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Apple: o braço-de-ferro interno da maçã

por The Next Big Idea | 23 de Agosto, 2022

A empresa anunciou que devem voltar aos escritórios em setembro, mas do outro lado a resposta chegou por via de uma petição.

A Apple está a passar por algumas dificuldades. Não propriamente financeiras, pois notícias recentes dão conta de que está a ganhar terreno no mercado da venda de anúncios e há umas semanas fez saber que os lucros e receitas superaram as previsões e as ações subiram em bolsa. No entanto, a realidade é que não está a conseguir convencer os trabalhadores a regressar ao trabalho presencial, vendo-se no meio de um braço-de-ferro que está a criar imenso burburinho em Cupertino.

O líder da Apple, Tim Cook, enviou um memo interno na semana passada aos seus trabalhadores a informar que devem voltar aos escritórios pelo menos três dias por semana já em setembro — as ordens são para que se volte a trabalhar presencialmente, de forma obrigatória, às terças e quintas-feiras, mais um dia à escolha de cada departamento. Esta tomada de decisão acontece pela necessidade de “restabelecer as ligações presenciais”.  

  • Este plano é uma versão menos rígida do que o apresentado inicialmente (em que era obrigatório ir ao escritório segunda, terça e quinta-feira). Segundo Cook, esta nova versão vai “aumentar” a flexibilidade da proposta, mas preserva “a colaboração presencial, tão essencial à nossa cultura”.

Em Cupertino, porém, parece que nem todos concordam com esta ideia de “cultura Apple” de Cook. Foi por isso que um movimento de trabalhadores insatisfeitos (que dá pelo nome “Apple Together”) respondeu ao líder da marca da maçã com uma petição.

  • “Acreditamos que a Apple deve encorajar, e não proibir, o trabalho flexível para construir uma empresa mais diversificada e bem sucedida onde nos possamos sentir confortáveis para pensar diferente juntos”, pode ler-se na missiva, de acordo com o The Guardian, que cita o documento obtido inicialmente pelo Financial Times
  • O grupo, que não revela o nome dos signatários por receio de represálias, salienta que a Apple duplicou o seu valor durante a pandemia, numa altura em que a maioria dos trabalhadores estavam em casa. Além disso, alegam que estão mais felizes e são mais produtivos quando existe flexibilidade.

Contexto: Durante a pandemia, tal como a esmagadora maioria do mundo que tinha essa possibilidade, os trabalhadores da Apple estavam a desempenhar funções remotamente. Mas em 2020 ninguém sabia muito bem por quanto tempo o fariam, especialmente com o aparecimento de novas vagas da pandemia covid-19. Prova disso está no facto de a Apple já ter tido cinco datas diferentes para regressar ao escritório, de acordo com o site 9to5mac. A última, e a de que agora se fala, é 5 de setembro. 

O problema para este regresso reside no facto de há muito se saber do descontentamento de alguns trabalhadores, que já manifestaram a vontade de continuar a trabalhar à distância de forma permanente — ideia que a Apple rejeitou, pois Tim Cook avisou logo em junho de 2021 que o plano de regresso requer três dias presenciais e que não estavam previstas alterações.

Ora, esta rigidez trouxe consequências, uma vez que levou à saída de funcionários para outras paragens, motivo que levou a Apple a ceder (um bocadinho) e rever por duas vezes as suas políticas, oferecendo uma nova proposta que, na sua visão, oferece mais flexibilidade e que vai ao encontro dos valores da empresa.

  • primeira mudança foi dar a possibilidade de se trabalhar até quatro semanas remotamente durante um ano; a segunda, vai permitir que o terceiro dia de trabalho obrigatório no escritório fosse acordado por cada equipa.

Ainda assim, esta mudança é vista pelo movimento “Apple Together” como sendo insuficiente — outras gigantes tecnológicas, por exemplo, já anunciaram que vão permitir que o trabalho remoto seja assunto permanente ou que vão exigir que se vá ao escritório apenas dois dias por semana.

Em suma, tal como sugere o 9to5mac, a insistência de Cook não é mais do que aplicar aquilo que a Apple defende há muito: o debate entre funcionários que trabalham em diferentes projetos resulta em ideias que ajudam a empresa a inovar. No entanto, na visão dos trabalhadores que querem trabalho remoto a tempo inteiro, este paradigma mudou e embora possa ter sido verdade quando a empresa era muito mais pequena, hoje em dia a Apple já não trabalha assim, uma vez que muitos funcionários até estão legalmente proibidos de cruzar informações com outros departamentos e existe muito secretismo em vários projetos. Portanto, se são mais produtivos em casa e a empresa continua a tirar proveito disso, não vale a pena forçar um regresso quando a solução em curso está a ser boa para ambas as partes.