Voltar | Empresas

Pagar para ir ao casamento de desconhecidos? Há uma startup que está a vender convites

por Gabriel Lagoa | 7 de Agosto, 2025

Imagina um casamento em que entre os convidados estão pessoas que nunca viram os noivos na vida. É exatamente isto que uma startup francesa propõe: vender lugares em casamentos a desconhecidos que querem viver a experiência e ajudar os noivos a pagar a festa.

A ideia parece saída de um filme de comédia, mas já é realidade em França. A Invitin, uma startup criada por Katia Lekarski, permite que os casais vendam bilhetes para o seu casamento a pessoas que não conhecem. O conceito é simples: ajudar a pagar as despesas do grande dia e, ao mesmo tempo, dar a oportunidade a quem raramente vai a casamentos de viver esta experiência.

Segundo conta o The Guardian, Jennifer e Paulo foram os primeiros corajosos a aderir. O casal, que se conheceu numa app de encontros durante a pandemia e tem um filho de 18 meses, casa este mês numa quinta a uma hora de Paris. Entre os 95 convidados estarão cinco completos desconhecidos que compraram bilhete para o evento.

“Pensámos: ‘uau, isso é algo especial’, ter pessoas que não conhecemos no nosso casamento”, diz ao jornal Jennifer, de 48 anos. “Levámos o panfleto, fomos para casa pensar e decidimos: porquê não? Se conseguimos ver os perfis na app e escolher quem aceitar, pode ser algo bastante original.”

Também Johanna, uma mulher de 42 anos que vive na região de Paris, foi uma das primeiras a aderir. Casa em junho do próximo ano e já decidiu abrir uma dezena de lugares a desconhecidos. “Conheci esta ideia numa feira de casamentos em janeiro e achei muito inovadora”, recorda ao Le Figaro. “O meu futuro marido e eu gostamos de aventuras, por isso faz todo o sentido para nós.”

O casal tinha previsto 150 convidados, mas apenas 110 confirmaram presença. “Temos margem”, explica Johanna, que orçamentou 35 mil euros para o casamento. Os bilhetes custam entre 150 a 400 euros por pessoa, com a Invitin a ficar com uma comissão de 15%.

De onde veio a ideia?

A empresa surgiu de uma pergunta inocente. Explica o The Guardian que Katia Lekarski estava a arrendar a sua casa no sudeste de França a pessoas que iam a um casamento quando a filha de cinco anos perguntou: “Porque é que nós nunca somos convidadas para casamentos?” A antiga modelo, que antes tinha uma plataforma online de design de interiores para crianças, teve então a ideia de democratizar estas celebrações.

O conceito nasceu em agosto de 2024 e a empresa arrancou efetivamente em março deste ano. Os “convidados pagos” não são escolhidos ao acaso. “Os perfis são obviamente moderados, com regras de comportamento que devem ser assinadas e um seguro incluído”, assegura Lekarski. Os clientes têm de “comportar-se bem, não beber demasiado álcool” e obviamente não fazer sombra aos noivos.

Estes convidados especiais têm acesso a toda a festa – bebidas, refeições e até fins de semana inteiros de celebração. Quanto às cerimónias religiosas, os casais podem escolher incluí-los ou não. “É à la carte”, explica a fundadora.

Para algumas pessoas, a experiência representa uma oportunidade cultural. Ao Le Figaro, Mariam Fattakhova, uma cantora de ópera russa que vive em França há três anos, afirma que vê nisto uma forma de “compreender melhor as tradições francesas e aprender a cultura”.

A experiência é mais do que dinheiro

O conceito não é completamente novo. Na Índia, a Join My Wedding já conecta turistas estrangeiros com casais que celebram casamentos tradicionais, sob o lema: “Não foste à Índia até assistires a um casamento indiano.” Lekarski quer inspirar-se neste modelo e trabalhar com agências de turismo para atrair visitantes estrangeiros.

Para os noivos, não se trata apenas do dinheiro. “É uma gota no oceano em termos do custo total do casamento”, admite Jennifer ao jornal britânico, “embora ajude um pouco com coisas como a decoração e o vestido. É também porque pensámos que podia ser divertido e somos extrovertidos e abertos a partilhar.”

A Invitin está ainda a dar os primeiros passos, com cerca de mil seguidores no Instagram, à data deste artigo. Mas Lekarski espera que a ideia pegue entre os franceses e já pensa em expandir para o mercado americano. Será que a ideia pega em Portugal?