Com a Sensei, as câmaras veem dados e nunca imagens
Quem gere um negócio retalhista sabe a dificuldade que existe em aceder a dados sobre o que se passa dentro das lojas. É para combater esse problema que surge a Sensei, uma empresa portuguesa que “traz visão aos computadores”.
“A Sensei foi criada para preservar algo especial, a experiência de comprar em loja”, explica Vasco Portugal, CEO e cofundador do projeto. “É uma coisa que deve ser preservada e que faz com que 90% dos consumidores prefira ir às lojas físicas. O que nós estamos a fazer é, precisamente, preencher este intervalo. Pegamos na eficiência que encontra numa plataforma digital e aplicamos nos retalhos tradicionais”.
“O que nós fazemos é tornar câmaras de vigilância ou qualquer tipo de câmara num potente sensor. A nossa missão é ensinar os computadores a verem o mundo, percebê-lo e extrair informação do mesmo. As câmaras são o veículo perfeito para este contexto, já que veem para além da presença de um objeto: conseguem perceber o que é, a dimensão, a cor, a posição. Por isso, há imensa informação que pode ser retirada do conceito de um sensor como uma câmara”, afirma.
Com estas câmaras, “os retalhistas podem saber tudo o que está a acontecer nas suas lojas. Por exemplo, os percursos dos clientes, padrões de tráfego na loja, os tipos de interações que os clientes têm nas lojas, o que preferem. Pode perceber-se quais são as tendências, se se tem os produtos certos, o preço certo ou se é preciso ajustar informação. Captamos todas estas coisas e podemos comunicá-las em tempo real, para que se possa agir imediatamente, criando estratégias para um melhor engajamento, percebendo melhor estes padrões de comportamento e aumentando a lealdade do cliente, bem como a melhoria do tempo passado em loja”.
A instalação do material é bastante simples, uma vez que pode ser feita no período da noite, enquanto as lojas estão encerradas. Além disso, os custos são reduzidos porque não é necessário comprar todo o material. “Inserimos os nossos algoritmos [nas câmaras de segurança] e, sem perder mais tempo, tornamos a própria loja inteligente, capaz de perceber tudo o que acontece”, diz Vasco.
Os clientes, esses, “todos os dias contam pequenas histórias sobre as suas preferências”.
Mas há que ir mais longe e, para isso, a Sensei começou a desenvolver outra tecnologia, em parceria com o hipermercado alemão Real.
“Começámos a trabalhar com câmaras de vigilância para entender tudo o que os clientes fazem nas lojas, mas agora fomos mais fundo. Desenvolvemos um ‘plug&play’ em que a câmara é um sensor que se instala nas estantes e recolhe todas as informações sobre os produtos que ali estão. Com isto, pode-se visualizar em tempo real cada produto em cada loja e perceber se [as prateleiras] estão vazias, se a distribuição nas estantes [dos produtos] está bem e todas as interações entre os clientes e os produtos nas lojas”, refere Vasco. E apenas esta pequena mudança pode permitir às grandes cadeias um ganho de 1 milhão de euros no final de cada ano, por loja, estima.
Contudo, como é que estas câmaras de vigilância recolhem dados sem quebrar as regras de privacidade? Com a Sensei, as imagens transformam-se em números. “Uma das maiores preocupações que tivemos desde o início foi a privacidade. Por isso, construímos a nossa tecnologia de modo a tirar dados de identidade do vídeo e torná-lo em informação anónima. Portanto, nós não capturamos a imagem de ninguém e nunca chegamos a ver qualquer tipo de vídeo. O vídeo é processado localmente nas lojas e é transformado imediatamente em dados. As pessoas e os produtos acabam por ser só números, é tudo informação”, diz.
Até ao momento, já são duas as grandes cadeias de supermercados europeus a investir na empresa, que pretende revolucionar a forma como se acede a dados para os negócios. “Acredito realmente que aquilo que estamos a fazer é algo extraordinário. É claro que todas as startups vão dizer o mesmo, mas eu acredito que aquilo que estamos a fazer resolve um grande problema. Quanto mais conheço o retalho, mais percebo os problemas que a Sensei pode ajudar a resolver”, remata Vasco.