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Coldplay mostram que a música também pode ser sustentável

por Gabriel Lagoa | 26 de Junho, 2024

Além da banda britânica, também grupos como os Massive Attack ou The 1975 querem poluir menos e reforçar o compromisso com a luta contra as alterações climáticas. Nem os vinis escapam às mudanças em nome do ambiente.

A sustentabilidade está a ganhar um papel de destaque na música. Artistas e bandas que pisam palcos de todos os cantos do mundo afinam os instrumentos não apenas para entreter quem ouve, mas também para preservar o planeta. Numa altura em que as alterações climáticas são já uma preocupação à escala global, a indústria da música quer puxar o travão à pegada de carbono e exemplo disso são as digressões com menos emissões, ou, o uso de copos reutilizáveis durante os concertos. Certo é que há artistas que estão a usar a sua influência para promover práticas mais ecológicas. 

Uma das bandas que trazem o tema da sustentabilidade à ordem do dia são os Coldplay, que este mês anunciaram que tinham reduzido a pegada de carbono da digressão “Music of the Spheres” em 59%, face à tour anterior “Head Full of Dreams” 2016-17. O plano foi traçado em 2021 e a meta era cortar para metade as emissões de CO2 que resultam da digressão, mas o grupo conseguiu ir além dos seus objetivos. 

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Que plano é este? São 12 medidas que passam, por exemplo, por uma redução das viagens de avião, uma iluminação mais eficiente nos concertos, a construção dos cenários com materiais sustentáveis, ou o uso de uma pista de dança cinética. Numa entrevista à BBC, em 2021, Chris Martin, vocalista dos Coldplay, explicou que pista era esta: “Quando eles [público] se movimentam, dão energia ao espetáculo. E nós temos bicicletas que fazem a mesma coisa. Quanto mais as pessoas se mexem, mais elas ajudam. Sabem quando os vocalistas pedem para saltarem? Quando eu disser isso, vou precisar mesmo que saltem. Se não o fizerem, as luzes vão apagar-se”. 

De acordo com a banda britânica, até junho deste ano foram também plantadas mais de sete milhões de árvores, uma por cada bilhete vendido para os concertos. Na página oficial, os Coldplay revelam ainda que a taxa média de devolução das pulseiras de LED está nos 86% e que mais de 9.600 refeições e 90kg de produtos do catering da tour foram doados aos desalojados. O grupo disponibiliza ainda uma aplicação em que os fãs podem medir a sua pegada de carbono e escolher as formas de transporte mais sustentáveis para assistir aos concertos. 

Apesar destes esforços pela sustentabilidade, nas redes sociais os Coldplay afirmam que “como banda e como indústria, estamos muito longe de onde precisamos de estar”. Ainda assim, agradecem a ajuda de todos os que participam nesta missão. 

Sustentabilidade até no vinil

A artista norte-americana Billie Eilish, que há muito se dedica à defesa do clima, lançou, em maio deste ano, o álbum “Hit Me Hard And Soft” com a sustentabilidade em destaque. A cantora quis reforçar o compromisso com o ambiente e lançar o álbum em vinil reciclado e ecológico, sendo que todas as embalagens também são feitas de materiais reciclados. De acordo com a página da artista, “estas peças são recicladas e reutilizadas para a produção de futuros discos; portanto, cada disco será único e terá um aspeto diferente do anterior”. 

Por exemplo, há versões do novo álbum em BioVinyl, que, segundo a artista, ajuda a reduzir as emissões de carbono em 90% face ao vinil tradicional, dado que o petróleo que era anteriormente necessário é aqui substituído pela reciclagem de óleo alimentar usado ou de gases residuais industriais. Esta decisão da cantora norte-americana pode ter servido de exemplo para os Coldplay, que também anunciaram que os vinis do novo álbum “Moon Music” vão ser feitos a partir de garrafas de plástico recicladas. 

Mesmo quando está longe do microfone, Billie Eilish continua empenhada na luta contra as alterações climáticas. Em 2022, a artista trabalhou com a Nike para redesenhar as sapatilhas Air Force 1, de forma a serem mais sustentáveis. 

Massive Attack

Em 2019, os Massive Attack anunciaram que queriam ajudar a reduzir a pegada de carbono da indústria da música e aliaram-se a especialistas do Tyndall Centre for Climate Change Research, um centro de investigação da Universidade de Manchester. O objetivo era mapear as emissões de carbono produzidas nas digressões e divulgar os resultados junto de promotores, na esperança de provocar “mudanças sísmicas”. O estudo analisou as principais áreas-chave de produção de CO2 no mundo da música: viagens das bandas e da produção, meios de transporte usados pelo público e recursos gastos no local dos eventos. 

Já no final ano passado, os Massive Attack anunciaram que estavam a planear um festival de um dia, em agosto deste ano, que será alimentado a 100% por energia renovável e que funcionará como um “protótipo para a indústria da música”, que, na opinião da banda, está muito atrasada em relação às questões da sustentabilidade. 

The 1975

Em fevereiro deste ano, na arena O2, em Londres, os The 1975 quiseram provar que era possível realizar o primeiro concerto livre de carbono. Para isso, foi calculada uma estimativa das emissões produzidas pelas viagens da banda, pelo catering e pela deslocação dos fãs para assistirem ao concerto. Ao todo, os operadores da arena O2 afirmam que foram extraídas mais de 500 toneladas de carbono durante as quatro datas do grupo, em Londres. 

Antes, a banda colaborou também com Greta Thunberg, em 2019, num tema em que a ativista pelo clima reforça que “estamos no início de uma crise climática e ecológica e necessitamos de chamá-la pelo seu nome — uma emergência”. A sueca fala também na necessidade de mudar as regras que regem os sistemas atuais, porque “não há áreas cinzentas quando se trata de sobreviver”. As receitas do álbum “Notes on a Conditional Form” reverteram a favor do movimento social Extinction Rebellion, que procura influenciar o Governo do Reino Unido e as políticas ambientais globais.

Uma indústria da música mais consciente

Os esforços de nomes como Billie Eilish, Coldplay, The 1975 e Massive Attack para reduzir as emissões de carbono representam uma vontade de mudança na indústria da música. Estas iniciativas estabelecem novos padrões, quer para a realização de concertos, quer para a comercialização das músicas, e refletem um compromisso com a sustentabilidade ambiental. Apesar dos avanços, esta indústria ainda enfrenta desafios na busca pela sustentabilidade, mas a crescente adesão de artistas e promotores a estas iniciativas sugere que essa mudança está em curso.

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