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Chama-se N9VE e recupera terras raras do lixo eletrónico usando algas

por The Next Big Idea | 22 de Abril, 2022

Tecnologia nacional disruptiva, de baixo custo e amiga do ambiente, com um mercado potencial no valor de 2,5 triliões de euros.

A N9VE venceu o prémio Born from Knowledge (BfK), distinção atribuída pela Agência Nacional de Inovação, no âmbito dos Prémios Empreendedor XXI, com a sua tecnologia de recuperação de terras raras do lixo eletrónico através de macroalgas.

A tecnologia desenvolvida pela N9VE, e descrita como “disruptiva, escalável e inovadora”, permite recuperar terras raras, como o Neodímio (Nd), elemento que representa 91% do consumo global de terras raras, valendo 2,45 biliões de euros. As algas são utilizada no processo de biossorção dos metais, conseguindo-se recuperar e reciclar mais de 90% dos reagentes utilizados. Em paralelo, devido ao cultivo de algas, promove a descarbonização do planeta.


Por oposição, o processo de mineração, mercado dominado pela China, que detém grande parte das reservas mundiais e controla toda a cadeia produtiva, só recupera 60% e produz resíduos tóxicos e radioativos.

Com 3,6 toneladas de magnetes e 20 toneladas de algas, a N9VE consegue produzir 1 tonelada de Neodímio (Nd), e capturar 30 toneladas de CO2, com uma margem bruta de aproximadamente 57%. Os magnetes permanentes são constituídos por 30% de Nd e correspondem ao maior uso das terras raras (38% do mercado total), já que são cruciais para o funcionamento dos equipamentos eletrónicos.

As propriedades magnéticas, elétricas, catalíticas ou luminescentes das terras raras são imprescindíveis no quotidiano, já que são usadas em várias indústrias, nomeadamente na produção de turbinas eólicas, de telemóveis, computadores e de carros elétricos, sendo uma matéria-prima essencial para a transição para a energia verde. O principal problema no seu uso reside na extração por mineração. É que além de as reservas mundiais de terras raras serem de aproximadamente 120 megatoneladas, sendo expetável que se esgotem em 20 anos, a atual mineração e produção de terras raras é altamente poluente e tóxica para o planeta. Para se obter cerca de 7 kg destes elementos, produz-se 14 toneladas de lixo tóxico e radioativo. Por sua vez, o lixo eletrónico pode ter concentrações de mais de 30% em terras raras, contudo, atualmente, menos de 18% é reciclado.


A N9VE pretende lançar a sua solução em 2024, sendo que, até 2030, o mercado é expetável crescer mais de 500%, para 13 biliões de euros. 
“Este é um projeto que demonstra o poder do conhecimento para criar soluções sustentáveis para as necessidades da economia e que vão ao encontro dos objetivos europeus, nomeadamente nas áreas de transição para uma economia verde”, sublinha João Borga, administrador da ANI.

Os Prémios Empreendedor XXI são uma iniciativa promovida pelo BPI e pela DayOne – divisão especializada do CaixaBank para empresas de tecnologia, inovação e respetivos investidores – em parceria com a ANI – Agência Nacional de Inovação, e conta com o apoio institucional do Ministério da Economia. Em 15 edições, já apoiaram o crescimento de mais de 430 empresas, com 6,7 milhões de euros em prémios.

Na edição deste ano, as startups vencedoras foram a Pixel Voltaic e a Virtuleap.

A Pixel Voltaic é uma empresa spin-off da Universidade do Porto – Faculdade de Engenharia que atua na área das energias renováveis e desenvolve tecnologias inovadoras para sistemas fotovoltaicos e para a produção de hidrogénio, incluindo células solares sensibilizadas por corantes (DSSC na sigla em inglês) e reatores de metano, respetivamente.
A Virtuleap atua na área da terapia digital, que combina neurociência e realidade virtual para a abordagem de problemas cognitivos. A empresa desenvolveu aplicações de realidade virtual, criadas por neurocientistas, que diagnosticam um conjunto de capacidades cognitivas e disponibilizam essa informação por via da sua plataforma corporativa. A Virtuleap trabalha em parceria com a VA Health Care System e com a Pacific Brain Health Center para o desenvolvimento da sua solução de diagnóstico e tratamento eficaz do défice de atenção e declínio cognitivo.

As vencedoras recebem prémios monetários de 6.000 euros, acesso a um programa de formação internacional em Silicon Valley e mentoring especializado.