Agora há um drone com paraquedas integrado. E pode vir a ajudar na prevenção dos incêndios
Jorge Tavares é o CTO da Dragon Praxis e o responsável pela ideia de um drone com paraquedas. Mas engana-se quem pensar que se lembrou disto agora. A ideia vem desde os seus tempos no Exército e, para isso, é preciso recuar quase 20 anos.
“Esta ideia surgiu já há muitos anos, estava eu ainda ao serviço no Exército. Na altura falava-se muito sobre os UAV [Unmanned Aircraft Vehicle] americanos, em Portugal não se ouvia falar nisso e lembrei-me ‘Vamos fazer um drone, um UAV, aliás. Mas e se ele cai? Pomos-lhe um paraquedas! E se o paraquedas não abre? Então o melhor é levantar voo já com o paraquedas aberto’, começa por contar Jorge. “Foi isto que esteve na origem do nosso Remotely Piloted Aircraft System, um sistema que é naturalmente estável e naturalmente seguro, como qualquer paramotor que vemos hoje tripulado, a voar nas praias”.
“No nosso Exército temos algumas forças de elite e uma delas chama-se precursores, que são os primeiros a saltar. É uma força restrita dos paraquedistas, que tem de saltar na escuridão, sem nenhum apoio, e são os primeiros a chegar ao solo. Vão segurar uma determinada área para depois haver um desembarque dos paraquedistas. Havendo um precursor humano é sempre um risco. Porque não fazer um precursor que seja mecânico? Foi assim que surgiu esta ideia do paraquedas. Temos um paraquedas que é estável, é seguro, e temos a possibilidade de o utilizar naquelas tarefas que seguem a regra dos três D’s: dirty, dull e dangerous [sujas, maçadoras e perigosas].
A ideia em si e os primeiros desenhos surgiram em 1999, mas o caminho foi sendo feito em passos pequenos. A patente foi registada em 2003 e “foi considerada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial por atividade inventiva de primeira categoria”. No mesmo ano deram-lhes asas para voar: ganharam um concurso de ideias da Agência de Inovação.
Contudo, a legislação existente não permitia que este aparelho andasse pelos céus. Tal só aconteceu em janeiro de 2017. Pelo caminho a Dragon Praxis — enquanto outra empresa — ia tomando corpo e tendo mais e mais ideias.
Agora, a Dragon Praxis é “uma empresa que está a executar uma patente de invenção nacional de um sistema aéreo pilotado remotamente, mais vulgarmente conhecido por drone. É um sistema que se diferencia pela sua segurança intrínseca e pela sua estabilidade natural. Caso haja um problema com a propulsão, com o controle, tudo se comporta como um paraquedas que vem até ao solo. O nosso lema é a segurança em primeiro lugar”, diz Jorge.
O modo de funcionamento deste drone é bastante específico. “Basicamente nós temos dois tipos de monitorização: elétrica ou a gasolina. O drone pode levantar voo rolando numa pista ou, melhor ainda, pode levantar voo de um atrelado ou do tejadilho de um jipe. Grande parte da utilização que nós prevemos para este sistema é realmente em sítios ermos, fora de pistas e de aeródromos, onde é mais necessário. Normalmente junto de florestas, bombeiros, monitorização da costa e do mar, em locais em que não temos um aeródromo por perto e é necessário que o operador tenha possibilidade de o colocar no ar. Portanto pode levantar voo por tração, a partir de uma viatura”, esclarece.
“Este sistema chama-se PRX25: PRX quer dizer precursor, 25 porque tem a ver com o peso máximo à descolagem, de 25 quilos”. E, com isto, o que se pode fazer na prática? Para já, a grande aposta está relacionada com os incêndios que se fizeram sentir um pouco por todo o país, em 2017.
“Neste momento temos dois protótipos, temos mais de 100 horas de testes de voo. Queremos começar, já nos próximos meses, a fazer prestação de serviços, nomeadamente numa área que achamos que é muito importante, que é a área da proteção florestal. Antes do combate aos incêndios há a recolha das informações, no inverno, sobre as localizações que queremos proteger; há a dissuasão ao banditismo que tem de ser tomada em consideração como uma das proteções para a floresta”, explica o fundador.
“A fase seguinte é estar pronto a prestar socorro aos próprios operacionais que estão no terreno e, para além disso, constituir uma rede de comunicações autónoma na área em que está a ocorrer um incêndio. Ou seja, esse sistema pode constituir-se num satélite superficial, numa estação base que está suspensa a colocar todos os elementos que integram o cenário de combate aos incêndios, de modo a integrá-los todos numa rede independente de infraestruturas, que pode ser rapidamente projetada para o local. E, mais do que isso, este é um sistema que pode ser pilotado após pouco mais de 40 horas de treino por um elemento da Proteção Civil ou por um elemento dos bombeiros”.
Uma das vantagens da utilização destes aparelhos é o preço. “As aeronaves que são utilizadas no combate aos incêndios levam em média, por uma hora de voo, 1800 euros. A hora de voo para estes sistemas fica por volta dos 200€”. Contudo, a aposta da Dragon Praxis é na prevenção e não tanto no combate.
Já no que diz respeito à costa portuguesa, as utilizações deste drone com paraquedas podem ser variadas. “Uma das aplicações relativas ao mar são as buscas e salvamento. Podemos pôr um sistema destes à procura de náufragos e, eventualmente, a mandar botes insufláveis ou a localizá-los a qualquer hora do dia ou da noite. A vantagem de um sistema destes de navegação é que não tem um piloto lá em cima, não há risco para o piloto. A partir do momento em que a própria aviação tripulada não voa à noite em baixas altitudes, o risco de colisão é muito reduzido. Será uma boa opção a partir do momento em que sabemos que houve um naufrágio na costa portuguesa, não corremos risco maior ao enviar um sistema destes, porque as pessoas já estão em perigo. Só temos a ganhar com isso”, diz.
Contudo, há ainda alguns pormenores a serem afinados. O sistema de 25 quilos condiciona ainda o transporte de bens e, além disso, a autonomia do aparelho ainda é reduzida: uma hora se o sistema for elétrico e três horas se funcionar a gasolina. Mas dá-se um passo de cada vez. “Depois de termos um histórico de um sistema de 25 quilos, facilmente obtemos as certificações para os sistemas de 35 quilos, em que poderemos já estar seis horas sem ser reabastecidos. A tecnologia que nos permite controlar um sistema de 25 quilos mais facilmente controla um sistema de 600 quilos, dos quais 400 poderão ser carga útil. A tecnologia de controlo é a mesma”.
O grande sonho da Dragon Praxis é continuar a crescer. “Queremos que este sistema se espalhe e seja de utilização generalizada, a começar com o PRX25, evoluindo depois para o PRX35, PRX60 e por aí fora, seja na proteção das pessoas — que é essencial —, seja na proteção dos bens e na melhoria da qualidade de vida e de segurança das pessoas”, remata Jorge, convicto.
Sobre a Dragon Praxis veja também episódio exibido na SIC Notícias.