Frida Khalo a dançar, um coração a bater ou um esqueleto a desmontar-se. Como a realidade virtual dá nova vida à arte
Uma obra de arte nunca é só uma obra de arte — e a exposição “Imperfeita”, no Coletivo 284, vem elevar essa ideia a um expoente máximo. Na mostra, patente até 26 de junho em Lisboa, a realidade aumentada vem completar o que as mãos de 17 artistas plásticos já traziam.
“Para homenagear a mulher, trouxemos a inspiração Frida Kahlo. Para aproximar ainda mais Portugal e Brasil criamos uma coletiva com artistas dos dois países. Para aproximar artistas em diferentes momentos de carreira fomos buscar um ‘miúdo’ talentoso”. É assim que o Coletivo 284 explica a origem da exposição, que visa também “aproximar a arte da tecnologia”, e que conta com a parceria da brasileira Adriana Scartaris e do jovem artista João Nunez, responsável pela realidade aumentada.
Paulo André, promotor da exposição, explica ao The Next Big Idea, como tudo surgiu. “Queríamos ter feito este evento para o Dia da Mulher, mas como em março estava tudo fechado não deu para fazer. A ideia era ter comemorado esse dia e escolhemos uma musa inspiradora, a Frida Khalo. Lançámos um pedido ao mercado, tivemos muitas respostas de vários artistas e escolhemos 17 — 13 brasileiros e quatro nacionais”, começa por dizer.
“Depois convidámos um jovem artista digital, porque todos os nossos artistas eram mais maduros, para interpretar cada quadro e criar realidade aumentada. Essa tem sido a mais-valia: tem sido super giro ver toda a gente de telemóvel na mão a ver a realidade aumentada de cada quadro, através de uma app. Internamente, os quadros estão todos numa aplicação e vemos as visitas por cada um. Diariamente são dezenas e dezenas de pessoas, centenas ao fim de semana, que vêm aqui ver os quadros”, explica.
Veja aqui alguns dos quadros
A exposição “Imperfeita”, que pretende “impactar a cena artística de Lisboa, mexer com as estruturas quebrando os paradigmas protocolares das galerias e trazer uma experiência sem igual” traz, assim, algo que habitualmente não se vê: obras que ganham vida.
“O artista digital teve de trabalhar sobre a obra, ou seja, teve de voltar a trabalhá-la para fazer uma animação virtual, em realidade aumentada. São duas interpretações diferentes, são dois trabalhos. Não é uma aplicação que apontamos para o quadro e que faz uma interação; a aplicação é simplesmente onde está alojado o trabalho digital que o artista fez para cada quadro, para cada uma das 17 realidades aumentadas”, diz o promotor.
Por isso, “são todas diferentes, cada quadro tem a sua animação e interpretação: numa o coração sai a bater, na outra as Fridas saem a dançar, na outra o esqueleto desmonta-se todo” — o que permite “proporcionar experiências para além dos cinco sentidos é algo que se consegue com maestria na boa mistura de arte e tecnologia”, como referido em comunicado.
“O quadro vai muito para além do quadro que está na parede. Em próximas exposições no Coletivo 284 vamos querer voltar a usar realidade aumentada, é um acréscimo muito interessante à obra. Queremos ter sempre muita tecnologia e interação”, diz Paulo André.
Contudo, a experiência não tem de terminar na galeria: todas as obras estão à venda — com preços entre os 550 e os 2.800€ — e “quem comprar a obra compra também a realidade aumentada”. Mas como é que funciona? “Carregámos a obra em realidade aumentada numa cloud e, durante um ano, este alojamento está pago — mas não quer dizer que no fim disso não se volte a pagar, porque o valor até é residual”, aponta.
Assim, “as pessoas compram a obra para casa e depois pode haver, à volta do quadro, muita discussão. Todos os amigos podem ver a obra com o seu telemóvel, de uma zona diferente. Como está em 3D, de onde eu estiver a ver é diferente da forma como o outro vê”.
Até ao momento já foram vendidas “seis ou sete obras e estão já pelo menos quatro reservadas”, sendo muitas vezes “outros artistas a quererem comprar obras destes artistas”.
A exposição é gratuita e está aberta aos visitantes de segunda a sábado, entre as 15h e as 19h. Até ao momento, já foram registadas cerca de 1.400 visitas ao espaço. “Tem sido muito interessante. Eu pensava que não ia estar ninguém e, na inauguração, passaram por cá cerca de 300 pessoas. Está tudo sedento [de eventos] e o tema é muito conhecido, o que chama as pessoas”, remata o promotor da exposição.