Nos últimos anos, Portugal consolidou-se como um dos ecossistemas de inovação mais vibrantes da Europa, atraindo talento, empreendedores e capital estrangeiro. Mas há um elemento essencial que ainda está em fase de construção: a base de investidores-anjo, os primeiros a arriscar, quando o que existe é apenas uma ideia, uma pequena equipa e uma visão.
O futuro das startups não depende apenas de mais dinheiro, mas de pessoas que acreditem nas ideias no momento certo. Os investidores-anjo são aqueles que estabelecem a ponte entre o talento e o investimento institucional, ajudando ideias a transformarem-se em empresas viáveis e sustentáveis.
Em ecossistemas maduros, como o dos Estados Unidos, investir em startups tornou-se parte da cultura de inovação. Mais de metade dos norte-americanos possui algum tipo de participação acionista, direta ou indireta. Essa democratização do investimento alimenta o surgimento de milhares de anjos ativos, que apoiam novos projetos não apenas com capital, mas com experiência, rede de contactos e orientação estratégica. Na Europa, e particularmente em Portugal, essa realidade ainda é mais restrita, mas começa a mudar.
Como sublinha a investidora e empreendedora Sarah Drinkwater, a Europa precisa de anjos com perfis mais diversos e especializados, vindos de áreas que vão muito além da tecnologia. E com razão. A inovação deixou de ser um setor isolado. Hoje, é um vetor transversal, que transforma indústrias inteiras: da saúde à agricultura, da justiça ao desporto.
Por isso, é fundamental atrair investidores que conheçam profundamente esses domínios. Um advogado é capaz de compreender o potencial de uma legaltech; um médico, o de uma healthtech; um agricultor, o de uma agtech. Pessoas com percursos distintos conseguem identificar oportunidades que o investidor tradicional, focado em métricas puramente financeiras, muitas vezes não vê.
Essa diversidade de olhares é o que torna o investimento verdadeiramente inteligente. E é também o que cria pontes entre inovação e economia real, algo que Portugal tem condições únicas para desenvolver, graças ao seu ecossistema cada vez mais interdisciplinar e ao talento que atrai tanto dentro como fora do país.
Foi exatamente com essa visão que nasceu o Angels Way, um fundo de investimento de investidores-anjo, baseado em Portugal, devidamente inscrito e fiscalizado pela entidade reguladora, que tem por objetivo investir em startups portuguesas em estágio inicial. Trata-se de um exemplo concreto de como o investimento-anjo pode ganhar escala e propósito em Portugal.
A Europa precisa de anjos com perfis mais diversos e especializados, vindos de áreas que vão muito além da tecnologia. A inovação deixou de ser um setor isolado. Hoje, é um vetor transversal, que transforma indústrias inteiras: da saúde à agricultura, da justiça ao desporto.
O nosso propósito é construir uma rede de investidores com backgrounds muito distintos como empresários, advogados, empreendedores, engenheiros, comerciantes, gestores públicos, entre outros, pessoas que muitas vezes nunca tiveram uma ligação direta ao setor tecnológico, mas que partilham um ponto em comum: a vontade de apoiar startups que estão a transformar Portugal.
No Angels Way, acreditamos que o investimento não deve limitar-se à injeção de capital. Deve ser um ato de partilha de conhecimento, de rede e de propósito. Um bom investidor-anjo não é apenas quem aposta no potencial de crescimento de uma empresa, mas quem ajuda o fundador a definir estratégia, encontrar parceiros e pensar a longo prazo.
É o tipo de investimento que cria raízes e que, mais do que multiplicar o dinheiro, multiplica o impacto. Num momento em que a inovação é global e as fronteiras são cada vez mais fluidas, Portugal pode afirmar-se como um polo de experimentação e crescimento, desde que saiba mobilizar o seu próprio capital humano e intelectual.
Portugal reúne condições excecionais para se tornar um caso de sucesso: talento internacional, qualidade de vida, boas universidades e uma cultura empreendedora em ascensão. Mas ainda há passos importantes a dar.
Em primeiro lugar, é preciso alargar o círculo de quem investe. O investimento-anjo não deve ser visto como algo reservado a milionários ou a quem trabalha diretamente com tecnologia. Profissionais de diferentes áreas podem tornar-se investidores estratégicos, desde que tenham acesso à informação, formação e redes certas.
Em segundo lugar, o país precisa de formação acessível e prática sobre investimento em startups: programas que ensinem a avaliar projetos, gerir riscos e construir portfólios. Iniciativas como academias de anjos ou redes colaborativas de investimento podem acelerar essa aprendizagem.
Por fim, é fundamental incentivar o investimento, através de medidas como a criação de benefícios fiscais, a redução da burocracia e a definição de estratégias para atrair capital – nacional e estrangeiro.
A nova geração de investidores-anjo será decisiva para o próximo ciclo do ecossistema português. Não basta atrair grandes fundos estrangeiros, é preciso criar uma base nacional sólida, feita de investidores comprometidos com o crescimento sustentável e com o impacto real das startups que apoiam.
O futuro das startups nasce quando o capital encontra propósito. Mais do que nunca, o sucesso de Portugal como hub de inovação depende de multiplicarmos o número de anjos certos, ou seja, pessoas que investem tempo, conhecimento e confiança nos fundadores que estão a transformar ideias em valor.
Porque o dinheiro pode impulsionar uma startup. Mas são os anjos certos que a fazem voar.