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Do padel ao mobiliário vintage. As novas apostas do Angels Way

por Gabriel Lagoa | 14 de Outubro, 2025

O fundo de investimento gerido por 436 pequenos investidores aposta em projetos de padel, mobiliário vintage e soft skills.

O Angels Way acaba de fechar mais três investimentos em startups portuguesas. A escolha recaiu sobre a CourtMaster, a Curiouz e a WiseWorld, três projetos que têm em comum o uso de inteligência artificial e a ambição de conquistar mercados fora de Portugal.

Este é o primeiro fundo de investimento gerido em comunidade e regulado pela CMVM. Desde que começou a operar, no início de 2025, já analisou mais de 70 candidaturas e investiu em sete startups. O objetivo passa por aplicar um milhão de euros em 20 projetos nacionais em fase inicial.

“Em apenas 9 meses já alcançámos 7 investimentos, o que demonstra a confiança dos fundadores no nosso modelo e a velocidade com que construímos este ecossistema”, afirma Luís Filipe Gutman, Managing Partner da OW Ventures, a sociedade de capital de risco que criou o Angels Way.

Padel, dados e comunidade

A CourtMaster nasceu para resolver alguns dos problemas do padel, o desporto que mais cresce no mundo neste momento, segundo o comunicado do Angels Way. Os números mostram que há cerca de 30 milhões de praticantes e só em 2024 foram construídos 50 mil campos novos.

Os fundadores, André Croft de Moura, Aliocha Blaise e Francisco Azevedo, identificaram quatro desafios principais: a falta de coaching para amadores, a ausência de estatísticas acessíveis, o aproveitamento insuficiente do lado social do desporto e a dificuldade dos clubes em fidelizar jogadores.

A solução passa por câmaras inteligentes instaladas nos campos que transformam cada jogo em conteúdo. Os jogadores recebem gravações automáticas, highlights das melhores jogadas e estatísticas detalhadas. Os clubes ganham uma ferramenta de marketing e retenção de membros.

Apesar de estar ainda a angariar investimento na ronda pre-seed, a CourtMaster já opera em 11 países, tem o sistema instalado em quase 100 campos e conta com mais de 6 mil jogadores registados.

Vintage com inteligência artificial

A Curiouz fechou com este investimento uma ronda de 536 mil euros. O Angels Way é o primeiro investidor português no projeto, que foi fundado este ano.

A plataforma usa IA para fazer a ponte entre vendedores de mobiliário vintage, compradores e designers de interiores. O objetivo é simples: resolver a fragmentação e a falta de confiança que marcam este mercado.

Os números começam a aparecer. A empresa aproxima-se dos 100 mil euros em vendas, a maior parte no mercado norte-americano. Tem 552 vendedores na rede, 65 mil utilizadores registados e mais de 5 mil produtos listados. Tudo isto em sete meses, desde o lançamento do website em março.

Barbara Neto, CEO da Curiouz, sublinha que o investimento “permite não só garantir capital como também atrair parceiros que acrescentam conhecimento estratégico à empresa.”

O próximo passo acontece em janeiro de 2026, com o lançamento de uma plataforma dedicada a compradores profissionais. A ambição é tornar-se a primeira plataforma B2B exclusiva de mobiliário vintage, com foco inicial na Bélgica, Holanda, Alemanha, Nova Iorque e Los Angeles.

Treinar o lado humano

A WiseWorld foi criada por três jovens iranianos, Fahima Farahi, Sina HN Yazdi e Sohrab Mostaghim, e parte de uma pergunta: o que valoriza os humanos no mercado de trabalho quando a IA substitui cada vez mais tarefas técnicas?

A resposta está nas soft skills, as competências interpessoais que a inteligência artificial dificilmente consegue replicar. A plataforma treina e avalia 44 competências deste tipo, organizadas em seis categorias.

O sistema funciona num mundo virtual onde cada utilizador cria um avatar e interage com personagens de IA em cenários profissionais. Um AI buddy atua como guia, avalia o desempenho e propõe percursos de aprendizagem em áreas como empatia, pensamento crítico ou comunicação.

“Criámos um formador de competências sociais com IA, que liga o crescimento das competências sociais aos KPIs [Key Performance Indicators] empresariais”, explica Fahima Farahi. A startup completa agora a ronda pré-seed e tem como meta angariar 1,5 milhões de euros na próxima ronda.

Uma comunidade de 436 investidores

O Angels Way foi lançado pela Olisipo Way e representa uma experiência de democratização do investimento. O ticket mínimo, ou seja, o que cada pessoa precisava de investir para se tornar membro da comunidade de investidores do Angels Way, foi de 1.200 euros, o que permitiu reunir uma comunidade diversa que inclui fundadores de startups, investidores experientes, mas também engenheiros, médicos, professores e carpinteiros.

Ao contrário dos fundos tradicionais, os investidores participam ativamente na identificação, análise e acompanhamento das startups. Para cada projeto investido, há um grupo de angels alocado que trabalha de perto com os fundadores.

“São três projetos que privilegiam dois aspetos essenciais para a comunidade: a aposta na IA e o potencial de internacionalização”, resume Tocha, Executive Partner da Olisipo Way.

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