Portugal lança primeiro satélite comercial: “Vai ser o Waze dos oceanos”
por Marta Amaral | 14 de Janeiro, 2025
O satélite da startup portuguesa LusoSpace vai apanhar boleia da SpaceX de Elon Musk. É enviado esta terça-feira para o Espaço no foguetão Falcon 9 da companhia norte-americana.
Chama-se PoSat 2 e foi fabricado pela LusoSpace, a primeira startup espacial 100% portuguesa que foi criada por Ivo Yves Vieira em 2002.
O nome é uma homenagem ao primeiro satélite português, o PoSAT-1, que foi desenvolvido e lançado pela Universidade de Coimbra na década de 1990. Na altura, o CEO da LusoSpace dedicou a tese final do curso de engenharia física (na Universidade Nova de Lisboa) precisamente a este satélite.
Para além da LusoSpace, o empresário português tem também duas empresas dedicadas à Realidade Aumentada e à Música – a LusoVu e a LusoMusic, respetivamente, fundadas em 2013.
O que é o PoSat 2?
É um satélite de pequenas dimensões – um 3U: 30cm x 10cm x 10cm; pesa entre 2 e 4kg e tem a forma de um paralelepípedo.
Custou cerca de um milhão de euros e vai permitir receber dados sobre a localização de navios com o objetivo de criar “um Waze dos oceanos”.
“É um sistema pioneiro no mundo, não existe em mais nenhuma entidade”, refere Ivo Yves Vieira, CEO da LusoSpace.
O fundador da startup espacial portuguesa destaca o evento como um marco histórico para Portugal: “Vai ser a primeira vez que temos um satélite a gerar negócio”.
O primeiro “Waze dos oceanos”:
É mais um passo importante no desenvolvimento da indústria espacial em Portugal. Também este ano, deverá ser inaugurada a fábrica de satélites em Coimbra – a Empresa Open Cosmos aproveitou o “empurrão” do PRR e quer criar um centro de montagem para mais três satélites portugueses até 2026.
Em Junho do ano passado, foram reveladas as primeiras imagens do satélite Aeros (lançado em fevereiro), as primeiras fotografias portuguesas vindas do espaço em quase três décadas.
Centrado na investigação dos oceanos, surge o PoSat 2 que faz parte de uma constelação de 12 microssatélites e é o primeiro da constelação ATON a ser lançado para o Espaço.
Já a partir de maio, este satélite vai permitir enviar e receber mensagens que, no entanto, vão ter um delay de seis horas entre o momento em que são enviadas e recebidas – e “ninguém vai querer utilizar um serviço destes”, sublinha Ivo Yves Vieira.
Só no princípio do próximo ano, quando o último dos 12 satélites for enviado e entrar em órbita é que vai ser possível ter o GPS propriamente dito.
Nessa altura, de acordo com os planos do CEO da LusoSpace, “toda a comunidade marítima vai poder partilhar informações não só sobre a sua posição, mas sobre para onde é que vai, de onde é que vem ou quantas pessoas têm a bordo”.
Vai ser também possível fazer avisos entre barcos através da marcação com um “pin”.
É semelhante ao que acontece nas estradas, mas no mar, ou seja, vai ser possível avisar por exemplo que “há um derrame de óleo, baleias por perto ou um iceberg à deriva”.
Para além destas funcionalidades mais práticas, vai permitir também a descoberta de embarcações não “mapeadas nos oceanos” e identificar mais facilmente a presença de piratas ou pesca ilegal, por exemplo.
Porquê a boleia da SpaceX de Elon Musk?
Por questões financeiras, a empresa de Elon Musk tem foguetões a um preço muito mais acessível do que os foguetões tradicionais.
A LusoSpace refere que foi feita uma consulta de mercado: “Falámos com eles a dizer que queríamos fazer um lançamento, eles disseram claro que sim, é um serviço pago. E, portanto, contratámos o serviço”. Sublinha também a importância da flexibilidade da empresa de Elon Musk: “Lançam quase diariamente”.
Ivo Yves Vieira, afasta a sua empresa espacial dos serviços de Musk e sublinha não estar a fazer concorrência com a Starlink (projeto de satélites desenvolvido pela SpaceX, com o objetivo de fornecer internet de alta velocidade): “Nós estamos num sistema low-cost de mensagens curtas. Comparar-nos ao Starlink é como comparar uma bicicleta e um Ferrari, não é comparável, são mercados diferentes”.
Quando vamos ter novidades do PoSat 2?
O evento que marca este lançamento histórico para Portugal vai começar às 18h.
É esperado que o PoSat 2 seja lançado às 18h48, acompanhado pelo PROMETHEUS-1, um satélite desenvolvido por estudantes da Universidade do Minho.
10 minutos depois o primeiro satélite comercial nacional deverá estar “injetado em órbita” e Ivo revela que o processo será demorado porque estão “a passar por uma fase solar muito intensa que explica porque é que nós vimos auroras boreais o ano passado, aqui em Portugal”, explica o CEO da LusoSpace.
Esta atividade solar, além de provocar as auroras boreais, faz com que a atmosfera se expanda e os satélites voltem muito mais rapidamente para a Terra. Para prevenir esse cenário, a LusoSpace pediu para o satélite ser deixado 50km acima do normal.
A alteração vai fazer com que o satélite entre em órbita final daqui a 2, 3 meses: “Então aí vamos ter os primeiros sinais”, garante Ivo Yves Vieira.
Veja o lançamento do satélite da LusoSpace aqui.
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