A alimentação pode melhorar a cultura de uma empresa?
por Marta Amaral | 24 de Setembro, 2025
A Compound Life, uma startup portuguesa com operações em Lisboa e Londres, quer transformar a alimentação saudável num motor de produtividade empresarial.
Através de quiosques inteligentes abastecidos com snacks e refeições equilibradas, geridos por aplicação móvel, a empresa promete ajudar organizações a reduzir custos, aumentar a assiduidade no escritório e melhorar a cultura interna.
Muitos profissionais optam por levar snacks de casa para evitar gastar dinheiro em opções pouco saudáveis disponíveis no escritório. Mas essa decisão nem sempre é prática: há dias em que não conseguem organizar e levar o “lanchinho”. É precisamente nessas alturas que a Compound Life quer intervir.
Como? Com uma vending machine tradicional com conteúdo não tão tradicional
“Queremos acabar com a dificuldade que a maioria dos profissionais sente em manter uma alimentação saudável no trabalho. O acesso fácil é quase sempre a snacks processados ou refeições rápidas de pouca qualidade. Nós trazemos opções nutritivas, saborosas e convenientes diretamente para os escritórios, quer seja para almoçar ou para recarregar baterias numa pausa rápida”, explica Martim Caldeira, cofundador e CEO da Compound Life.
A ideia nasceu da experiência: “Quando comecei a trabalhar num escritório, percebi rapidamente como era difícil comer de forma saudável. O food delivery era caro, preparar refeições ocupava os fins de semana e as máquinas automáticas só tinham produtos processados. Foi aí que percebi que tinha de existir uma solução melhor.”
Segundo a empresa, os resultados já falam por si: 88% dos líderes empresariais acreditam que facilitar refeições aumenta a assiduidade, e as organizações que adotaram esta estratégia registaram cinco vezes mais presença. Além do impacto financeiro, a alimentação saudável no local de trabalho tem criado momentos de ligação entre equipas e contribuído para colaboradores mais motivados e produtivos.
“Usamos tecnologia proprietária para otimizar toda a cadeia, desde o planeamento da oferta ao reabastecimento inteligente e à própria máquina, reduzindo desperdício e custos operacionais. Isso permite-nos oferecer refeições completas e snacks saudáveis a preços competitivos. É verdade que não são comparáveis aos preços ultrabaixos dos produtos ultraprocessados, mas falamos de ordens de magnitude superiores em qualidade e valor nutricional.”
Na prática, os preços alinham-se com os de supermercado para produtos equivalentes. A grande diferença está no modelo, enquanto uma máquina tradicional depende de margens elevadas e de interações esporádicas, a Compound Life beneficia de uma taxa de recorrência elevada e de uma relação direta com o consumidor através da aplicação móvel. Isso permite margens mais equilibradas, mantendo a acessibilidade sem comprometer a qualidade.
O maior desafio, admite o CEO, tem sido equilibrar conveniência com frescura e qualidade, mantendo preços competitivos. E como introduziu um modelo inovador de franchising para operadores de vending profissionais, também enfrenta a tarefa de educar tanto os operadores como as próprias empresas sobre esta nova forma de disponibilizar alimentação saudável.
O modelo de negócio
A Compound Life trabalha com nutricionistas e chefs parceiros para garantir equilíbrio nutricional, sabor e qualidade, privilegiando fornecedores locais e marcas alinhadas com a sua visão de saúde e sustentabilidade.
“Licenciamos o acesso à nossa tecnologia, marca, curadoria, apoio de vendas e suporte através de um modelo de franchising sem CAPEX, em troca de uma fee de software-as-a-service, uma pequena royalty sobre as vendas e uma renda por máquina. Com o nosso apoio, os franchisados colocam os quiosques em empresas que pagam uma avença mensal para ter o serviço no local, e os colaboradores compram diretamente as refeições e snacks através da nossa aplicação móvel”, justifica Martim Caldeira.
Algumas empresas vão mais longe e oferecem descontos de 50% sobre os preços de venda ao público, e outras chegam mesmo a suportar totalmente o consumo dos colaboradores.
Neste momento, a startup já utiliza algoritmos para prever consumos, otimizar o reabastecimento e ajustar preços. O próximo passo será personalizar a experiência do cliente através de sugestões de refeições e snacks adequados ao perfil de consumo de cada utilizador e até aos seus objetivos pessoais de bem-estar.
“Num futuro não muito longínquo acreditamos que a inteligência artificial será capaz de operar os nossos quiosques com total autonomia. Estamos a trabalhar para isso.”
Mais do que alimentação
A visão da Compound Life vai além da nutrição: a empresa quer criar uma marca de lifestyle que facilite viver de forma saudável em várias dimensões, com pequenas melhorias diárias que, acumuladas ao longo do tempo, têm impacto exponencial no bem-estar.
“Já estamos a explorar parcerias para incluir serviços e conteúdos ligados ao bem-estar mental, ao sono e à atividade física. Ainda estamos em fase de desenvolvimento, mas a nutrição é apenas o nosso primeiro passo”, sublinha o CEO.
Com operações em Lisboa, Porto, Braga, Guimarães e Londres, a Compound Life encontra-se a levantar uma ronda seed de um milhão de euros para expandir para os EUA, Emirados Árabes Unidos, Espanha e França, com investimento da Olisipo Way, Ideias Glaciares e Wisenext.