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Coimbra já “rivaliza” com Lisboa? “Naturalmente que sim”. O balanço do Coimbra Invest Summit 2025

por Gabriel Lagoa | 8 de Julho, 2025

Digitalização de processos, “via rápida” para investimento e uma nova abordagem colaborativa com empresas. O autarca de Coimbra explica como a cidade mudou “180 graus” a estratégia municipal e agora “rivaliza” com Lisboa, atraindo empresas que fogem da “ebulição” do mercado na capital.

A terceira edição do Coimbra Invest Summit ultrapassou as 1.700 participações e distinguiu 212 empresas do concelho, face às 167 do ano anterior, ajudando a consolidar o evento como uma das principais feiras empresariais do país. José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, faz um balanço “extremamente positivo” de um evento que nasceu com desconfiança e hoje atrai multinacionais e investidores nacionais e internacionais.

“O primeiro evento foi olhado com alguma surpresa, desconfiança, muita expectativa e correu muitíssimo bem“, recorda o autarca. Desde então, a iniciativa tem vindo a crescer e a afirmar-se como uma das grandes feiras empresariais do país, com potencial para continuar a crescer.

“Era algo que fazia falta a Coimbra, esta mostra da força empresarial, inovadora e tecnológica”, explica o responsável. O evento, que começou com três clusters, saúde, tecnologia e espaço, adicionou este ano o turismo e em 2026 incluirá a cultura e indústrias criativas. “Coimbra é uma cidade multifacetada, com uma grande genética cultural e criativa e nós queremos explorar todo esse potencial e desenvolvê-lo”, justifica José Manuel Silva.

A “Coimbra Way” é a nova forma de estar da Câmara Municipal de Coimbra e é isso que tem permitido estes desenvolvimentos e este crescimento.

O crescimento do Coimbra Invest Summit espelha uma transformação mais ampla na estratégia municipal. O autarca reconhece que a Câmara Municipal mudou a relação com as empresas “180 graus”. “Ao contrário do passado, em que se referia que a Câmara Municipal de Coimbra era fechada, que vivia de costas voltadas para os seus parceiros, que não acarinhava o investimento”, a autarquia criou a chamada “Coimbra Way”.

Esta abordagem, que segundo José Manuel Silva valeu elogios de representantes de multinacionais instaladas na cidade, implica receber empresários em conjunto com todas as instituições locais, como a Universidade de Coimbra, o Instituto Politécnico de Coimbra, o Instituto Pedro Nunes (IPN),o iParque e o IEFP. “Recebemos em conjunto para respondermos a tudo e mostrarmos o enorme potencial de Coimbra. Acompanhamos os empresários na procura de instalações, na resolução dos problemas, pelo braço”, descreve o responsável.

As políticas implementadas incluem a criação do regulamento da “via rápida do investimento” para garantir respostas em prazos reduzidos e a digitalização completa dos procedimentos administrativos. “Nós herdámos uma Câmara a funcionar a papel, digitalizámos todos os procedimentos”, explica José Manuel Silva. De acordo com o autarca, esta modernização permitiu duplicar anualmente a área licenciada para construção. Em 2024, foram licenciados 260 mil metros quadrados, valor que continua a crescer em 2025.

O presidente da Câmara de Coimbra destaca também que este crescimento é fundamental não só para o setor da construção, mas também para responder ao aumento populacional no concelho. “É preciso que tenham acesso à habitação e que tenham acesso à habitação a custos não especulativos. A melhor forma de o fazer é aumentar a oferta”, defende, garantindo que as empresas encontram condições para fixar trabalhadores e jovens talentos “com residência digna e a custos controlados”.

Há aí uma cidade que diz que tem uma fábrica de unicórnios, mas eles nascem em Coimbra.

O líder do executivo municipal não hesita em afirmar que Coimbra compete diretamente com Lisboa. “Naturalmente que sim”. Até porque a Cidade dos Estudantes já viu nascer um unicórnio: a Feedzai. Além disso, é também a casa da Critical Software, a conhecida empresa tecnológica de dimensão internacional que surgiu para combater as falhas críticas de sistemas. 

Ambas nasceram da investigação feita na Universidade de Coimbra e ambas foram incubadas e aceleradas no Instituto Pedro Nunes (IPN), a incubadora de base tecnológica que está em Coimbra há mais de 20 anos.

Outro dos argumentos que o autarca apresenta para esta rivalidade prende-se com a futura ligação ferroviária de alta velocidade, que fará de Coimbra “a única cidade do país servida por dois aeroportos internacionais em tempos internacionais”. A esta vantagem logística, o líder do executivo municipal acrescenta “melhor qualidade de vida, mais baixo custo de vida, uma paisagem absolutamente extraordinária, uma alma e uma cultura próprias da primeira capital de Portugal.”

“Há algumas empresas que se têm vindo a instalar em Coimbra exatamente porque o mercado está demasiado em ebulição em Lisboa“, reforça José Manuel Silva. 

Da saúde ao espaço, quais são os clusters de Coimbra?

O Coimbra Invest Summit estrutura-se em torno de quatro setores: saúde, tecnologia, espaço e turismo. Para 2026, a autarquia planeia adicionar um quinto cluster dedicado à cultura e indústrias criativas. “Está na genética da cidade de Coimbra”, justifica José Manuel Silva, destacando as “capacidades e competências para nos afirmarmos de forma competitiva e diferenciadora”. 

Os embaixadores espalhados pelo mundo

Para reforçar a projeção internacional, a autarquia criou um gabinete de relações internacionais e institucionais e desenvolveu uma rede de embaixadores espalhados pelo mundo. “Estamos a desenvolver aqui em Coimbra uma rede de embaixadores a nível mundial, com pessoas ligadas à cidade, para desenvolvermos essas ligações e mais facilmente captarmos financiamento europeu”, explica o responsável.

Esta estratégia tem o objetivo de facilitar as candidaturas a programas europeus que exigem participação de vários países. “As ligações que Coimbra tem permitem construir facilmente essas candidaturas”, sublinha o presidente da câmara municipal, que criou uma estrutura com 27 embaixadores coordenada por uma responsável a quem chama “a nossa ministra dos negócios estrangeiros”.