“Alucinogenicamente otimista” de fracasso em fracasso. Até que um dia a ideia foi mesmo “grande”
“Quando era novo estava a sempre a tentar fazer alguma coisa ou a criar algo que não fazia a menor ideia de como produzir. Por exemplo, aos 12 anos estava obcecado em criar a minha própria coleção de cromos de basebol e para isso tinha de desenhar todos os jogadores porque não tinha direitos para usar as suas fotografias. Mas essa era a parte fácil. Depois, ia produzir esses cromos imprimindo-os numa impressora doméstica que eu ia desenhar e construir. (…) Quando era um pouco mais velho, passei horas numa loja a tentar fazer um carro a partir de peças de trator. Cresci em Clarks, no Nebraska, e a ideia era ter forma de ir à cidade ver os meus amigos, mas outras coisas foram pensadas para ganhar dinheiro”.
Este é Ev Williams, criador e co-criador de três projetos que – realmente – mudaram a face da internet como a conhecemos: Blogger, Twitter e Medium.
Este é Ev Williams, sozinho num palco secundário da edição de 2018 da Web Summit, a falar para uma plateia sem lugares vazios (e com pessoas sentadas no chão) como convidado de um projeto independente chamado The Moth fundado em 1997 em Nova Iorque e que leva pessoas a um palco para contar uma história. Já passaram pelo The Moth centenas de pessoas. Salman Rushdie foi lá. Malcolm Gladwell também, Ethan Hawke também. Mas os nomes sonantes só ajudam a comunicar porque o importante naquele palco é a história. E, na Web Summit, a história foi de Ev Williams.
“Aos 21 anos, as minhas ideias começaram a tornar-se um pouco mais reais (…) Saí da faculdade, sem terminar, e comecei uma empresa. Antes disso, o meu curriculum tinha lá ‘ajudante agrícola’ em part-time, ‘empregado da Taco Joy’ (uma cadeia de fast food), mais uma ou duas coisas, e agora era CEO. As pessoas perguntavam-me como é que criei uma empresa e a verdade é que encontrei um livro que se intitulava ‘Como fazer a sua empresa sem um advogado por 75 dólares’, e percebi que bastava preencher alguns formulários, enviar e tinha uma empresa. Como não sabia o que estava a fazer, arranjei um sócio e um investidor que eram ambos o meu pai”.
Os anos 90 estavam a começar e a ideia de Ev e do pai foi lançar uma enciclopédia da Cornhusker Football, a equipa universitária de futebol do Nebraska em CD-Rom. Algures, lá atrás, os cromos do basebol estavam a ser vingados. Não sabiam era como se faziam CD-ROM mas encontraram também um livro que explicava tudo sobre o assunto.
“Recrutei o meu irmão para isto porque na realidade ele sabia mais de computadores do que eu, interessava-se mesmo por futebol, e conseguiu perceber como íamos produzir, ter os direitos da universidade e fazer o produto chegar às lojas . (…) Só que o mercado não era tão grande como tínhamos pensado e eu decidi que a próxima grande ideia seria a super autoestrada da informação (…) só para vos dar uma ideia de como me sentia psicologicamente por esta altura, apesar de isto poder parecer divertido, estava extremamente em stress porque sabia que o meu pai tinha entrado na empresa para criar uma relação próxima comigo, mas o dinheiro que estava a investir fazia-lhe diferença e eu queria muito provar que era capaz, a ele, ao meu irmão e a todos. Estava muito motivado para conseguir ter sucesso mas também estava completamente falido”.
Seguiram-se outras ideias, incluindo a de fazer um vídeo – em cassete – para explicar às pessoas como usar a internet. Uma ideia que não passou de umas dúzias de cópias vendidas porque entretanto a internet estava a entrar na vida de toda a gente e já não era preciso um vídeo para explicar do que se tratava. Ev continuava “alucinogenicamente otimista” mas tinha perdido o dinheiro do pai e falhado em frente à família. Regressou à quinta da família e enquanto lambia as feridas do falhanço fazia páginas web, um negócio com procura. Até que ganhou coragem de se mudar para a Califórnia e pela primeira vez arranjar um emprego.
“Arranjei emprego numa editora online, a O’Reilly. Senti-me um sortudo de lá estar, era finalmente reconhecido, estava finalmente a aprender. Lembro-me de estar numa reunião lá e pensar ‘ah, é assim que os meios funcionam, fixe’. Talvez devesse ter tido um emprego antes de uma empresa. Tive muita sorte em ter lá estado, mas não fiquei lá muito tempo, porque tive outra ideia e esta ia ser enorme”.