Grandes startups europeias de IA ponderam fuga para os EUA
por Gabriel Lagoa | 30 de Outubro, 2025
Falta de talento e burocracia empurram startups europeias de IA para os EUA. Von der Leyen jantou com fundadores para tentar reverter a fuga.
A Europa tem um problema de retenção. Das 75 startups de inteligência artificial mais promissoras do continente inquiridas pela Sifted, 17 (cerca de 23%) admitem que ponderam realocar a sede para os Estados Unidos. Mais de metade preferiu não responder à questão, o que pode indicar que o número real é ainda maior.
O inquérito, publicado esta quinta-feira pela publicação, revela que a falta de acesso a talento é o principal obstáculo ao crescimento destas empresas. Seguem-se os desafios de chegar ao mercado, problemas com a adoção por parte dos clientes, questões geopolíticas e incerteza regulatória.
Quanto ao mercado, quase metade das startups inquiridas (47%) aponta a América do Norte como a maior fonte de receita. Apenas 31% identificam o país de origem como o mercado principal e 20% apontam o resto da Europa.
A lei que pode afastar as startups
A polémica em torno do AI Act, a legislação europeia que regula a inteligência artificial, agrava a situação. Em junho, dezenas de fundadores e investidores assinaram uma carta aberta a pedir à União Europeia que pausasse a implementação da lei. Entre os signatários estavam Victor Riparbelli, da Synthesia, e Anton Osika, da Lovable, que classificaram a legislação como “uma bomba-relógio apressada” capaz de forçar startups locais a mudar-se.
A pressão levou o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, um dos poucos líderes europeus a apoiar a pausa do AI Act, a organizar um jantar entre empresários tecnológicos e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O encontro decorreu na residência oficial do primeiro-ministro sueco, em Estocolmo, e juntou nomes como Anton Osika, Fredrik Hjelm da Voi (uma empresa sueca de micromobilidade que oferece trotinetas e bicicletas elétricas partilhadas) e Johannes Schildt, cofundador da Kry (uma empresa de saúde digital Kry).

Citado pela Sifted, Johannes Schildt afirma que “precisamos de criar estes fóruns onde fundadores de empresas e decisores políticos possam ter discussões importantes”. O empresário acrescenta que, em questões como a regulação, “infelizmente são muitas vezes as velhas empresas estabelecidas que são ouvidas antes de nós”.
Regulação e competitividade foram temas em destaque
Os dois temas centrais do jantar foram a regulação tecnológica e a competitividade europeia. “A Ursula compreende definitivamente o risco de colocar demasiada burocracia sobre a inovação”, diz Schildt. “Todos queremos que a Europa seja grande, certo?”
Sofia Lindelöw, diretora da Norrsken Foundation (uma fundação sueca que apoia empreendedores) e presente no encontro, descreveu a noite como descontraída e informal. De acordo com Lindelöw, von der Leyen “pediu-nos que continuássemos a fazer ouvir as nossas vozes para contrabalançar as empresas estabelecidas que travam a implementação dos pilares-chave do relatório Draghi”. A presidente da Comissão pediu ainda ajuda para “construir uma narrativa positiva sobre a Europa”.
Já o cofundador da Lovable, Anton Osika, escreveu no LinkedIn que a urgência de von der Leyen sobre o progresso europeu o surpreendeu: “Nem todos na Europa a sentem ainda. Precisamos de avançar rapidamente.”
O encontro contou ainda com a presença da portuguesa Maria Luís Albuquerque, comissária dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos. A responsável tem como missão desbloquear o financiamento necessário para a transição ecológica, digital e social da União Europeia (UE) e, ao mesmo tempo, assegurar um melhor acesso ao financiamento para as empresas da UE.
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