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A segunda vida de Adam Neumann, fundador da WeWork

por Abílio dos Reis (Texto) | 17 de Agosto, 2022

Ascensão meteórica, documentários, séries de televisão. A vida do fundador da WeWork já tem contornos dignos de uma fábula do imaginário em que a realidade se confunde com a ficção, mas não se pense que a sua biografia está escrita e terminada — é que acabou de ganhar um novo capítulo. Adam Neumann está de volta e tem um apoio de peso para revolucionar o mercado imobiliário.

Adam Neumann tem uma nova empresa (“Flow”) e está de volta às manchetes — e bem ao seu estilo, faz pretensões de revolucionar o mercado imobiliário. Para o fazer, vai contar com um apoio de peso: Andreessen Horowitz, conhecida em Silicon Valley por ter apostado bem cedo no Facebook ou na Airbnb e ser uma espécie de realeza no mundo dos investidores early stage.

De acordo com o New York Times, a Andreessen Horowitz (a16z) vai investir cerca de 350 milhões de dólares na Flow — que, note-se, só vai abrir portas em 2023, mas já ostenta o estatuto de unicórnio, estando avaliada em mil milhões de dólares com este apoio da venture capital.

O plano de Neumann para a sua nova empresa passa por “repensar” o conceito de arrendamento de habitações. Como é que o vai fazer ainda não se sabe ao certo, mas sabe-se que vai aplicar os fundamentos de “comunidade” e “branding” da WeWork. Para meter a operação da Flow em curso, Neumann comprou mais de 3.000 apartamentos em cidades como Miami, Fort Lauderdale, Atlanta e Nashville.

O empreendedor nascido em Israel, volta, assim, a criar um unicórnio depois de ter co-fundado a WeWork, uma das maiores startups de sempre, que chegou a valer 47 mil milhões de dólares antes de uma desastrosa entrada em bolsa (episódio que fez com que em menos de um ano perdesse mais de 75% de todo o seu valor).

Numa publicação no blog da a16z, Marc Andreessen explicou as razões que o levaram a investir e apostar (com o maior cheque de sempre do fundo de investimento) em Adam Neumann. Notando que os EUA atravessam de momento uma “crise” no setor da habitação, Andreessen frisa que Adam é um “líder visionário” que é frequentemente “subestimado”. Mais, acrescenta que o facto de ter redefinido toda a experiência dos escritórios de trabalho e agora ter ambições para fazer o mesmo no mercado imobiliário não pode ser ignorado.

No seu auge, a WeWork era uma das startups mais badaladas do mundo, mas não se livrou de histórias centradas em episódios de sexismo e de uma cultura empresarial de excessos e abusos contra funcionários, que seriam fatais e levariam à queda de Neumann — que acabaria por ser afastado da empresa em 2019, embora com uma compensação na ordem das centenas de milhões de dólares.

Mas porque é que estamos a falar disto hoje? Porque o tema está na ordem do dia e basicamente existem duas maneiras de ver esta história: os que olham para Neumann como um empresário desonrado cujo CV devia de rasgar qualquer tipo de confiança por parte dos investidores; e os que olham para Neumann e ainda vêem aquele empresário ambicioso que criou milhares de milhões de dólares a partir do nada — e que provavelmente pode fazê-lo novamente.

Agora, resta perceber qual o destino desta segunda oportunidade dada a Adam Neumann.