Mais de metade dos portugueses só consegue poupar 10% do salário
por Marta Amaral | 20 de Outubro, 2025
Os portugueses continuam a não conseguir poupar, com 64% a amealhar menos de 10% do seu salário líquido e 36% a não conseguir guardar nem 5% do que recebe.
As percentagens agravaram-se face a 2024 (61% e 38%, respetivamente), segundo o estudo “Consumer Sentiment Survey 2025”, realizado pela Boston Consulting Group (BCG).
Por outro lado, 18% admite poupar entre 10% a 20% do seu salário, uma descida de 2 pontos percentuais (pp.) face ao ano passado, 8% reserva 20 a 30% (menos 1 pp. do que em 2024), e apenas 2% consegue economizar mais de 50% do que aufere, sem alterações face ao período anterior.
O que fazem com o que conseguem poupar?
- 60% dos portugueses destinam essa fração dos rendimentos para responder a potenciais imprevistos;
- 40% para acumular para a reforma;
- 31% para viajar;
- 22% dos inquiridos para comprar casa;
- 15% para comprar carro;
- 12% outros bens de consumo.
“A poupança em Portugal continua fortemente concentrada em depósitos e instrumentos de baixo risco. Ainda assim, observamos sinais encorajadores, com mais portugueses a procurarem diversificar as suas poupanças e investir com uma perspetiva de longo prazo. Este é um caminho que importa acelerar para fortalecer a resiliência financeira das famílias.” afirma Tiago Kullberg, Managing Director e Partner na BCG Lisboa.
Mais gastos com necessidades básicas implicam menos investimento noutras categorias
No que concerne aos hábitos de consumo, verificam-se algumas alterações face ao ano passado. Este ano, 58% dos portugueses revelam ter sentido um aumento nos gastos com alimentação, 36% com farmácia e saúde, 35% com o veículo pessoal, 35% com a renda da habitação e 36% com restauração.
O aumento da despesa em necessidades básicas provocou uma queda acentuada dos gastos noutras categorias, nomeadamente entretenimento fora de casa (-34%), roupa e acessórios (-31%), viagens e férias (-27%), perfumaria e maquilhagem (-21%) e bebidas alcoólicas (-19%). Apesar de a maior parte das variações em gastos terem afetado todas as faixas etárias, o aumento de gastos com farmácia e saúde foi principalmente sentido pela população sénior, enquanto os mais jovens foram os que mais sentiram uma subida da fatura com renda e veículo pessoal.
Investimento: mais abertura ao risco, mas perfil conservador prevalece
O estudo revela ainda que, no geral, os portugueses continuam a ter um perfil de investimento conservador, preferindo alocar as poupanças em produtos de baixo risco. No entanto, regista-se um aumento do número de portugueses que investem em ativos financeiros com risco para 20%, uma diferença de 3 pp. em relação ao ano passado. Com 1 em cada 4 indivíduos com ensino universitário a afirmar investir em ações ou obrigações, relevando um perfil menos conservador, este aumento é particularmente visível nas mulheres que subiram 4 pp. face a 2024, passando para 15%. Apesar disso, os homens continuam a ter mais propensão para investir em ações e obrigações, tendo a diferença entre os dois sexos até aumentado de 8 pp. para 10 pp.
Por outro lado, a população sénior mantém-se como a mais conservadora, mas com sinais de maior diversificação, enquanto até entre os menos escolarizados se observa um aumento do investimento em risco.
O retrato de 2025 mostra famílias portuguesas cada vez mais pressionadas pela dificuldade em poupar e pelo aumento da fatura com necessidades básicas, que continua a limitar o consumo não essencial. Ao mesmo tempo, assiste-se a uma transformação gradual do perfil de investidor, com mais mulheres e indivíduos com formação superior a diversificarem os seus portefólios e a procurar ativos de maior risco. Esta realidade revela não só os desafios da conjuntura económica, mas também sinais de mudança nos comportamentos financeiros, que poderão vir a redefinir padrões de consumo e investimento no país.
O estudo tem como base um inquérito a 1000 portugueses em todo o território de Portugal continental, conduzido em agosto de 2025, com base em 44 perguntas relacionadas com o sentimento dos portugueses para com os seus hábitos de consumo, poupança e investimento.
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