Voltar | Saúde

Estes instrumentos cirúrgicos são “made in Portugal”, mas a patente já está espalhada pelo mundo

por | 6 de Fevereiro, 2018

Estes instrumentos cirúrgicos são “made in Portugal”, mas a patente já está espalhada pelo mundo

Dinis Carmo é um cirurgião ortopedista do Porto. Por vezes, com o decorrer da atividade, há a perceção de que alguns casos seriam tratados de uma forma mais adequada se os instrumentos tivessem certas características. E foi assim que, confrontado com casos de Síndrome do Túnel do Carpo (STC), percebeu que era preciso inovar. Esta doença, chamada já de “doença do século XX”, caracteriza-se por dores, formigueiros e adormecimento a nível do punho, mão e dedos, manifestando-se sobretudo durante a noite, sendo os sintomas suficientemente fortes para despertarem o doente, impedindo o repouso. Afeta, sobretudo, mulheres a partir dos 35 anos de idade e o aumento do número de casos tem sido associado a atividades que implicam o uso repetitivo das mãos, como os teclados e os "ratos" dos computadores.

Com os novos instrumentos e, consequentemente, com a técnica cirúrgica desenvolvida pelo cirurgião Dinis Carmo, a intervenção pode ser realizada sem cortes na palma da mão. A cirurgia torna-se mais segura, o pós-operatório é menos doloroso e a recuperação é mais rápida e com bastantes menos riscos de efeitos secundários. Além disso, a cicatriz que persiste é mínima, quase não deixando perceber que houve de facto um corte no pulso.

Dada a inovação e os contributos para a medicina, estes instrumentos já começam a poder espalhar-se pelo mundo. Este kit de instrumentos cirúrgicos "made in Portugal" está já patenteado no Japão, Austrália, China, Israel, Coreia do Sul, Canadá, México e em 17 países da União Europeia — Áustria, Bélgica, Dinamarca Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Mónaco, Holanda, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Reino Unido. O processo de patente encontra-se ainda "pendente" no Brasil e na Índia.

O caso mais recente é a aprovação da patente nos Estados Unidos, onde “são realizadas anualmente cerca de 500 mil operações à STC. A nível mundial poderemos estar a falar de mais de 6 milhões de operações por ano. Calculando uma taxa de penetração no mercado de apenas 5% sobre metade desse número de operações, após 3 anos de divulgação do produto, poderemos atingir um valor aproximado de vendas na ordem dos 22,5M milhões de euros brutos por ano", explica Dinis Carmo.

"Todo este processo de registo de patentes é bastante desgastante e implica ultrapassar diversos obstáculos e desafios. Além do fator económico, que obrigou a um investimento pessoal que já supera os 200 mil euros, lidei também, desde 2010, com a incerteza permanente quanto ao desfecho do projeto. Para mais, os processos são extremamente burocráticos e complexos — é impossível tratar deste assunto sem a assistência permanente de uma agência especializada, com os custos inerentes", refere o médico.

O cirurgião-ortopedista realça ainda que "as barreiras linguísticas são também um entrave, pois alguns países aceitam a apresentação do processo em inglês, mas em muitos tem de ser traduzido na língua do país de origem, como na China e no Japão, numa linguagem extremamente técnica e minuciosa, ao pormenor da vírgula. Põe-se ainda o problema de nem o perito em patentes ser médico, nem o inventor ser versado nas leis que regulam o processo de patente. É necessário um grande esforço de trabalho de equipa entre o inventor e quem o representa”.

Quanto à produção dos instrumentos, será dada “primazia à produção industrial dos kits de instrumentos cirúrgicos em território nacional”.