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Supreme comprada por 1,5 mil milhões de dólares pela dona da Ray-Ban

por Miguel Magalhães (Texto) | 18 de Julho, 2024

A marca americana continua a ser uma das principais referências na indústria do skate e da cultura urbana. A sua atual dona, a VF Corporation, enfrenta alguns problemas financeiros depois de ter terminado o ano fiscal com prejuízos.

Nos últimos 30 anos, o estilo skateboarder faz parte das tendências de moda de qualquer adolescente e mesmo de muito adultos. Os ténis especializados para as manobras, as calças algo largas, as camisas com padrões modernos e os “bonés” tornaram elementos aos quais é impossível escapar se andarmos pelos principais centros urbanos.

A Supreme, marca criada pelo designer James Jebbia em 1994, tornou-se numa referência de vestuário para milhões de pessoas navegando esta onda, primeiro nos EUA e depois no resto do mundo. Ao longo dos anos, foi sendo utilizada não só pelos principais skaters, mas por personagens incontornáveis da cultura pop como Michael Jordan, Lou Reed, Lady Gaga ou Morrissey. Este apelo fez com que fosse procurada por qualquer tipo de consumidor urbano, mesmo aqueles que não tinham intenção de fazer um “kick-flip” ou um “270º” no ar. Os seus produtos partiram de um nicho e passaram a ser procurados em qualquer canto do mundo.

Em 2017, quando já era uma marca bem estabelecida no mundo da moda, James Jebbia vendeu 50% da Supreme ao fundo de investimento The Carlyle Group por 500 milhões de dólares, mantendo controlo sobre as operações da empresa. Foi uma oportunidade não só de receber algum retorno pelo trabalho desenvolvido, mas de receber capital para expandir a marca para ainda mais mercados.

VF Corporation entra em cena

O sucesso desta internacionalização levo a que uns anos mais tarde, em dezembro de 2020, a VF Corporation tenha decidido adquirir a totalidade da marca por 2,1 mil milhões de dólares. O nome “VF Corporation” não será familiar para a maior parte da pessoas, mas trata-se do grupo que detém marcas como a Vans, a North Face, a Timberland e a Eastpack, que tinham algumas parecenças com a Supreme na forma como se ligavam com a cultura urbana entre roupa e acessórios. A VF Corporation esperava aproveitar a experiênca que tinha com estas marcas para levar a Supreme a novos horizontes e pelo meio beneficiar de algumas sinergias, aproveitando as melhores práticas que cada uma das suas marca tinha para oferecer.

Nos primeiros anos, a integração parece ter corrido bem e em 2022 a VF Corporation apresentou receitas recorde de 11,8 mil milhões de dólares, das quais 1,4 mil milhões foram lucro. Mas nos anos seguintes, com o agravamento das condições económicas mundias, entre inflação, a guerra económica entre EUA e China, conflito armado entre a Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, entre Israel e a Palestina, fizeram com que a VF Corporation tivesse dificuldade em fazer os produtos das suas marcas chegar a mais pessoas. Em 2023, as receitas diminuírame os os lucros baixaram mais de 90% e, no ano fiscal de 2024 (que para a empresa termina em março), houve não só uma quebrea superior a 10% nas receitas como registou um prejuízo de cerca de mil milhões de dólares.

Melhores sinergias com a Ray-Ban?

Neste cenário, a venda de uma das suas marcas pareceu o passo mais lógico para procurar algumas eficiências operacionais. A escolha da Supreme prende-se não só por ser a mais recente, mas pelo facto de o fit com as restantes marcas não ser tão bom como parecia. Estes são os desafios que a VF Corporation já referia no seu relatório anual deste ano:

“A Supreme tem um modelo de negócios diferente das nossas restantes marcas e está sujeita a riscos únicos devido ao seu foco em lançamentos regulares de produtos,  de forma semanal e limitados, através das suas lojas. Estas características diferentes podem incluir requisitos de volume e sazonalidade do produto, taxas de design e produção, e concentrações e de procura dos consumidores. A falha da VF Corporation em fazer as adaptações necessárias nas suas operações para abordar estas diferentes características, complexidades e dinâmicas de mercado poderia afetar adversamente a receita, a condição comercial e os resultados operacionais da VF.”

Além do seu marketplace, a Supreme conta atualmente com 17 lojas físicas nos EUA, Europa e e na Ásia, sendo que a China e a Coreia do Sul tinham sido duas regiões onde tinha tido um crescimento mais acelerado.

A EssilorLuxottica, grupo franco-italiano, dono de marcas como a Ray-Ban e a Oakley, apareceu como o principal interessado em juntar a Supreme à sua pool atual de marcas e acabou por ver a sua proposta de 1,5 mil milhões de dólares aceite pelo grupo americano. “Vemos uma oportunidade incrível de trazer uma marca icónica para a nossa empresa”, afirmam o CEO Francesco Milleri e o COO Paul du Saillant, num comunicado conjunto, “Este negócio alinha-se perfeitamente com o nosso roadmap para inovação e desenvolvimento, oferecendo uma ligação direta com novas audiências”.

A compra da Supreme deverá ser finalizada até ao fim do ano.

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