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Inteligência Artificial: Benefícios, Perigos e Caminhos a Seguir

por Mário Figueiredo

17 de Abril, 2025

A inteligência artificial (IA) tem vindo a ganhar uma presença cada vez mais significativa em todo o mundo nas últimas duas décadas. A sua omnipresença como núcleo tecnológico das redes sociais, ferramentas de busca, e em sistemas de recomendação, nomeadamente nos dispositivos móveis, torna evidente o seu peso e influência crescentes na vida moderna. A utilização massiva de técnicas de IA para captar a atenção das pessoas e influenciar as suas decisões, sejam elas comerciais, políticas ou outras, e a sua crescente influência no nosso quotidiano, pode ter efeitos complexos e consequências imprevisíveis sobre a sociedade, tanto em termos de benefícios como de perigos, que requerem atenção e cuidado. É crucial que a sociedade e os governantes considerem as implicações sociais, económicas e políticas da crescente influência da IA. No entanto, é importante reconhecer que a IA também tem um impacto positivo em diversas áreas.   

Na ciência e tecnologia, por exemplo, a IA tem impulsionado avanços significativos. O sistema Alphafold, desenvolvido pela Google Deepmind, é um exemplo positivo do poder da IA na descoberta científica. A sua capacidade de prever a estrutura tridimensional de proteínas tem o potencial de revolucionar o desenvolvimento de novos fármacos e justificou a atribuição do Prémio Nobel da química de 2024.  Outras técnicas de IA estão a abrir portas para avanços em áreas como a ciência dos materiais, a ciência climática, ou a imagiologia médica. 

É crucial que a sociedade e os governantes considerem as implicações sociais, económicas e políticas da crescente influência da IA.

O rápido avanço da IA, especialmente com o desenvolvimento de grandes modelos de linguagem e sistemas de diálogo como o ChatGPT, tem gerado uma onda complexa de entusiasmo e apreensão. As capacidades impressionantes destes sistemas, que permitem diálogos complexos e demonstram competências interpretáveis como compreensão e raciocínio, antes consideradas exclusivas dos humanos, levantam questões sobre o papel da inteligência humana. Embora a ideia de a IA se tornar uma ameaça existencial para a humanidade seja exagerada (pelo menos, a curto e médio prazo), existem preocupações prementes que exigem atenção. A amplificação de desigualdades, a concentração de poder, a erosão da privacidade, a disrupção dos mercados de trabalho e a disseminação de desinformação são desafios que a sociedade precisa de enfrentar com urgência.   

O futuro da IA e o lugar dos humanos num mundo cada vez mais influenciado pela tecnologia são questões em aberto. A curto e médio prazo, a IA não conseguirá substituir completamente o ser humano nas atividades cognitivas, criativas e de tomada de decisão crítica. Características como a criatividade, a intuição, a inteligência emocional e a capacidade de tomar decisões complexas, que envolvem julgamentos éticos e morais, ou em contextos humanos específicos, continuarão a ser domínios da mente humana. O nosso papel será o de orientar o desenvolvimento da IA, supervisionar a sua aplicação e garantir que esta serve os interesses da humanidade. Em áreas como a educação, a saúde e o cuidado de pessoas, a interação humana, a empatia e o toque pessoal continuarão a ser insubstituíveis.   

Embora a ideia de a IA se tornar uma ameaça existencial para a humanidade seja exagerada (pelo menos, a curto e médio prazo), existem preocupações prementes que exigem atenção.

Para que a IA beneficie a sociedade, a regulamentação e a investigação em técnicas de IA justas e robustas são essenciais. A aplicação da IA em diversos campos deve ser feita de forma responsável, ética e transparente, garantindo a privacidade e prevenindo a discriminação. Num mundo ideal, a IA seria uma ferramenta para promover o bem-estar, a igualdade e o progresso em todas as áreas da vida. Na saúde, permitiria personalizar tratamentos e antecipar diagnósticos, melhorando a qualidade de vida. Na educação, adaptaria o ensino às necessidades individuais, promovendo uma aprendizagem mais eficaz e inclusiva. No trabalho, libertaria as pessoas de tarefas repetitivas ou perigosas, permitindo que se concentrem em atividades mais criativas e gratificantes.

A IA também teria um papel fundamental na arte, no entretenimento e na gestão de recursos, abrindo novas possibilidades criativas, promovendo a sustentabilidade e otimizando políticas públicas. A acessibilidade à IA seria uma prioridade, garantindo que todos, independentemente da sua origem ou recursos, possam beneficiar do seu potencial. Este cenário de uma sociedade ideal, onde a IA é utilizada para o bem comum, pode parecer utópico, mas é um objetivo que devemos perseguir. O futuro da IA depende das escolhas que fazemos hoje. Cabe-nos a nós garantir que esta poderosa ferramenta seja utilizada para construir um futuro mais justo, próspero e sustentável para todos.