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“Tendo a informação nas mãos, conseguimos mudar tudo”. NEST debate inovação e sustentabilidade no turismo

por Gabriel Lagoa | 14 de Outubro, 2025

O NEST abriu o ciclo “Keep Innovating Tourism” com uma sessão dedicada à sustentabilidade, onde empresas e especialistas discutiram o papel da tecnologia e dos dados no futuro do setor.

O NEST – Centro de Inovação do Turismo deu início, a 9 de outubro, ao ciclo de eventos “Keep Innovating Tourism”, com uma sessão dedicada à sustentabilidade. A iniciativa, que decorreu no Centro de Incubação de Base Tecnológica do Turismo (CIBT), em Lisboa, contou com a participação de empresas, startups e especialistas do setor.

O encontro teve como objetivo promover a troca de ideias e soluções práticas para um turismo mais eficiente e responsável na utilização de recursos. Ao longo da tarde, foram apresentadas propostas nas áreas de energia limpa, economia circular e cidades inteligentes.

O programa incluiu uma apresentação de Inês Drummond Borges, Chief Transformation Officer da Sonae Sierra, sobre a aplicação de práticas de ESG no setor imobiliário e turístico, bem como várias pitch sessions com startups portuguesas: Noytrall, Windcredible, Builtrix, Savearth, Future Temp, Matter Pieces, Bambu Bicycles e Inokem.

Durante a apresentação, Inês Drummond Borges defendeu que a inovação no turismo pode beneficiar da aprendizagem cruzada com outros setores. “Sempre achei muito fertil o solo de aprendizagem, de transpor realidades de uma indústria para outra”, afirmou, sublinhando que a sustentabilidade deixou de ser “estritamente ambiental” e passou a integrar também dimensões sociais e de governação.

Rute Sousa Vasco, da MadreMedia, e Inês Drummond Borges, Chief Transformation Officer da Sonae Sierra

A gestora considerou ainda que a Sonae Sierra foi pioneira em incorporar critérios de sustentabilidade nas suas operações imobiliárias: “Foi uma visão dos líderes da empresa à época, quando isso não era, seguramente, um tópico mandatório do ponto de vista regulamentar ou legal. Não era, tampouco, um tópico exigido pelos consumidores. Nem valorizado pelos investidores.

Durante o evento, decorreu também a iniciativa “3 Perguntas pela Sustentabilidade”, uma série de entrevistas rápidas promovidas pelo NEST e pelo The Next Big Idea, parceiro de media da sessão. O objetivo foi recolher contributos de participantes sobre medidas e inovações que possam tornar o turismo mais sustentável até 2030.

Os dados como base da sustentabilidade

Entre os convidados, Roberto Antunes, Diretor Executivo do NEST, destacou a importância da recolha e análise de dados como fator decisivo para tornar o setor mais eficiente. “Eu investiria muito na captação dos dados. Eu acho que, tendo a informação nas mãos, nós conseguimos tomar as decisões para tornar todas as operações muito mais eficientes, de um ponto de vista da utilização de recursos, de consumos e de desperdício.”

O responsável sublinhou ainda a importância de alinhar políticas públicas com as expectativas dos cidadãos e turistas. “Tudo o que nós queremos é um mundo muito mais limpo, com muito mais equidade, com uma preservação da nossa cultura. É fazer com que todos os negócios do turismo sejam assentes nestes princípios.”

“Tudo o que for políticas que mobilizem a criação destes negócios ou que facilitem que todos eles sejam cumpridores é fundamental para o futuro”, acrescentou.

Roberto Antunes, Diretor Executivo do NEST

Questionado sobre a inovação que gostaria de ver implementada até 2030, o Diretor Executivo do NEST defendeu uma gestão mais integrada e transparente dos dados dos turistas, simplificando processos e reforçando a confiança. “O que eu gostaria era que nós tivéssemos apenas um único ponto de contacto onde nós introduzimos as informações e que, através de permissões, conseguimos fazer com que tudo isso seja utilizado no resto da cadeia, para eu não ter que repetir nada das minhas informações, nada do meu nome e tudo mais”, disse Roberto Antunes. 

Incentivos públicos e inteligência artificial

Também presente no evento, Pedro Pais de Almeida, Partner da Abreu Advogados, defendeu o reforço de incentivos públicos para incentivar a transição sustentável do turismo. “Eu acho que tornar o turismo mais sustentável passa por convencer os empreendedores que isso é uma necessidade e que há público, de facto, que quer um turismo mais sustentável”, afirmou.

“Se eu fosse decisor político, eu começaria por criar ou reforçar incentivos a fundo perdido no sentido de levar os empreendedores a tomar iniciativas desse género, como reforçar energias renováveis, eficiência hídrica, economia circular.”

Pedro Pais de Almeida, Partner da Abreu Advogados, com a equipa da startup Windcredible

Pais de Almeida destacou também o papel da tecnologia. “Fazia todo o sentido ter Digital Twins dos destinos turísticos, em que fosse possível avaliar, em tempo real, qual é o fluxo de visitantes em determinada hora, em determinado monumento ou localidade, ver quais eram as condições ambientais, a mobilidade, as ocupações e fazer toda esta gestão em tempo real.”

O advogado considerou ainda que a mobilidade inteligente e a certificação ambiental devem fazer parte dessa transição. “Eu acho que é inevitável seguir este caminho. Até porque o turista também começa a valorizar.”

Também Miguel Barbosa, Investment Director da Portugal Ventures, sublinhou a importância de envolver todos os agentes da cadeia turística, dos investidores aos consumidores, no caminho para a sustentabilidade. “O turismo só consegue ser mais sustentável se tivermos também a colaboração do consumidor e dos próprios atores da hospitality”, referindo-se aos alojamentos locais e aos hotéis. 

Miguel Barbosa alertou para a necessidade de maior abertura à inovação por parte dos operadores tradicionais: “O setor do turismo, enquanto forma global, não tem acompanhado em termos de inovação aquilo que outros setores têm feito. As nossas startups têm muita dificuldade em entrar na hospitality.”O gestor defendeu ainda que a mudança passa pela educação e pela valorização das boas práticas: “Isto não se faz com subsídios, faz-se com educação, promovendo determinadas políticas e dando a conhecer as melhores práticas.”

O papel do NEST na inovação do turismo português

Com esta primeira sessão, o NEST pretende reforçar o papel de Portugal como hub de inovação turística, promovendo a adoção de tecnologia e de práticas sustentáveis na cadeia de valor do setor.

Criado em 2019, o NEST é uma associação sem fins lucrativos que integra empresas como a ANA – Aeroportos de Portugal, Banco BPI, Brisa, Google, Microsoft, Millennium BCP, NOS e o Turismo de Portugal. O centro coordena atualmente o polo de inovação digital INNOVTOURISM DIH

O ciclo “Keep Innovating Tourism” prosseguirá com novas sessões dedicadas a diferentes áreas da inovação no turismo, com o objetivo de reunir empresas, empreendedores e investigadores para debater desafios e soluções concretas para o futuro do setor.

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