Cristiano Ronaldo investe no grupo Vista Alegre. Quais os próximos passos?
por Gabriel Lagoa | 18 de Junho, 2024
O capitão da seleção portuguesa justifica o investimento com a admiração que sempre teve pela Vista Alegre e Bordallo Pinheiro. Já a dona das marcas portuguesas fala numa ligação histórica ao futebol.
Numa altura em que se assinalam os 200 anos da marca Vista Alegre, Cristiano Ronaldo somou mais um investimento com a compra de 10% do capital da Vista Alegre Atlantis. Ou seja, comprou parte de duas marcas de renome internacional: Vista Alegre e Bordallo Pinheiro. O investimento está avaliado em cerca de 17 milhões de euros, considerando o preço de fecho das ações a 14 de junho. Mas o que leva o jogador português a estrear-se em investimentos na área da indústria, e, em particular, na Vista Alegre? Ao que tudo indica, foi amor à primeira vista.
No comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a marca fundada em 1894, em Ílhavo, explica que a ligação da Vista Alegre ao futebol vem de longe, pois “a família Pinto Basto (fundadora da Vista Alegre) teve um papel fundamental na sua introdução em Portugal, tendo sido os bisnetos do fundador que, em 1886, trouxeram para Portugal a primeira bola de futebol e que, a 22 de janeiro de 1889, organizaram o primeiro jogo oficial que ocorreu nos terrenos da atual Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa”.
No mesmo documento, Fernando Campos Nunes, fundador e acionista do Grupo Visabeira (detentor do controlo da empresa de louças e cristal) adianta que “é com grande entusiasmo que recebemos o Cristiano Ronaldo como nosso investidor, representando este momento, a união de duas das mais relevantes e unânimes marcas portuguesas”.
O entusiasmo da empresa é correspondido. Cristiano Ronaldo não esconde que a Vista Alegre e a Bordallo Pinheiro são marcas pelas quais sempre teve uma grande admiração e das quais é cliente assíduo. Diz sentir-se orgulhoso, enquanto português, por ter a possibilidade de apoiar a estratégia da Vista Alegre como marca de lifestyle de luxo. “Faremos juntos tudo o que estiver ao nosso alcance para promover este ícone nacional de excelência e colocá-lo no patamar das melhores marcas do mundo”, remata.
Qual é a tática da marca e do jogador?
Ao longo do seu percurso, a marca esteve sempre associada à história e à vida cultural portuguesa. Em 2001, o Grupo Vista Alegre (porcelana, faiança e grés) fundiu-se com o Grupo Atlantis (cristal e vidro feitos à mão), dando origem a um dos maiores grupos de “tableware” e “giftware” da Europa: o Grupo Vista Alegre Atlantis. Em 2009, o Grupo Vista Alegre Atlantis passou a integrar o portefólio de marcas do Grupo Visabeira, após a oferta pública lançada com sucesso sobre as ações da Vista Alegre Atlantis.
Agora, esta parceria entre Cristiano Ronaldo e o grupo Vista Alegre prevê a criação de uma empresa conjunta, detida em 50% por cada investidor, para os mercados do Médio Oriente e Ásia. O objetivo é expandir as marcas Vista Alegre e Bordallo Pinheiro naquelas geografias. A colaboração tira proveito da proximidade de Cristiano Ronaldo com países como a Arábia Saudita, onde joga atualmente, ao serviço do Al-Nassr, e permite acelerar o processo de expansão global das marcas no segmento de prestígio/luxo em vários mercados internacionais, tanto no retalho como na hotelaria premium.
A Vista Alegre assinala ainda os dois séculos de história com uma série de eventos e ações em Portugal e noutros mercados, incluindo uma oferta pública de subscrição, exposições, publicações e lançamentos de peças em colaboração com artistas e designers portugueses.
Em 2023, o grupo Vista Alegre faturou quase 130 milhões de euros, uma redução de quase 10% face a 2022. Os mercados internacionais representam 70% das vendas, com destaque para a Europa, Estados Unidos e Brasil. As notícias desta compra por parte do internacional português levaram a uma valorização de 10% do grupo Vista Alegre na bolsa de Lisboa, esta segunda-feira.
Investimentos um pouco por todo o lado
Além da indústria, os investimentos do jogador de 39 anos incluem negócios no turismo, imobiliário, moda, estética, águas, no setor financeiro e nos media. Em maio deste ano, tornou-se embaixador e investidor da Whoop, uma empresa americana de performance desportiva que, de acordo com o ECO, desde 2012 angariou mais de 400 milhões de dólares de venture capital.
No ano passado, a Cofina Media (agora Medialivre), dona do Correio da Manhã e da CMTV, foi vendida à Expressão Livre, que conta com investidores como Cristiano Ronaldo. Foi também em 2023, que o jogador adquiriu uma participação na Chrono24, uma plataforma de vendas online de relógios de luxo avaliada em mais de mil milhões de dólares.
Já em 2021, o madeirense entrou no capital da Insparya, grupo que se dedica à área da saúde, nomeadamente aos transplantes capilares.
Outro dos negócios mais conhecidos do capitão da seleção nacional aconteceu em 2016, quando foi anunciada uma ‘joint venture’ de 75 milhões de euros entre o grupo Pestana e Cristiano Ronaldo para a construção de hotéis no Funchal, Lisboa, Madrid e Nova Iorque e a criação da marca Pestana CR7 Lifestyle Hotels.
Cerca de dois anos depois, o CR7 Pestana chegou a Marrocos e a sua expansão não fica por aqui, estando a nascer uma unidade em Paris, num investimento de mais de 60 milhões de euros.
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