App Economy. Quantas oportunidades de negócio cabem num único smartphone?
por Marta Pedreira Mixão (Texto) | 5 de Novembro, 2021
Vivemos num tempo em que o smartphone é quase uma extensão de nós, e cujo potencial se materializa num número infinito de aplicações com as quais interagimos diariamente. Para lá da utilidade de cada uma destas apps, que pode ser discutível, há enormes fortunas a nascer no embalo desta dependência profunda que desenvolvemos com o nosso computador de bolso. A ironSource que o diga.
Antes da pandemia, “já acontecia tudo no telemóvel”, começa por salientar Tomer Bar Zeev, CEO da ironSource. Com a pandemia, “tornou-se tudo ainda mais remoto, ainda mais móvel, porque deixámos o escritório, as escolas e ficámos em casa”. Considerando que “a maior parte das coisas que fazemos nos smartphones é através de aplicações”, a covid-19 acabou por se tornar uma impulsionadora da chamada “App Economy“.
Tomer Bar Zeev, cofundador e CEO da ironSource, subiu ao palco Content Makers, no último dia da Web Summit, para uma conversa moderada por Rute Sousa Vasco, fundadora do The Next Big Idea e Managing Partner da MadreMedia, sobre o “empurrão” que a pandemia acabou por dar a este negócio.
A ironSource é uma empresa de software israelita, sediada em Tel Aviv, que se concentra no desenvolvimento de tecnologias para monetização e distribuição de aplicações.
Nas palavras do CEO, a empresa é “uma plataforma empresarial para a ‘App Economy’, que tem dois componentes principais: os criadores das aplicações, por um lado; e os operadores de telecomunicações, por outro. Juntos, definem aquilo a que chamamos ‘App Economy'”, explica.
A empresa define-se, assim, como uma plataforma de negócios que cria múltiplas soluções para melhor servir os criadores de conteúdos e os developers de aplicações, de jogos e as empresas de telecomunicações.
“No final do dia, desenvolvemos estas plataformas de negócio com uma motivação, a de querer que os criadores de conteúdos se concentrem apenas numa coisa: criar bons conteúdos, criar boas aplicações. Nós, como plataforma, ajudamo-los a traduzir isso em negócios de sucesso”, resume o CEO.
Para Tomer Bar Zeev, hoje em dia “é muito mais fácil criar uma aplicação”. A dificuldade é mesmo “torná-la num negócio de sucesso” e é para isso que a ironSource existe.
Mas não foi assim que a ironSource começou. Num primeiro momento, arrancou como developer das suas próprias aplicações. Mais tarde, quando perceberam que faltava alguma coisa no mercado e que as pessoas precisavam de ajuda para construir um negócio a partir de uma aplicação é que avançaram para esta nova etapa. O percurso da empresa permite-lhe hoje ter insights fundamentais para compreender as dificuldades e o tipo de respostas que os delevopers precisam.
“Quando interagimos com os criadores de aplicações, eles veem que compreendemos aquilo que estão a passar e isso faz realmente a diferença”, diz Tomer Bar Zeev.
“Quando se está a construir uma empresa com o objetivo de servir outras empresas, é fundamental compreender as suas necessidades, a sua dor. O facto de termos começado como criadores de aplicações, ajuda-nos a perceber o que lhes falta para terem sucesso”, resume o empreendedor.
Assim, a empresa que começou como produtora de conteúdos fez a transição de B2C [“Business to Consumer”, uma empresa focada no consumidor final] para B2B [“Business to Business”, de empresa para empresa]. O seu crescimento foi rápido e em junho deste ano entrou em bolsa, na sequência da fusão com a Thoma Bravo Advantage, uma Special Purpose Acquisition Company (SPAC).
(As SPAC são empresas que têm o objetivo de comprar pequenas empresas ou fundirem-se com elas, para serem cotadas em bolsa. O modelo de negócio é precisamente obter capital para esse fim)
“Há mais de uma década que fundámos a empresa e temos vindo a crescer super-rápido, mas era claro para nós que estava na altura de entrar na bolsa, sobretudo porque nos vemos como consolidadores do mercado e assim, por múltiplas razões, achámos que era a altura certa”, explica Tomer Bar Zeev.
Inicialmente, o cofundador da ironSource estava “a ponderar o processo tradicional de IPO (Oferta Pública Inicial)”, mas tudo mudou depois de receberem “um telefonema de Thoma Bravo, provavelmente o mais importante investidor de software”.
Foi aí que identificaram que havia um “absoluto alinhamento de interesses”. A “Thoma Bravo é conhecida por construir empresas líderes de mercado, trabalhando muito em conjunto com a gestão”. Isto levou ironSource a considerar que avançar desta forma era “o melhor dos dois mundos: entrar na bolsa de valores, mas também fazê-lo com o parceiro certo”.
O objetivo desta parceria é “ajudar a acelerar o crescimento [da ironSource], principalmente na consolidação do mercado, através da identificação dos alvos certos para aquisição”.
O processo tem apenas alguns meses, mas Tomer Bar Zeev já considera que este foi “um casamento muito feliz” e que a Thoma Bravo “são os melhores parceiros”.
“Quando comecei a empresa, juntamente com os meus cofundadores, não sonhámos com nada deste tamanho. Era apenas o de arranque de uma startup, nem sequer angariámos capital na altura”, relembra. Sete meses após o lançamento, e com a empresa a crescer rapidamente, receberam a primeira oferta de venda: 18 milhões de dólares, o que na altura lhes pareceu bastante significativo, mas acabaram por rejeitar. Agora, a empresa entrou na bolsa de valores a um pouco mais de 11 mil milhões de dólares.
“Tivemos sorte, acabámos por dizer ‘não’ a essa oferta inicial. Para mim, foi esse o momento em que decidimos que íamos construir uma empresa maior, mais influente nesta economia. Isso tornou-se a nossa missão de vida, mas a verdade é que não começou com esse intuito”, conta.
Atualmente, além de desenvolver soluções, a ironSource também adquire empresas que considera que podem ser integradas na plataforma. Só no último mês anunciaram duas aquisições: a Tapjoy Inc. e Bidalgo.
Para o CEO, estas aquisições “não se tratam de absorver a concorrência, mas de ter uma plataforma mais robusta, adicionando soluções que podem servir melhor a ‘App Economy’”.
Tomer Bar Zeev sugere ainda que “quando se é consolidador do mercado e se vai atrás de potenciais alvos para adquirir e fundir, a única peça importante – que muitas vezes as pessoas não acertam – é um entendimento de ADN cultural”.
“Somos seres humanos e temos de nos certificar que quando olhamos para o alvo certo, as pessoas são motivadas pelas coisas certas e que existe um entendimento cultural. Penso que isto é algo que temos feito extremamente bem. A maioria dos fundadores e a maioria das equipas de gestão das empresas que adquirimos e fundimos ficaram connosco. Acho que isso é um sinal muito bom de que soubemos identificar os alvos certos. Comprar uma empresa não se faz apenas analisando uma folha de cálculos ou através de diligências de produto. No fim de contas, por detrás de tudo isso, há um grupo de pessoas, das quais precisamos de gostar. E elas precisam de gostar de nós para que se mantenham unidas”, conclui.
O cofundador da ironSource deixou também um conselho aos criadores do conteúdos e developers: “o mais importante é concentrarem-se em criar uma aplicação muito boa, muito forte, muito inteligente. Ou seja, focarem-se no conteúdo e não no lado empresarial. Depois, é encontrar os parceiros certos para ajudar a crescer no negócio, porque nas fases iniciais a qualidade do conteúdo criado é o que faz a diferença”.