Como foram os últimos meses das startups europeias?
por Gabriel Lagoa | 9 de Outubro, 2025
Apesar de a entrada em bolsa da Klarna ter dominado as manchetes, o verdadeiro dinamismo do ecossistema europeu está nas fases iniciais. No terceiro trimestre do ano, as startups da Europa captaram 13,1 mil milhões de dólares.
O terceiro trimestre de 2025 trouxe sinais mistos para o ecossistema de startups europeu. O grande destaque foi a entrada em bolsa da sueca Klarna, mas os números da Crunchbase mostram que o verdadeiro motor da resiliência europeia está a surgir mais cedo no ciclo de investimento: nas rondas seed e de early stage.
De acordo com dados da plataforma, as startups europeias captaram 13,1 mil milhões de dólares em mais de mil negócios no terceiro trimestre. O montante manteve-se estável face ao trimestre anterior, mas representa uma subida de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. A fase inicial do investimento (série A e série B) representou cerca de 60% do total, impulsionada sobretudo por projetos em deep tech, biotecnologia e aplicações de inteligência artificial.
O regresso da Klarna e as grandes aquisições
A Klarna, sediada em Estocolmo e conhecida pelas suas soluções de Buy Now, Pay Later, fez a sua entrada em bolsa, num dos momentos mais antecipados do investimento europeu recente, ao entrar na Bolsa de Nova Iorque com uma avaliação de 15,1 mil milhões de dólares. Apesar de representar uma valorização face aos 6,7 mil milhões de 2022, o valor ficou ainda longe do pico de 45,5 mil milhões atingido em 2021.
Além da Klarna, cinco startups europeias foram adquiridas por valores próximos ou superiores a mil milhões de dólares. Entre elas, a Sana (plataforma sueca de gestão de conhecimento empresarial, comprada pela Workday) e a Cognigy (plataforma alemã de IA conversacional, adquirida pela Nice Systems). Outras aquisições relevantes envolveram as empresas Vicebio e OrganOx, ambas do setor da saúde, e a Calastone, na área de gestão de ativos.
A aposta em Inteligência Artificial
A IA foi continua a ser o principal motor do trimestre. Quase 40% de todo o investimento europeu foi canalizado para startups de inteligência artificial, num total de 5,2 mil milhões de dólares, mais do que o dobro dos 2 mil milhões registados no mesmo período de 2024.
Os maiores financiamentos vieram da Mistral AI (Paris), que levantou 2 mil milhões de dólares, e da Nscale (Londres), especializada em centros de dados e cloud, que captou 1,1 mil milhões. Outras rondas relevantes incluíram a Lovable (Suécia, programação com IA), a Xelix (Londres, pagamentos empresariais) e a Auterion (Suíça, drones e robótica).
Europa resiliente, mas ainda atrás dos EUA
Enquanto a América do Norte concentrou 68% do financiamento global no terceiro trimestre, com dois terços dirigidos a grandes rondas de IA acima dos 500 milhões de dólares, a Europa manteve uma trajetória mais estável. O continente continua a gerar um número significativo de startups sólidas em fases iniciais e quatro das nove aquisições globais acima de mil milhões de dólares no trimestre tiveram origem europeia.
A dúvida, como questiona a Crunchbase, é saber se esta consistência conseguirá traduzir-se em novos “unicórnios” de escala global, à imagem da Klarna, ou se o continente continuará a reforçar o seu papel como berço de inovação em fases precoces.
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