A Inteligência Artificial que vai gerir as reuniões de condomínios
por Gabriel Lagoa | 1 de Julho, 2024
O projeto nasceu de uma conversa sobre qual era a área com mais potencial para ser inovada com tecnologia. O CEO afasta também uma ronda de investimento seed, para já.
Problemas que demoram a ser resolvidos, dificuldades de comunicação entre administradores e moradores e falta de participação nas assembleias de condóminos são três dos desafios do dia a dia da gestão dos condomínios em Portugal. Num país onde uma parte significativa da população vive em apartamentos, estas questões afetam diretamente a qualidade de vida e o valor patrimonial de milhões de cidadãos. E que tal tentar melhorar a eficiência do setor através da Inteligência Artificial?
A ideia nasceu nos Estados Unidos, em 2022, durante um programa de empreendedorismo que Rodrigo Bourbon, hoje CEO, realizou. Ao The Next Big Idea recorda que, numa conversa, perguntou “qual era a área que tinha mais potencial para ser inovada com tecnologia”. A resposta foi decisiva: a gestão de condomínios. Conhecida nos EUA como “Homeowners Associations”, foi identificada como um setor com muita margem para melhoria na experiência do cliente.
Mas será que o mesmo se passava em Portugal? Ainda com essa conversa em mente, Rodrigo Bourbon regressou a casa e fez um estudo de mercado. “Entrevistei algumas empresas de condomínios, fiz uma comparação a vários níveis e cheguei à conclusão que apenas cerca de 60% das cerca de mil empresas que tinha analisado tinham um website”.
De acordo com um estudo divulgado pela Associação das Empresas de Gestão e Administração de Condomínios (APEGAC), em 2022 o setor gerou uma faturação de 750 milhões de euros e era composto por mais de 3.300 empresas, com uma particularidade considerada surpreendente: “A maior parte das empresas faturava menos de 65 mil euros. Portanto, com uma média de 4 empregados por empresa, é uma faturação baixa,” afirma Rodrigo Bourbon. “Isso levou-me a ficar interessado porque parecia que havia uma falta de produtividade neste setor”.
Mais tarde, conta, “acabava por olhar para os processos e pensar o quão fácil era, com tecnologia, torná-los mais produtivos. Achei que quase todos os processos e tarefas podiam ser melhorados, não só através da tecnologia, mas também através da formação e organização por parte dos gestores de condomínios”. Eis que nasceu a Condoroo.
Inovação tecnológica aliada à eficiência
A startup portuguesa opera, atualmente, na zona metropolitana de Lisboa e o seu objetivo é simples: olhar para as tarefas que têm de ser feitas pelo gestor de condomínios e, com recurso à automação e inteligência artificial, tornar essas tarefas mais fáceis, de resolução mais rápida e com mais qualidade. Essencialmente, a missão é melhorar a eficiência da gestão de condomínios.
Um exemplo concreto são as atas das assembleias de condóminos. “Um gestor, neste momento, demora minutos em vez de dias ou até semanas para entregar a ata depois de uma assembleia,” destaca Rodrigo Bourbon. “A ata em que reflete todas as decisões e deliberações é produzida segundo um conjunto de regras e com Inteligência Artificial.”
Os clientes da Condoroo podem também receber informações, atualizações ou reportar um problema de forma instantânea. Outro exemplo: se um condómino reportar uma avaria no elevador, tanto o gestor do condomínio como a empresa de elevadores recebem, imediatamente, a notificação.
Além disso, a startup desenvolveu um “chatbot” de IA que está disponível no WhatsApp. “Os nossos clientes têm muitos pedidos, sejam eles de informação geral sobre condomínios, de situações particulares das frações deles enquanto condóminos, ou para reportar ocorrências”, explica o CEO da Condoroo. O “chatbot” é “uma ajuda valiosa” nestas situações, pois reduz o número de contactos e permite que os clientes consigam encontrar soluções sozinhos.
Modelo de negócio e expansão
A Condoroo apresenta três planos de serviço adaptados às necessidades de cada edifício. São planos que cobrem desde as necessidades mais básicas e gerais dos prédios até ao plano que exige todo o tipo de tarefas. “O objetivo passa por obter um retorno superior para o prédio, quando comparado com um prédio sem gestão. Esse retorno é entregue pela gestão ativa que nós fazemos nas várias áreas, desde a parte financeira, a gestão e manutenção, o que acaba por valorizar o património dos clientes”, explica Rodrigo Bourbon.
Atualmente, a Condoroo gere cerca de 100 condomínios e o crescimento é “consistente”. Sobre a estratégia de expansão da startup, o CEO e fundador revela que o foco está em operacionalizar a entrada no Porto e garantir que a experiência dos clientes é “tão boa quanto a de Lisboa”. Cidades como Braga também estão na mira da empresa, com uma possível entrada a acontecer no final deste ano.
Quanto a uma eventual internacionalização, Rodrigo Bourbon é cauteloso e afirma que “neste momento estamos muito focados em Portugal, porque queremos amadurecer o nosso serviço e há várias cidades que podemos explorar antes. Ainda assim, ao The Next Big Idea, o CEO não descarta um salto da Condoroo para o estrangeiro.
Investimento não está nos planos… para já.
Em entrevista ao ECO, no ano passado, a startup previa “levantar uma ronda de investimento seed no primeiro semestre de 2024 e, nessa altura, expandir o negócio para o resto do país”. Mas, por agora, Rodrigo Bourbon afasta esse cenário e justifica a decisão com os condomínios maiores que entretanto se juntaram à Condoroo e com a disciplina da empresa na hora de gastar dinheiro.
A empresa adotou também estratégias para reduzir custos, como ferramentas que não exigem conhecimentos prévios de programação, o que baixou o custo de desenvolvimento da Condoroo. Por outro lado, o CEO acrescenta que a empresa colaborou com universidades, nomeadamente para o marketing, “e isso acabou por nos ajudar a diminuir o custo de crescimento”, detalha.
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