Elon Musk comprou o Twitter. E agora?
por Abílio dos Reis (Texto) | 27 de Abril, 2022
Depois de ter anunciado que “fez uma oferta” e de muito se ter escrito e dito sobre o assunto, eis que a semana arranca com a confirmação de que Elon Musk é oficialmente o “dono” do passarinho azul da Internet.
Falou-se em “aquisição hostil” e contra-atacou-se com “comprimidos envenenados”, mas a realidade é que o homem mais rico do mundo acabou mesmo por comprar o Twitter por 44 mil milhões de dólares (ou 54,20 dólares por ação).
Ou seja, estamos prestes a entrar numa Era em que um dos homens mais influentes da planeta Terra e que meteu um carro no espaço acabou de comprar uma plataforma que permite chegar a milhões de pessoas apenas com a ponta dos dedos.
Mas antes de respondermos ao “e agora?” vale a pena fazer um “como é que chegamos aqui”. Porque muito se passou e não são todos os dias que se testemunha uma compra que funciona como carta branca para conversar com 82 milhões de pessoas (no Twitter, Musk é a oitava pessoa com mais seguidores).
Da oferta à compra
- 4 de abril: Musk anuncia a compra de 9,2% do Twitter e torna-se no maior investidor a título individual da rede social.
- 5 de abril: Apesar de lhe ser oferecida a oportunidade, Musk rejeita fazer parte da administração.
- 14 de abril: Musk anuncia no Twitter que fez uma proposta de 43 mil milhões de dólares para comprar o Twitter (a chamada “aquisição hostil”).
- 15 de abril: A administração do Twitter contra-ataca com “veneno” através da estratégia “poison pill” (o objetivo passa por tornar a empresa-alvo menos atrativa para o comprador).
- 21 de abril: Musk assegura financiamento para a sua proposta de compra, incluindo um empréstimo de 25 mil milhões de dólares (até mesmo o homem mais rico do mundo não tem assim tantos billions à disposição e precisa de pedir uma ajuda).
- 25 de abril: O Twitter aceita a proposta de Musk.
Mas então e… o “veneno”?
- Houve comprimidos de veneno e uma estratégia para lidar com a hostilidade de Musk, mas ao fim do dia o Twitter é um negócio difícil de gerir, dá muitas dores de cabeça e as receitas não satisfazem. Em suma, a administração aceitou a versão dos factos do único interessado com dinheiro e decidiu passar a bola a outro.
- Depois é a tal coisa. Como a primeira mulher de Musk já explicou há mais de uma década em entrevista, por alturas do divórcio de ambos, o sul-africano não é homem de “ouvir um não”. É alguém que insiste e arranja maneira de ter o que quer. E era um pouco claro que Musk queria o seu amado Twitter (para o moldar).
Porquê comprar?
Para “transformar” a rede social. Numa carta enviada a Bret Taylor, presidente do Conselho de Administração do Twitter, Musk fez saber que a “liberdade de expressão é um imperativo social para uma democracia funcional”. Mas chegar à “liberdade de expressão” que pretende perante uma administração é difícil — daí a privatização.
E agora?
Musk já fez saber que quer:
- Reduzir o conteúdo moderado. Ou seja, o Twitter não é sítio para barrar a opinião a ninguém. Segundo o próprio, as normas de uma rede social são boas se “10%” dos radicais de esquerda e de direita estiverem infelizes.
- Acabar com os bots. A fazer jus aos seus tweets está oficialmente declarada guerra aos “spam bots”.
- Autenticar humanos. Musk quer autenticar todos os “utilizadores humanos reais”.
- Tweets longos. Parece que os 240 caracteres não são suficientes em algumas situações e Musk quer arranjar uma nova solução para essas alturas.
- Algoritmo Open Source. No passado, Musk considerou que o algoritmo atual do Twitter é bias. Portanto, quer abrir o código ao mundo (i.e, seja público).
- Botão de edição. É algo que Musk já anda a pedir desde 2019.
Todos falam, todos opinam
Num negócio desta magnitude todos têm algo a dizer. Mas há vozes que fazem mais eco do que outras.
- É o caso da opinião de Jack Dorsey, fundador e criador do Twitter. É que apesar de considerar que, “por princípio”, o Twitter não deve “ter um dono” ou ser controlado por uma só entidade, Dorsey considera que Elon Musk irá “estender a luz da consciência” e que a sua abordagem para criar algo “amplamente inclusivo” e de “máxima confiança” é a correta. E é o único em quem confia para o fazer.
No entanto, há quem veja o outro lado do negócio.
- Um artigo na New Yorker coloca a hipótese de as suas intenções não serem assim tão puras como Musk quer fazer crer.
- Há quem lembre que apesar de ter criado empresas incríveis avaliadas em muitos milhões (dos billions) e de ser o Patrão-Titã de 111 mil pessoas, Musk tem um histórico de promessas que caíram no vazio.
- Há quem escreva que existem muitas questões que ficaram por responder.
- Jeff Bezos aproveitou a ocasião para sugerir se a compra não vai trazer vantagens à China (não esquecer de onde vem muito material para as baterias da Tesla).
O aviso
Elon Musk pode ser o novo dono do Twitter e ter muitos planos para a plataforma, mas isso não quer dizer que tenha a vida facilitada ou menos dores de cabeça que a atual administração. Nem que seja porque vai ter de lidar com várias nuances. Nomeadamente a União Europeia, que, aliás, até já avisou: “aqui há regras”.
E o que diz o homem de quem todos falam?
- Assegura que não está a fazer o negócio por dinheiro e que pretende que os seus piores críticos continuem na plataforma. Afinal, “liberdade de expressão” é isso mesmo.