A inteligência artificial vai reduzir as idas desnecessárias às urgências do SNS
por Gabriel Lagoa | 21 de Julho, 2025
Projeto nacional combina IA e dados clínicos para identificar utilizadores frequentes das urgências e promover intervenções personalizadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
As urgências hospitalares em Portugal vão ter uma ajuda tecnológica para lidar com um problema que já é conhecido: há pessoas que vão ao hospital com demasiada frequência, muitas vezes sem real necessidade. A solução chama-se HUMAI (High Users Management with AI) e quer identificar estes utilizadores antes mesmo de se tornarem “clientes habituais” dos serviços de urgência.
O projeto resulta de uma parceria entre a Unidade Local de Saúde de Almada-Seixal (ULSAS), a NOVA FCT e o Value for Health CoLAB. A ideia é criar uma plataforma digital que use inteligência artificial para analisar dados clínicos e prever quais os doentes que têm maior probabilidade de aparecer nas urgências com frequência excessiva.
A iniciativa não nasce do zero. Desde 2016 que existe o Grupo de Resolução de Utilizadores Muito Frequentes (GRHU), uma parceria entre o Hospital Garcia de Orta e os centros de saúde da região. Os resultados obtidos até agora são considerados significativos: menos 51% de episódios de urgência e internamentos de utentes frequentes, e uma redução de 44% nos custos associados. Estes números foram apurados num balanço realizado em 2021.
“O GRHU tem apresentado um impacto muito positivo ao longo destes anos e com este novo projeto poderá ver aumentada a sua eficácia”, explica Pedro Correia Azevedo, presidente do Conselho de Administração da ULSAS. “Estamos convictos que o HUMAI, ao atuar de forma preventiva, permitirá melhorar ainda mais os cuidados prestados aos nossos utentes e otimizar a resposta do Serviço de Urgência Geral.”
A diferença do HUMAI está na capacidade de escalar esta solução a nível nacional. Em vez de apenas reagir quando alguém já se tornou um utilizador frequente, o sistema vai tentar prever e intervir antes que isso aconteça. A plataforma vai integrar dados clínicos e contar com equipas multidisciplinares para criar soluções personalizadas para cada caso.
O Hospital Garcia de Orta, que faz parte da ULSAS, serve uma população de mais de 343 mil habitantes nos municípios de Almada e Seixal. Pela sua natureza central e pela existência da maioria das especialidades clínicas, a sua área de influência vai muito além destes concelhos, dando resposta à península de Setúbal e ao sul do país.
Ana Londral, diretora do Value for Health CoLAB e professora na NOVA FCT, sublinha que “a inteligência artificial pode e deve estar ao serviço das organizações públicas, com soluções baseadas em dados da nossa população e que promovam a utilização eficiente dos recursos do SNS”.
O financiamento vem da União Europeia, através do programa NextGenerationEU, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência. O projeto integra-se na call “Artificial Intelligence, Data Science and Cybersecurity of relevance to Public Administration”, promovida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Se tudo correr como planeado, o HUMAI pode tornar-se um modelo replicável noutras unidades do SNS, ajudando a otimizar recursos e a melhorar os cuidados prestados aos doentes que realmente precisam das urgências.
Subscreve a nossa newsletter NEXT, onde todas as segundas-feiras pode ler as melhores histórias do mundo da inovação e das empresas em Portugal e lá fora.