A Bright Pixel tem “ideias de borla” para equipas capazes de agarrar nelas
A Bright Pixel tem dois anos. Para Celso Martinho, CEO e fundador do projeto, tudo se explica em três simples passos, porque é preciso descomplicar. “Basicamente temos um modelo que dividimos em três partes. Passo nº1: trabalhamos em inovação e experimentação tecnológica com grandes empresas; passo nº2: fazemos incubação de startups ou criamos as startups com os promotores, trabalhando a ideia de negócio; e passo nº3: é o mais simples, mas é o mais importante para nós porque é o nosso objetivo final — somos também investidores”, clarifica.
Com este projeto, que “não foi um plano desenhado ao longo de muitos anos” mas sim um “encontro de vontades entre pessoas que adoram tecnologia”, já foi possível ajudar a construir quatro startups com os promotores e foram feitos cerca de 15 investimentos.
Num país que “chama cada vez mais pelas startups”, Celso Martinho destaca que “o trabalho que muitas pessoas fizeram ao longo dos últimos seis ou sete anos está agora a dar os primeiros frutos”. Por isso, pode já dizer-se que “temos as primeiras startups que criam emprego em Portugal, que mexem o ponteiro da economia e começamos a ter os primeiros unicórnios”. Contudo, deixa um alerta. “É um processo que não acontece de um dia para o outro”.
O que surge rapidamente, sim, são ideias. Mas até com essas é preciso cuidado, ter os pés assentes na terra e olhar para mais do que isso. “O que as startups fazem melhor, de longe, é falhar, mas isso faz parte do processo. Nós trabalhamos com muitas na fase embrionária e aí as pessoas são muito mais importantes do que a ideia. Ideias eu tenho imensas todos os dias, não tenho é quem as execute. Não quero menosprezar a importância das ideias nem do exercício de pensar nas boas ideias, mas ter uma boa equipa que saiba executar, que já passou pelas dores, que já teve projetos que correram mal, aprenderam, levantaram-se, são diversificadas… é muito importante para nós”, explica Celso Martinho.
Assim, “um erro clássico das startups em Portugal é que muitas delas têm uma base tecnológica e nas equipas fundadoras são quase todos engenheiros, mas depois há uma séria de valências que também são importantes e as equipas têm de ter um bocadinho de tudo”. Uma boa equipa, que acompanhe boas ideias, “tem de ter, obviamente, pouca aversão ao risco, energia, determinação, talento, uma equipa com experiência, diversificada, tem de ter humildade e um bocadinho de arrogância, ou ganância — mas da boa. Às vezes é preciso tomar decisões difíceis e se não tivermos humildade também não temos os pés no chão e por isso não percebemos quais são os problemas reais. Mas se me pedirem para resumir o que é mais importante eu diria que é sem dúvida nenhuma as pessoas. É o que procuramos sempre: bons empreendedores”, garante.
Neste sentido, a Bright Pixel lançou a semana passada, na Lisbon Investment Summit, no Hub Criativo do Beato, o Insert Coin. Esta é “uma iniciativa que tem que ver com a vontade de atrair equipas que não percebam só de tecnologia mas que se interessem também pelos aspetos de negócio das ideias, que percebam o que é o mercado, como é que as empresas vendem o produto, como é que crescem”.
Para Celso Martinho, “o Insert Coin é a prova de que as empresas são importantes mas as equipas são mais ainda”. Por isso, a missão proposta é, no mínimo, diferente. “Estamos a dar as ideias de graça, de borla, às equipas. Fizemos um mercado no nosso site onde vamos gradualmente meter lá boas ideias de negócio para as pessoas verem, muitas das quais já validámos com os nossos parceiros e para as quais não temos ninguém a trabalhar. Não vemos boas equipas a trabalhar naquele tipo de problemas, por isso se alguém estiver cheio de vontade de dar o próximo passo e quiser pegar numa das nossas ideias e trabalhá-la, temos as portas abertas para isso”, explica.
Para o futuro, o fundador da Bright Pixel deixa um aviso. “Se calhar os últimos anos foram um bocado um exagero de comunicação e de marketing à volta da necessidade de arriscarmos mais e de sermos empreendedores, principalmente os jovens. Agora vamos, inevitavelmente, passar por uma fase de sustentabilidade que também é precisa. Vamos começar a ter outros fenómenos que são fundamentais para o empreendedorismo, que são as coisas a falharem, os empreendedores a levantarem-se e a repetirem os projetos. Vamos ter investidores com mais maturidade, a perceberem como é que os incentivos devem ser montados. Portugal tem um certo problema em gerir risco, tem uma certa vontade em controlar tudo e isso não leva a um grande alinhamento. Mas estamos num período de maturidade que é muito positivo. Portugal tem tudo para ser um dos polos europeus ligados ao empreendedorismo. Temos um país incrível e com uma cultura muito hospitaleira e temos talento e infraestruturas. Não há razão para não sermos um polo na Europa”.