Diogo Fabiana: “O tempo que a inteligência artificial nos permite ganhar poderá ser usado para promovermos e praticarmos a empatia”
por The Next Big Idea | 31 de Dezembro, 2024
Desafiámos 10 líderes portugueses a partilhar as suas principais apostas para o próximo ano. “Vinte, Vinte e Cinco” é a nossa nova série de entrevistas com as suas ideias. Diogo Fabiana, Chief Innovation Officer e Partner na Idea Spaces, dá destaque à gestão do elemento humano com a inteligência artificial, ao rebranding de duas importantes redes sociais e ainda a uma aposta crescente que podia ser feita na educação ligada a empreendedorismo.
Uma coisa que vamos deixar de fazer na rotina devido à IA em 2025?
Acredito que em 2025 a inteligência artificial vai permitir-nos reduzir bastante tempo na triagem, organização e classificação de tarefas administrativas, como e-mails, organização de agenda, entre outros. Além disso, será uma presença assídua em situações de suporte, contact center, resolução de problemas técnicos básicos e claro, indispensável para um melhor equilíbrio entre a vida pessoal, social e profissional.
Graças a esta ferramenta, acredito que conseguiremos ter um acesso ainda mais rápido e mais consolidado a dados que nos permitam economizar tempo e ter um fluxo de trabalho mais criativo e constante, tendo isto um impacto positivo em decisões estratégicas. Neste sentido, o tempo que a inteligência artificial nos permite ganhar poderá ser usado para promovermos e praticarmos a empatia, através de, por exemplo, um maior investimento em atividades humanas e relacionais, procurando relações mais sólidas e duradouras seja ao nível pessoal (cultura empresarial) e profissional (clientes e outros stakeholders). Por fim, a IA vai ainda reduzir o esforço humano no que toca à personalização e automação e, abrindo esta caixa de pandora, acredito que haverá lugar para mais empreendorismo e inovação, uma vez que será ainda mais fácil lançar novos produtos e serviços e canalizar mais tempo para apostar em estratégias criativas.
Que marca precisava de um rebranding em 2025?
É um desafio escolher apenas uma marca, mas diria que a Meta deveria apostar num rebranding. Existe uma desconexão crescente com o público, nomeadamente no que toca ao Facebook devido aos inúmeros problemas que se têm registado a nível ético e de privacidade. Desta forma, a marca precisa de reconquistar os utilizadores apostando na empatia e tendo em consideração preocupações sobre o bem-estar e saúde mental dos seus membros. A plataforma X também é um exemplo que enquadro nesta questão, pois desde a aquisição do antigo Twitter houve uma perda significativa de identidade e de propósito, pelo que arrisco a dizer que não me parece que esta plataforma vá continuar a existir, pelo menos como a conhecemos, em 2025.
Ao nível nacional, escolheria uma das marcas mais reconhecidas no nosso país: a companhia aérea TAP. Com todas as polémicas que existiram num passado recente, apostaria num rebranding focado em resgatar esta marca tão portuguesa, apostando em inovação, humanidade, sustentabilidade, e claro, numa abordagem empática com os passageiros, melhorando a sua imagem, credibilidade e aumentando a confiança perante o público em geral.
Se tivesses 1 milhão de euros para investir numa empresa no próximo ano, qual seria e porquê?
Se fizesse um investimento deste género, diria que o faria numa startup com foco na saúde mental baseada em inteligência artificial ou em biotecnologia. A saúde emocional é um tema cada vez mais central nas nossas vidas pessoais e profissionais e as soluções tecnológicas que permitem antecipar, identificar e oferecer intervenções personalizadas têm um potencial transformador a vários níveis.
O impacto social destes projetos seria significativo, pois poderíamos oferecer soluções em tempo real e personalizadas de forma a melhorar a qualidade de vida das pessoas, tendo sempre em conta o seu contexto.
Que tipo de posição vai ser mais procurada nas empresas em 2025? E a mais dispensável?
Se me tivessem feito esta pergunta há uns meses, diria que o futuro passaria por IA prompt copywriting. Contudo, atualmente, destacaria todas as posições que integram tecnologia e sensibilidade humana, como especialistas em inteligência artificial que têm como bases valores éticos e criativos, pois as empresas precisarão de pessoas capazes de usar a tecnologia de forma responsável, procurando uma relação emocional com os seus colaboradores. Este aspeto terá impacto na aquisição e retenção de talento, mas também na relação com eventuais clientes, proporcionando uma experiência cada vez mais personalizada, relevante, empática e autónoma.
Por outro lado, as posições administrativas tendem a desaparecer ou, pelo menos, a tornarem-se menos cruciais, pelo que será interessante observar como é que estes serviços serão passíveis de serem substituídos por tecnologia e IA.
Se tivesses de mudar de emprego e indústria em 2025, para qual ias?
Há mais de 15 anos que não tenho um emprego tradicional. Contudo, nessa situação, gostaria de apostar numa mudança para o setor da educação, tendo como referência a Brave Generation Academy do Tim Vieira, pois gostaria de estar envolvido numa educação baseada em empreendedorismo, inovação, tecnologia e empatia.
Além disso, este é um mercado em crescimento e que devido às alterações tecnológicas e sociais requer uma mudança profunda que, a meu ver, devia passar pela criação de um modelo de aprendizagem mais acessível, dinâmico e adaptado às necessidades emocionais de cada aluno.
O ano de 2025 vai ter 8765 horas. Diz-se que para aprender uma skill são necessárias 10.000 horas. Se pudesses escolher uma skill para ter instantaneamente em 2025 qual seria?
A minha resposta será um pouco “cliché”, mas apostaria na capacidade de dominar de forma avançada a programação de inteligência artificial e machine learning, pois acredito que é uma skill que nos permite estar na frente no que toca à inovação, e necessária para combinar empatia e tecnologia, algo que defendo há vários anos. Mais do que ter um impacto no mercado e no mundo dos negócios, conseguiria transformar a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.