Como fazer as startups subir com a maré
por The Next Big Idea | 9 de Novembro, 2022
As grandes tecnológicas e os investidores são pilares no desenvolvimento de um ecossistema de startups em qualquer parte do mundo e Portugal não é, naturalmente, exceção. Google e Shilling partilham a visão de como vêem o próximo ciclo económico e o impacto que terá nas startups.
Menos dinheiro disponível, maior exigência na avaliação de investimentos e maior necessidade de apoios laterais, não apenas financeiros, mas também de escala e de mentoria. Este é sumariamente o cenário previsível para o ano de 2023 no que respeita às startups. Um “momento” que se tem vindo a desenhar há vários meses e que obriga empreendedores e investidores a ajustarem modelos de atuação.
“A única certeza que temos em tempos de incerteza económica é que o digital vai continuar a crescer e isso quer dizer que há uma oportunidade para se criarem produtos e serviços que ajudem as pessoas a responder e a sobreviver a essa incerteza”. Para Bernardo Correia, Country Manager do Google em Portugal, esta é a premissa também no que respeita ao apoio que a empresa que lidera pode dar ao ecossistema português.
“O conceito de como o Google trabalha com as startups — e não só — é o mesmo de uma maré: quando a maré sobre, todos os barcos sobem. E o nosso propósito é ajudar a subir a maré”.
Para a Shilling, o desafio é semelhante, mas com um contexto de maior seletividade na entrada de novos projetos e de apoio aos já investidos para conseguirem atravessar a conjetura atual.
“Nós somos como uma startup, também temos investidores a quem temos de prestar contas”, explica Hugo Gonçalves Pereira, Managing Partner da empresa. “Se por vezes somos duros com os empreendedores não é para os prejudicar, mas porque estamos a atuar em nome das pessoas que nos confiaram o seu dinheiro, alguns são fundos de pensões ou seguradoras. Não podemos voltar a eles passados uns anos e dizer que perdemos o dinheiro, porque não fizemos bem o trabalho de casa”.
Fazer o trabalho de casa é não só avaliar mercado, produto e equipa, mas também ajudar as startups a crescer. No caso da Google, esse trabalho é feito através de programas como o Startup Growth Lab.
“A intenção era trabalhar com algumas das startups portuguesas mais ambiciosas no que toca a crescimento e fornecer-lhes alguma da nossa própria experiência sobre o que quer dizer fazer aquela curva quase em J, quase uma rampa de lançamento de uma startup em fase de early stage para uma etapa muito mais avançada”, explica Bernardo Correia.
Outro programa promovido em Portugal foi o Startup School, orientado para empresas no início de atividade, e que contou com mais de 100 startups e mais de 1000 pessoas inscritas.
Em 2010, não haviam startups em Portugal
“A Shilling começou em 2010, depois de eu ter regressado do Reino Unido onde estive durante cinco anos a investir em fundos de venture capital. Durante esse período, vinha a Portugal e não conseguia perceber porque é que não havia tantas startups em Portugal. E aos poucos fui percebendo que o problema era o capital, porque o talento não conhece fronteiras, não conhece nacionalidades, mas precisa de capital para florescer”, explica Hugo Gonçalves Pereira.
O mundo do empreendedorismo mudou numa década, mas os desafios de investimento é hoje mais crítico do que nunca. “Costumo dar um exemplo que no primeiro ano que a Shilling começou a operar vimos 50 startups; hoje acho que vimos 50 startups por cada duas semanas”, exemplifica ainda o representante.
Há quem diga que a Web Summit é uma espécie de Natal das startups, em que todos se reúnem. O evento funciona como palco global para apresentar projetos, encontrar parceiros e conhecer pessoas. Essa é, para o partner da Shilling, uma das principais vantagens competitivas, a de “colocar Portugal no mapa-mundo da inovação”.
Esta foi a primeira edição da Web Summit em que palavras como crise e despedimentos fizeram parte das conversas em palco e fora dele. O que, mesmo num setor como o do empreendedorismo tecnológico em que o falhanço de startups é mais comum do que invulgar, trouxe para a agenda cenários menos auspiciosos.
Hugo Gonçalves Pereira corrobora o cenário mais restritivo, mas com uma nota positiva. “Vai haver um período que vai ser mais difícil levantar investimento e em que os investidores vão ser mais seletivos e exigentes em matéria de qualidade. Mas, no final do dia, para as empresas excecionais, o capital aparece sempre”.
Bernardo Correia acredita que a natureza do mercado português será uma força adicional para as startups nacionais. “Adoro olhar para as startups portuguesas e pensar que a maior parte delas está imediatamente a pensar de forma global”. E essa é, mais que nunca, uma condição de sobrevivência.
É também neste cenário que Google, Shilling e The Next Big Idea juntaram esforços para apoiar novas startups, quer através do Prémio Únicos, quer através do acesso a informação sobre as áreas-chave na gestão de uma startup através da produção de um conjunto de masterclasses.
“A história que uma startup mais tem para partilhar é como aprendeu com os falhanços e quando as partilham estão a aumentar dez vezes as probabilidades das startups que as ouçam de sobreviver”, sublinha Bernardo Correia.