Da indústria naval às startups: como Almada virou a página para a inovação
por The Next Big Idea | 26 de Julho, 2025
No novo episódio da série The Next Big Idea, exploramos a cidade que saiu da crise naval para se afirmar na inovação com startups que já fazem negócios pelo mundo fora.
Almada tem 70 quilómetros quadrados, 180 mil habitantes e uma missão: afirmar-se na inovação portuguesa. A cidade que durante décadas viveu, em parte, da indústria naval decidiu virar a página e apostar na tecnologia. É sobre esta transformação que falamos no episódio desta semana.
A mudança começou nos anos 80, quando a crise da reparação naval obrigou o município a procurar alternativas. Quem o diz é Alcino Pascoal, Gestor de Projeto Sénior do Madan Parque, que acrescenta que a solução passou por criar condições para que a investigação aplicada se transformasse em negócios. Anos mais tarde, nasceu o Madan Parque, uma das incubadoras mais antigas do país, que já gerou mais de 15 milhões de euros em volume de negócios.
“O município queria estimular a investigação aplicada e criar emprego qualificado no território”, explica Alcino Pascoal. A proximidade à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa tornou-se uma vantagem competitiva que as empresas aproveitam.
Eduardo Dias, cofundador da Magycal, uma scaleup incubada no Madan Parque, confirma essa mais-valia: “A universidade dá-nos tanto investigação como recursos humanos. Conseguimos recrutar pessoas com formação sólida.” A empresa desenvolve soluções de televisão interativa e a ideia inicial surgiu em 2010, quando Eduardo Dias trabalhou com Cristiano Ronaldo numa iniciativa para criar proximidade entre o jogador e os fãs através de um produto digital.
A cidade não parou por aí. No final de 2024, inaugurou o INOVA Quality Hub, uma incubadora focada na qualidade, digitalização e sustentabilidade. João Pimentel, presidente do Instituto Português da Qualidade, identifica uma lacuna no mercado: “Faltava uma referência à qualidade no ecossistema do empreendedorismo português.”
A Complear Health escolheu esta incubadora pela rede de contactos internacionais. A startup de compliance de dispositivos médicos trabalha remotamente, mas encontrou em Almada um espaço para a equipa se reunir. “É uma localização excelente para quem está a lançar uma empresa”, diz Miguel Amador, Diretor de Inovação.
A receita de Almada inclui ingredientes tentadores: 10 minutos do centro de Lisboa, cinco minutos da praia, uma universidade tecnológica de referência e custos mais baixos que a capital. Mas falta algo mais.
“O que falta à Almada é ter uma Critical Software”, refere Eduardo Dias, referindo-se à empresa que colocou Coimbra no mapa tecnológico mundial. João Pimentel tem uma visão diferente: “Há investimento, há dinâmicas, há visão política. Falta sobretudo tempo.”
As dezenas de startups incubadas na cidade trabalham em soluções que vão da saúde à tecnologia. Almada quer provar que pode ser mais do que a cidade que se vê de Lisboa.