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A “Grande Sociedade” e a inteligência coletiva

por | 20 de Fevereiro, 2020

A “Grande Sociedade” e a inteligência coletiva

Como refere Yuval Noah Harari no seu livro Sapiens, foi a complexidade dos desafios humanos que promoveu as primeiras grandes colaborações entre povos, como a criação de sistemas de irrigação e barragens em torno do rio Eufrates e do Nilo, e foi dessa colaboração que nasceram as primeiras (grandes) civilizações humanas.

Ao longo da história, a maioria dos grandes feitos e desenvolvimentos foi fruto de projectos de colaboração e de trabalho em rede. A descoberta do espaço, grandes descobertas médicas e científicas, ou mesmo a construção de máquinas que mudaram o mundo como o carro ou o avião, só se tornaram possíveis desta forma.

No contexto da sociedade actual, cada vez mais complexa, as soluções para os desafios terão que ser gradativamente endereçadas em novos tipos de rede e através de inovação colaborativa. Há que desenhar e desenvolver modelos e sistemas de inteligência coletiva eficazes, como nos diz Geoff Mulgan no seu livro Big Society, alavancados por tecnologia e pela capacidade de cooperação humana.

Num cenário de indústrias, cadeias de valor, e clusters cada vez mais distribuídos e descentralizados, com um vasto ecossistema de parceiros, fornecedores e clientes, estas dimensões ganham ainda mais relevância, para se poder agir de forma célere e eficiente.

No mundo das startups tecnológicas, ou mesmo do trabalho nómada, é essencial focarmo-nos naquilo que sabemos fazer de forma diferenciadora e com valor acrescentado, criando modelos de negócio que envolvam parcerias com diferentes stakeholders e permitam o outsourcing das atividades menos críticas. A nível global, os principais players de inovação são aqueles que conseguem ter a credibilidade e a força para agregar parcerias estratégicas relevantes e se inserir em redes globais que permitam atrair recursos determinantes para desenvolver melhores soluções.

Para uma startup, a colaboração e o trabalho em rede começa na capacidade de construir uma boa equipa e de desenvolver boas relações com investidores, advisors, mentores, clientes e fornecedores. É essencial estar devidamente inserido num ecossistema rico e com redes dinâmicas, com massa crítica e liquidez para atrair uma boa qualidade de recursos.

No contexto da economia social, inovar representa um desafio acrescido. Se por um lado este é um sector onde existem menos recursos, por outro aborda desafios humanos complexos, com muitas interdependências e uma menor lógica de mercado, onde o impacto é mais difícil de avaliar. Os resultados manifestam-se a longo prazo, com contextos locais muito variados e onde a legitimidade é uma questão determinante para a consolidação das soluções de inovação social junto da população alvo.

A inovação social é tipicamente um espaço de intercepção da actuação de diferentes sectores e organizações. Deve assim existir um modelo claro de contrato social entre o estado, os atores do terceiro sector e o sector privado; e de governança eficaz, que envolva os diferentes stakeholders dum determinado contexto em prole de objectivos comuns.

Nesse sentido, numa sociedade alavancada em inteligência colectiva e numa economia baseada em inovação colaborativa, a criação de redes de parceiros dinâmica e eficaz torna-se determinante para o sucesso da resolução dos desafios sociais crescentes, cada vez mais complexos e imprevisíveis.