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Elon Musk lançou a Grokipedia, uma enciclopédia de inteligência artificial

por Gabriel Lagoa | 29 de Outubro, 2025

Elon Musk apresentou a Grokipedia, uma enciclopédia criada pela sua inteligência artificial para combater o que considera ser o domínio de “ativistas de esquerda” na Wikipedia.

Elon Musk apresentou uma nova enciclopédia online, a Grokipedia, desenvolvida pela sua empresa de inteligência artificial xAI. O projeto, lançado esta semana, pretende ser uma alternativa à Wikipedia, mas escrita inteiramente por inteligência artificial. Segundo Musk, o objetivo é criar uma plataforma que reflita uma visão mais plural do que chama de “meios de comunicação tradicionais”.

De acordo com o The New York Times, a Grokipedia entrou em funcionamento com mais de 800 mil artigos gerados por IA, um número ainda distante dos quase oito milhões de entradas escritas por humanos na Wikipedia. À data de escrita deste artigo, a plataforma conta com cerca de 885 mil artigos. O site, de design simples, apresenta uma barra de pesquisa e um logótipo minimalista.

Página principal da Grokipedia.

Uma enciclopédia escrita pela IA da xAI

Os textos são produzidos pelo Grok, o chatbot da xAI, que Musk já tinha integrado na rede social X (antigo Twitter). A Grokipedia não tem editores humanos, ao contrário da Wikipedia, que depende de voluntários para rever e atualizar os artigos.

A CNN refere que os utilizadores podem apenas enviar feedback caso encontrem erros, mas não editar diretamente as páginas. Numa publicação na plataforma X, Musk descreveu o projeto como “super importante para a civilização” e afirmou que a Grokipedia será “um repositório da verdade, toda a verdade e nada além da verdade”. O empresário disse ainda que planeia gravar cópias da Grokipedia e enviá-las para a órbita da Terra, para a Lua e para Marte.

Alinhamento político e críticas

Segundo o The Guardian, várias das entradas da Grokipedia seguem padrões próximos de narrativas conservadoras. O artigo sobre a invasão do Capitólio, nos EUA, em janeiro de 2021, por exemplo, menciona “amplas alegações de irregularidades eleitorais”, uma formulação que ecoa a versão defendida por Donald Trump e os seus aliados, embora as investigações oficiais tenham desmentido essas alegações.

Outros exemplos citados pelo jornal incluem o texto sobre George Floyd, que se centra no seu registo criminal e nas drogas encontradas no corpo, em contraste com a descrição da Wikipedia, que começa por afirmar que Floyd foi “assassinado por um agente da polícia”.

A versão sobre Elon Musk também difere: a Wikipedia descreve-o como uma figura “polarizadora”, criticada por divulgar desinformação sobre a COVID-19 e promover teorias da conspiração. Já a Grokipedia refere que o empresário “influenciou debates sobre progresso tecnológico e enviesamentos institucionais”, sem mencionar essas críticas.

“A Wikipedia tornou-se um prolongamento da imprensa tradicional”

Musk tem sido um crítico frequente da Wikipedia, que acusa de “ser controlada por ativistas de esquerda”. O The New York Times recorda que o empresário já tinha atacado o site em janeiro, depois de a sua entrada ter sido atualizada para incluir uma fotografia em que levanta o braço direito numa posição que foi comparada a uma saudação nazi.

Na altura, Musk escreveu que “a propaganda dos media tradicionais é considerada uma fonte válida pela Wikipedia, o que a torna uma extensão dessa propaganda”.

A Grokipedia surge assim como parte de um ecossistema mediático alternativo que Musk tem vindo a construir. Desde que comprou o Twitter, rebatizado como X, o empresário tem promovido alterações nas regras de moderação de conteúdo e reabilitado criadores e influenciadores de direita que tinham sido suspensos por discurso de ódio ou desinformação.

Debate sobre controlo da informação

Para Ryan McGrady, investigador da Universidade de Massachusetts citado pelo The New York Times, “o impulso para controlar o conhecimento é tão antigo quanto o próprio conhecimento”. O académico considera que o poder de definir o que é escrito e lido continua a ser uma forma de influência política e cultural.

Jimmy Wales, cofundador da Wikipedia, defende que a enciclopédia mantém políticas rigorosas de neutralidade e que está a reforçar a investigação sobre possíveis enviesamentos. O responsável afirmou que não acredita que a inteligência artificial possa substituir o modelo de revisão humana da Wikipedia, sublinhando que “o valor da enciclopédia é permitir às pessoas verificar as fontes”.

Enquanto isso, a Grokipedia continua a crescer e Musk garante que será atualizada à medida que o Grok evolui. “À medida que o Grok melhora, também a Grokipedia melhorará”, escreveu. O resultado será um novo teste à relação entre tecnologia, poder e verdade num espaço digital cada vez mais moldado por algoritmos.

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