Voltar | Empresas

Era um milionário, depois estava falido, depois era um milionário outra vez

por | 11 de Novembro, 2019

Era um milionário, depois estava falido, depois era um milionário outra vez

Bloody week, bad romance
Comecemos pela campanha de Halloween da McDonald’s Portugal com o mote Sundae Bloody Sundae. Sundae, da parte da sobremesa clássica dos restaurantes da cadeia americana. Bloody, da parte “vamos usar uma expressão que meta sangue porque é Halloween”. A soma deu um equívoco dos grandes e provavelmente não saberemos nunca se era mesmo para ser assim ou se o autor da ideia não fazia ideia que existiu um domingo sangrento na Irlanda que foi evocado no “Sunday, bloody sunday” dos U2. A campanha foi retirada e a notícia chegou à BBC.

Mas semana terribili ainda estava no início. No domingo, foi a vez de se saber que o CEO da McDonald’s, Steve Easterbrook, se demitia por causa de um envolvimento amoroso com uma colega de trabalho. Então e o amor? A McDonald’s contrapôs que houve antes “um fraco discernimento”. Era pior dizer que foi um Bad Romance. De regresso à pátria, a McDonald’s, aqui através da Fundação Ronald McDonald, vê o seu nome de novo na berlinda por causa de uma sugestão à sua embaixadora e apresentadora de televisão, Tânia Ribas de Oliveira, para contar a história do casal Cláudia e Cláudio, pais de trigémeos, depois de anos sem conseguirem ser pais. E lá foi o casal e a diretora da Casa Ronald McDonald ao programa A Nossa Tarde da RTP. História bonita, não fosse o caso de vir a público as simpatias nazis do pai das crianças.

Viremos a página agora na multinacional, que sob a liderança de Steve Easterbrook apostou em novas soluções como os quiosques self-service, pagamentos com smartphones e uma parceria com a Uber Eats numa iniciativa batizada como “Experience of the Future”. Já este ano, a McDonald’s comprou a Dynamic Yield, startup de inteligência artificial por 300 milhões de dólares. O futuro continua com Chris Kempczinski.

As empresas já não precisam de diretores de marketing?
Dependendo do momento, dos resultados e do perfil pessoal, pode ser a posição mais cobiçada. Ou, pelo menos, foi durante algumas décadas. Agora, a função de diretor de marketing está, ela própria, em risco, tendo sido extinta de várias empresas que detém marcas sonantes como a Johnson & Johnson, Uber, Lyft, Taco Bell e Hyatt Hotels. Na realidade, a função não desaparece, mas funde-se com outras, nomeadamente a de vendas ou a de distribuição, e traduz-se em novos títulos como “chief growth officer,” “chief experience officer,” ou “chief commercial office”. Sinais dos tempos.

Era um milionário, depois estava falido, depois era um milionário outra vez
Nicolas Gaume anda nisto desde os 19 anos. Já fez nove empresas antes desta de que hoje vos falo – é o que se pode chamar um empreendedor em série ou, se preferirem, serial entrepreneur. “Era um milionário, depois estava falido, depois era um milionário outra vez”. Foi assim que resumiu a sua história ao Quartz. Agora, o empreendedor francês e um sócio, Emmanuel Etcheparre, lançaram a Space Cargo Unlimited, que se propõe fazer pesquisa biológica na órbita terrestre, lançada em 2014. Esta semana que passou, a 2 de novembro, lançaram uma dúzia de garrafas de vinho tinto do melhor, segundo foi revelado, rumo à Estação Espacial Internacional. Enviar vinho não é mera pesquisa – é marketing e é plano de angariação de apoio junto de patronos que estão a apoiar o projeto. No espaço, as garrafas de vinho enfrentam condições diferentes e que serão testadas: em primeiro lugar, estão em ambiente de micro-gravidade, em segundo estão expostas a uma radiação bem maior que na Terra. As duas condições criam um ambiente diferente para o envelhecimento do vinho, uma parte fundamental para as melhores marcas. A experiência não é nova – em 2011, uma empresa americana, a Nanoracks, testou algo idêntico na estação espacial mas com whisky e em dois anos o líquido envelheceu por cinco cá em baixo na Terra.

12 coisas – 12 – que vale a pena saber

  1. O que acontece no teu iPhone fica no teu iPhone
    A privacidade vende? A Apple acredita que sim. E é por isso que a campanha mais recente da marca expõe isso mesmo. “Agora mesmo há mais informação no seu telefone do que em sua casa”. O problema é que é provavelmente verdade.
  2. E ele está de volta.
    O fundador da Uber, Travis Kalanick, afastado da empresa depois de vários episódios, lançou uma nova empresa. Chama-se CloudKitchens e o fundo de investimento público da Arábia Saudita investiu 400 milhões de dólares nela. São cozinhas-fantasma de restaurantes unicamente focadas na entrega de refeições.
  3. Se já são grandes, vão tornar-se maiores.
    Alipay e WeChat Pay, as duas principais apps de pagamento chinesas, vão poder ser usadas em mais lojas nos Estados Unidos e no Canadá. A China diz que não está atrás do mercado local, mas sim dos chineses que visitam estes dois países.
  4. Parceira de si própria.
    Na segunda-feira, dia 11, a Alibaba celebra o “Singles’ Day”, que já não é o dia dos solteiros mas sim o dia das pessoas que são parceiras de si próprias, como definiu a atriz de Harry Potter, Emma Watson. São 24 horas de compras online – no ano passado as vendas atingiram 30 mil milhões de dólares, mais do dobro do valor combinado da cyber monday, black friday e Thanksgiving Day nos Estados Unidos. Este ano esperam-se 37 mil milhões. Uma loucura de compras para quem está solteiro e não só.

    1. Quanto é razoável custar um anel de noivado?
      Mais de metade (58%) das mulheres da geração Z (que nasceu a partir da segunda metade dos anos 90) e 41% das millennials (a imediatamente anterior) acham que deve ser menos de 1.000 dólares. O que pode ajudar a explicar em parte que as vendas de diamantes tenham descido 25% entre 2018 e 2019.
  5. Na China 5G é 50.
    Foram 50 cidades ao mesmo tempo, esta semana, a terem rede 5G na China ficando com uma internet super-rápida. Que preocupa os americanos “Este lançamento mostra a forma como o governo da China está a impulsionar o 5G”, afirmou Paul Scharre, diretor do Programa de Tecnologia e Segurança no Centro para uma Nova Segurança Americana. Por cá, em plena Web Summit, Abraham Liu da Huawei apelou que a Europa tomasse decisões inteligentes no que respeita ao 5G.
  6. Jornalistas ou entertainers?
    Se depender do que ganham não há que hesitar. Os segundos valem mais do que os primeiros se usarmos como medida o caso que opõe a jornalista Samira Ahmed à BBC, estação a que reclama 812 mil euros pelo trabalho que fez em Newswatch, um programa que trata de queixas de espectadores sobre a cobertura noticiosa. Na base da queixa está o facto de, ao lado, um programa de entretenimento da mesma estação, fazer o mesmo tipo de conteúdo, mas em modo mais light com uma diferença: Jeremy Vine, o apresentador, recebia 3.500 euros por 15 minutos de programa; pelos mesmos 15 minutos Samira recebia 510 euros.
  7. Aha.
    Em março, a Coca-Cola vai lançar uma nova marca. Aha. Não é onomatopoeia – é o nome da água gaseificada e a primeira marca lançada pela multinacional em mais de 10 anos.
  8. As lojas estão a mudar, os centros comerciais estão a mudar, os consumidores estão a mudar.
    Se és uma das maiores consultoras do mundo, também mudas. E no caso da McKinsey isso significou abrir uma loja, literalmente. Uma loja do futuro, como lhe chama, no maior centro comercial da América do Norte, o Mall of America, e onde se testam tecnologias, marcas, indicadores. Aqui está ela.
  9. Ora, se a Mckinsey tem uma loja, o CEO da Goldman Sachs, David Solomon, tem uma editora de música, a “Payback Records” (há que apreciar a ironia do nome). Criada em parceria com a Big Beat/Atlantic Records, está orientada para questões de “consciência social”, nomeadamente o problema com a toxicodependência nos Estados Unidos. Falta dizer que o CEO da Goldman Sachs também é o DJ D-Sol e que sim, o mundo ao contrário existe.
  10. Se a Mckinsey tem uma loja e o CEO da Goldman Sachs uma editora de música, uma fintech chamada Robinhood pode perfeitamente ter uma empresa de media, a MarketSnacks, que produz uma newsletter e um podcast. Pode e agora já tem, que os tempos não estão fáceis para o marketing tradicional.
  11. Dormir é muito bom, é muito bom (havia uma música assim quando era miúda). E um mercado que valia 69,5 mil milhões de dólares em 2017 e que se prevê venha a valer mais de 100 mil milhões em 2023. De apps a almofadas, de cobertores a comprimidos, há de tudo. Boa noite, sim?

Desculpa-me. É o emoji que falta (e já há 3019!) e durante este mês as várias propostas estão a votação aqui.

Porque é que ainda não tinha ouvido falar disto?
Ouvi no podcast da Monocle e fiquei a saber que é uma ideia de um português, João Correia, ex-ciclista profissional, que cresceu na América, que voltou a Portugal já crescido, e que fez isto: um projeto para conhecer locais, de bicicleta, comendo e bebendo bem, e que tem o nosso país como um dos seis destinos (Estados Unidos e Itália também estão na lista). Prestem atenção à foto maravilhosa.
Screen Shot 2019-11-09 at 23.48.50

Talvez vá a isto
Já que falamos de tantas misturas, fica esta recomendação: António Maçanita e Rui Vargas são os primeiros convidados do novo projeto Volume que cruza a arte e cultura da música e do vinho. Um enólogo e um DJ à conversa, moderada por Rui Miguel Abreu, jornalista musical e igualmente apaixonado por vinhos.
Local: La Distillerie no Campo de Santa Clara em Lisboa
Preço: 10€ por pessoa, inclui entrada + copo de vinho Bilhetes è venda aqui.

dan-gold-E6HjQaB7UEA-unsplash

Antes de se ir embora
Não há almoços grátis e fomos descobrir porquê. Tudo começou no tempo em que os saloons americanos ofereciam refeições aos “patrões” que lá entrassem e consumissem uma bebida. A ideia era simples: seria mais fácil que continuassem a beber com o estômago forrado e o palato desafiado, e assim o valor da refeição seria compensado no gasto com a bebida. Em 1897, a Raines Law baniu os almoços grátis em Nova Iorque e em 1919 a lei seca pôs fim a essa prática em todo o país. Mas a ideia ficou para nos lembrar de procurar pelos custos escondidos – porque em muitas situações eles estão lá.

Tenham uma boa semana!