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1,16 mil milhões de euros. É este o montante investido nas fintech portuguesas até hoje

por Gabriel Lagoa | 6 de Novembro, 2024

Os desafios globais não impediram que este ano fossem criadas mais 37% de fintechs em Portugal face ao ano anterior. O número de empresas do setor com investimento estrangeiro também aumentou.

O arranque deste ano foi desafiante para as fintechs de todo o mundo, em parte devido às incertezas geopolíticas e às taxas de juro crescentes. As palavras são do Portugal Fintech Report 2024, um documento apresentado esta terça-feira em Lisboa e que mede o pulso ao ecossistema português de tecnologia financeira, apresentando os desenvolvimentos dos últimos tempos. 

Apesar dos desafios, a IA continua a atrair um interesse significativo dos investidores tanto para as instituições financeiras estabelecidas como para as fintechs emergentes, lê-se no relatório. A eficiência e a rentabilidade permanecem cruciais devido ao persistente elevado custo de capital. Prevê-se também que a importância da IA continue a crescer, refletindo tendências mais amplas de investimento.

Investimento a subir

O estudo revela que o ecossistema português de fintech já acumulou 1,16 mil milhões de euros em investimento, um aumento de 1,8% face aos 1,14 mil milhões de 2023. Mais: o crescimento vem acompanhado por uma alteração no perfil dos investidores. Em 2024, 71% das empresas portuguesas do setor contam com investidores internacionais, uma subida face aos 42% registados no ano anterior.

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Lisboa mantém-se como o principal hub do setor, concentrando 60% das fintechs nacionais. O Porto surge como segundo polo, com 16% das empresas. A nível nacional, Portugal concentra 82% das sedes das suas fintechs, “o que demonstra uma forte preferência pelo crescimento local e comprova o seu ambiente favorável à inovação”, indica o relatório. 

Já as startups que procuram um acesso mais amplo ao mercado optam frequentemente pelo Reino Unido ou outros países da UE, representando cada um cerca de 8% das sedes das fintechs portuguesas. Como identifica o documento, esta é uma tendência que “reflete uma abordagem estratégica em que as empresas sediadas no estrangeiro aproveitam as redes internacionais para expandir a sua base de clientes e o potencial de investimento”.

Insurtech lidera o mercado

A análise por segmentos mostra uma distribuição equilibrada entre as principais áreas. A insurtech (insurance technology) lidera com 20% do mercado, seguida pelos pagamentos e transferências de dinheiro (19%) e pela área de empréstimos e crédito (19%). 

Citado no relatório, António Dias Martins, Diretor Executivo da Startup Portugal, conta que “hoje existem cerca de 4.000 startups em Portugal, com um crescimento médio anual de 25%. Temos 6 unicórnios com ADN português e conseguimos atrair outros 40 unicórnios internacionais. Atualmente, existem mais de 11 fundos com mais de 100 milhões de euros para investir, e 52 sociedades gestoras de fundos que gerem 135 fundos”.

Ciclo de vendas prolongado é o maior desafio

O ciclo de vendas prolongado, ou o tempo que uma empresa leva desde o primeiro contacto com um potencial cliente até ao fecho do negócio, permanece como o principal desafio para 49% das fintechs portuguesas. O acesso a capital surge como segunda maior dificuldade, afetando 16% das empresas, seguido pela atração de talento, que representa um obstáculo para 13% das startups.

Na frente do talento, o relatório identifica mudanças nas necessidades de contratação. Embora os engenheiros continuem a ser os perfis mais difíceis de recrutar, a procura por profissionais de desenvolvimento de negócio, marketing e vendas aumentou em 2024. O documento aponta também para uma maior dificuldade em contratar profissionais seniores.

O setor demonstra progressos na diversidade de género, com 64% das startups a terem uma ou mais mulheres na equipa fundadora ou em cargos de direção

Na relação com as instituições tradicionais, a diferença cultural emerge como principal obstáculo. O relatório indica que “67% das fintechs demoram um ano ou mais para fechar parcerias com incumbentes”. As diferenças no modelo de negócio e investimento e a insuficiência de recursos disponibilizados pelas empresas tradicionais para estas parcerias completam o top 3 dos desafios nestas colaborações.

Associações impulsionam o ecossistema

O documento destaca ainda o papel das associações setoriais, como é o caso da Portugal Fintech, no desenvolvimento do ecossistema. Para 36% das startups, estas organizações são o principal facilitador do crescimento, seguidas pelos investidores (34%) e aceleradoras (14%).

No campo regulatório, 59% das empresas consideram neutro o impacto da regulação europeia nos últimos 12 meses, enquanto 27% avaliam o impacto como positivo. Os principais desafios regulatórios incluem a morosidade dos procedimentos e a fragmentação regulatória.

“O panorama atual é especialmente favorável para empresas em fase de crescimento, já que muitos fundos têm agora mais capacidade para investir em fases posteriores do que em fases iniciais” afirma Ricardo Jacinto, Managing Partner da Shilling, citado no relatório. 

Quanto aos colaboradores das fintechs portuguesas, valorizam principalmente os produtos e tecnologias inovadoras, a cultura da empresa, o ambiente de trabalho e as oportunidades de trabalho remoto.