforma de bounties, nas quais empresas podem publicar uma série de desafios de desenvolvimento tecnológico e recompensar quem os resolve.
“Nós tivemos a validar internamente uma série de caminhos. Era uma empresa com três produtos, mas cujo nome era o nome do primeiro produto, do primeiro bebé. E nós queríamos criar essa dissassociação dos produtos com a empresa porque isso permite-nos caminhar no sentido da descentralização, no sentido de ter um produto completamente governado pela comunidade. E escolhemos uma marca que representasse essa identidade, a LayerX, porque no fundo queremos estar em todas as camadas do mundo web3 e o nome dá-nos essa liberdade de amanhã criarmos um produto completamente diferente”, conclui.