Afinal quem é que manda?
A dicussão sobre os limites do poder das empresas tecnológicas não é nova e está longe de ter fim. Pelo contrário: somam-se temas, seja na relação com os consumidores, com os cidadãos ou entre as próprias empresas. Uma pequena volta ao admirável mundo das tecnológicas.
Google vs Oracle, uma batalha entre dois dos grandes.
A Oracle acusou a Google de copiar código que é seu e o caso chegou a tribunal, mas, mais que o desfecho, é interessante perceber a questão de fundo. A Google defende que o código deve ser como ar – de todos. A IBM e a Microsoft concordam. A Oracle diz que não.
Google vs Sonos: uma luta entre gigantes e mais pequenos.
A Sonos acusa a Google de lhe ter roubado a tecnologia das suas colunas de som – a mesma que usou durante anos em parceria com a tecnológica – e de abusar do seu poder de mercado para esmagar qualquer concorrência. Além da Google, a Sonos também queria processar a Amazon, pelas mesmas razões, mas diz que só tem dinheiro para um processo (e não vai ser barato).
Sonos vs consumidores
A empresa anunciou que ia deixar de suportar os modelos produzidos entre 2006 e 2015, mas que dava 30% de desconto aos clientes que os quisessem trocar por mais recentes. A coisa não correu bem, os clientes protestaram e a Sonos acabou a pedir desculpa. Mas a questão não se esgota aqui. Só a Apple tem 416 produtos que se tornaram obsoletos num mercado repleto de produtos que deixaram de funcionar por decisão dos seus fabricantes. Na era da economia circular, a resposta pode passar por pagar pelos custos de descontinuar produtos. Na Europa, é essa a ideia da Extended Producer Responsibility (EPR).
Apple vs justiça
Bill Barr, o procurador-geral americano, pediu à Apple que desse acesso a dois iPhones que pertenceram a um cadete saudita que, em dezembro, matou três pessoas numa base naval na Flórida. A Apple diz que tem todo o gosto em cooperar com as autoridades – mas não nisto. Há milhares de pedidos destes todos os anos e é um braço de ferro entre quem representa a justiça e quem manda nas tecnológicas.
Apps vs privacidade
O Dia dos Namorados está à porta e talvez esteja solteiro/a, talvez esteja a pensar tentar a sua sorte numa app de encontros. Pode ser o Tinder, podem ser outras, como o Grindr ou OKCupid. Faça como entender, mas talvez seja útil saber que estas aplicações estão a partilhar informação sobre os seus encontros com outras empresas que lhe querem vender produtos (e que por isso precisam de saber mais sobre si, desde as suas preferências, até sobre o lugar onde se encontra). É o que revela um relatório produzido pelo Norwegian Consumer Council – “Out of Control: How Consumers Are Exploited by the Online Advertising Industry” [“Fora de controlo: Como os consumidores são explorados pela publicidade online”].
Tratores vs tecnologia
Até há um mês nunca tinha ouvido falar dos tratores John Deere. Até que, numa sessão de leitura em que participei, um dos textos – um bom texto! – falava sobre essas máquinas com uma paixão que despertou a curiosidade a quem ouviu. Nem de propósito, a marca de tratores de que nunca tinha ouvido falar está nas notícias por razões de certa forma também românticas. Os agricultores, alguns pelo menos, não gostaram da modernice dos novos tratores que, em caso de avaria, estão dependentes da tecnologia – e de quem perceba dos computadores que monitorizam as máquinas. Assim, estão a comprar os velhinhos John Deere dos anos 70 e 80, com a certeza que, em caso de avaria, o sabem reparar com as suas próprias mãos. O problema não é só com tratores – passa-se com computadores, telemóveis e eletrónica em geral. Nos Estados Unidos, vários movimentos de consumidores estão a manifestar-se por alterações à lei de forma a que a tecnologia não seja dona absoluta dos produtos e que volte a ser possível "arranjar" algo avariado sem recorrer ao informático.
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