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Quem inventa mais rápido?

por Miguel Magalhães (Texto) | 11 de Março, 2024

Na última década, a China ultrapassou os EUA e a União Europeia no número de patentes submetidas. Mas será isso um sinal de que já está à frente destas regiões em termos científicos e tecnológicos?

O número de patentes internacionais submetidas pela China ultrapassou pela primeira vez o número de candidaturas dos EUA, de acordo com um relatório da NCSES, uma das principais organizações americanas para estatísticas ligadas à Ciência e Engenharia.

Número de patentes submetidas em 2022 (últimos dados disponíveis):

  • China: 68.600
  • EUA: 58.200
  • União Europeia (UE): 50.800

Este é um indicador importante de analisar pois pode ser visto como um proxy para o progresso tecnológico e científico de um país e do próprio nível de segurança e saúde económica.

Como é que estes dados são analisados?

Através do Patent Cooperation Treaty, um tratado internacional criado em 1970, que ao longo das décadas foi sofrendo algumas alterações, mas que essencialmente permite que os inventores de uma determinada tecnologia ou produto possam submeter a sua patente em vários países em simultâneo.

Deste modo, é possível termos acesso ao número de patentes submetidas por cada país dentro deste protocolo e comparar a sua evolução ao longo do tempo. 

  • Qual é o padrão? Em 2015, os EUA e a UE tinham uma vantagem considerável face à China (praticamente o dobro) em termos de submissões de patentes — contudo, no espaço de 7 anos, foram ambos ultrapassados.

A evolução das patentes na China acaba por ser um reflexo do próprio crescimento da sua economia que desde o início do milénio cresceu a níveis francamente superiores aos dos seus pares ocidentais.

Existem três categorias principais onde as patentes chinesas estão a ser submetidas com maior frequência: machine learning, computer vision e dispositivos pessoais/computação. Sem surpresa, todas acabam por estar de alguma forma relacionadas com a corrida pela predominância em inteligência artificial entre EUA, UE e China.

A parte mais fascinante destes números é que precedem o lançamento do ChatGPT e de toda a onda de investimentos empresariais e científicos que o sucesso da tecnologia criada pela OpenAI desencadeou em 2023 e no início de 2024.

  • Em 2012, a China teve 650 patentes em IA a serem reconhecidas com utilidade internacional. Em 2022, esse número ascende a 40 mil. Nos EUA, esse número evoluiu de 920 para 9.400 (números do relatório).

No entanto, é preciso realçar que uma patente é apenas um documento e não um certificado de que uma determinada descoberta é uma inovação com aplicação no mundo real. Há milhares de patentes que são viabilizadas numa fase inicial de uma invenção que, depois, acabam por nunca se transformar em produtos ou serviços de sucesso.

Para termos uma maior noção deles temos de olhar para as métricas ligadas a trademarking. Estas, sim, atuam como um reflexo de uma tecnologia que completou um ciclo de desenvolvimento e já está a ser utilizada por um conjunto de utilizadores ou empresas. Mas, mesmo aqui, a China demonstra uma evolução muito positiva.

  • Em 2011, a China tinha cerca de 2.500 “trademarks” operacionais nos EUA. Em 2022, já existiam mais de 120 mil.

Cada região tem a sua estratégia definida para a inovação e para grandes temas como é o caso da inteligência artificial. O melhor resultado da China não significa que os EUA e a UE estão piores no que diz respeito ao seu investimento em ciência e os retornos do mesmo. Significa apenas que o mercado da invenção e da invenção é hoje muito mais competitivo do que era há umas décadas e que cada vez mais economias poderão ter uma palavra a dizer no mesmo.