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Ir às compras pode ser mais fácil com inteligência artificial?

por Marta Amaral | 8 de Maio, 2025

Num mundo em constante evolução, várias lojas continuam sem saber onde devem investir os seus esforços para aumentar as vendas. Mudam de estratégia sem sucesso, muitas vezes porque não conseguem ver os verdadeiros obstáculos que estão a afastar os clientes do momento da compra.

Imagina entrar numa loja, escolher um vinho e, numa aplicação no telemóvel, tirar dúvidas sobre a escolha e ainda receber uma sugestão: “leve também um queijo que acompanha bem”. Para Miguel Fernandes, partner da PwC, este é o tipo de experiência que define o futuro frictionless (sem atrito): “Ajuda a pessoa na compra, dá mais conforto e ajuda a escolher melhor”.

No fundo, um mundo sem filas, sem stress e sem confusão — onde tudo é rápido, intuitivo e quase invisível.

Os obstáculos à compra 

Apesar de estarmos cada vez mais avançados do ponto de vista tecnológico, continuam a existir vários fatores que nos afastam da compra. Em termos práticos, há obstáculos que fazem com que as lojas percam dinheiro na hora H – a hora de pagar. 

São detalhes simples, como: “Ia comprar estas calças, mas não há o meu tamanho. Não vou voltar atrás à procura, nem quero experimentar outras. Desisto.”, partilha Miguel Fernandes.

Por isso, têm sido identificados vários fatores-chave para evitar aquilo que é chamado como o “desgaste do consumidor”.

Para retalhistas, estes são os pontos essenciais a ter em conta para atrair clientes cada vez mais exigentes:

  • Filas e tempos de espera: “Eu quero estar no estádio de futebol e ao intervalo quero comprar cerveja, mas basta-me passar o relógio ou o cartão e já estou servido. Não quero ficar 10 minutos na fila para ter uma cerveja”, explica Miguel Fernandes.
  • Way finding (localização de produtos): Quem nunca se perdeu num supermercado à procura do açúcar? “É nestes casos em que a experiência morre que temos de facilitar a vida às pessoas”, sublinha o Partner da PwC. Uma aplicação que nos mostre onde estão as coisas evita perdas de tempo e frustração.
  • Sistemas de pagamento complicados: Processos fragmentados, apps em excesso e checkouts demorados afastam clientes.
  • Stocks inconsistentes: Nada pior do que querer comprar uma coisa e descobrir que está esgotado, apesar do site dizer o contrário.
  • Pouca personalização: Receber recomendações genéricas em vez de sugestões adaptadas ao perfil do cliente torna a experiência fria e impessoal.
  • Navegação confusa: Sites lentos, apps que bloqueiam e interfaces mal organizadas são barreiras diretas à compra.
  • Processos complexos de devolução: Políticas pouco claras e burocracia.

As tecnologias que estão a mudar o jogo

É no seu hub de Manchester, que a PwC trabalha o conceito Frictionless Futures, onde apresenta soluções tecnológicas integradas que podem revolucionar o retalho

  • Realidade aumentada e virtual try-on: “Se eu quiser experimentar uma peça de roupa, consigo, com recurso a espelhos inteligentes, pedir tamanhos diferentes, cores diferentes. Olhando para o espelho consigo de forma virtual ver peças de roupa ou acessórios”, explica Eduardo Barroso da Silva, Senior Manager da PwC Portugal.
  • Pagamentos ultra-rápidos: Pulseiras, relógios, cartões contactless, que permitem um pagamento em segundos.
  • Experiências omnicanal: Integrar o espaço físico, online e a aplicação para que o cliente navegue entre diferentes canais sem barreiras.

Mas é preciso considerar outros aspetos: nem tudo faz sentido em todos os contextos. É importante, por exemplo, ter em conta o ponto vista geracional.

 “Não podemos pôr um vestiário altamente sofisticado numa loja de bairro de uma senhora que tem a sua clientela. O cliente de uma certa geração habituou-se a ter um contacto humano que tem de continuar a existir. Nesses casos não faz sentido investir só porque é giro, alerta Miguel Fernandes.

Vale a pena investir num futuro sem atrito?

Segundo dados da PwC, 41% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por uma experiência rápida e fluída

E não é só o cliente que ganha: para as empresas, estas tecnologias oferecem dados valiosos sobre preferências, hábitos e interações, permitindo personalização, cadeias de abastecimento mais ágeis e processos sustentáveis.

No fundo, como resume Miguel Fernandes: “O ponto é resolver problemas. Arranjar soluções”. Um futuro sem atrito não é apenas sobre tecnologia — é sobre facilitar a vida às pessoas.