Deeptech. O que é que Portugal tem a aprender com países como Áustria, França e Irlanda?
por Gabriel Lagoa | 17 de Julho, 2024
Portugal mostra potencial no ecossistema deeptech, mas ainda tem lições a tirar dos países europeus mais maduros. Tiago Marques, Innovation Consultant, destaca as oportunidades e os caminhos para fortalecer o setor nacional.
O ecossistema deeptech em Portugal está em crescimento. Ainda no início do mês de julho, por exemplo, o Governo anunciou que vai lançar um fundo de investimento para as empresas ou tecnologias que estão na vanguarda da inovação, com foco em inovação sustentável e um outro apoio para projetos de startups em crescimento. Mas Portugal ainda tem um caminho a percorrer para alcançar o nível de maturidade de países como Áustria, França e Irlanda. Quem o diz é Tiago Marques, Innovation Consultant na Beta-i.
A consultora faz parte de um projeto chamado AccelerAction, financiado pela União Europeia e que tem o objetivo de contribuir para um ecossistema empreendedor europeu de deeptech mais equilibrado. No âmbito desta iniciativa, a representante portuguesa recebeu, no mês passado, cinco startups dos três países europeus, retratados pelo programa como aqueles onde a inovação está mais desenvolvida: Áustria, França e Irlanda. Então, fomos perceber o que é que Portugal, aqui retratado como um país emergente, tem a aprender com os crescidos quando se fala em deeptech.
Os caminhos para um ecossistema português mais musculado
Para que Portugal possa alcançar o nível de países como Áustria, França e Irlanda, Tiago Marques começa por dizer que é preciso, sem surpresas, mais investimento em infraestruturas de Investigação e Desenvolvimento (I&D): Os países maduros investem de forma significativa em infraestruturas de I&D, o que inclui, por exemplo, a construção de laboratórios avançados, ou até parcerias entre as universidades e a indústria. O consultor acredita que Portugal poderia beneficiar de um aumento neste tipo de investimento, de forma a facilitar o desenvolvimento inicial de soluções deeptech.
Áustria, França e Irlanda oferecem também uma variedade de incentivos fiscais, subsídios e programas de apoio para startups e empresas deeptech. Tiago Marques considera que esses apoios “são cruciais para diminuir o risco e também estimular o investimento privado, especialmente nas fases iniciais de desenvolvimento”. O responsável refere que nestes países existe ainda uma forte rede de incubadoras, aceleradoras e mentores especializados em deeptech, o que representa uma ajuda valiosa, pois as soluções deeptech têm características “únicas” que requerem uma orientação específica.
A colaboração internacional também não fica de fora. Marques conta que os países maduros promovem ativamente a interação com outros ecossistemas de inovação e empreendedorismo e sugere que Portugal poderia beneficiar de mais “iniciativas transfronteiriças e programas de intercâmbio” para facilitar o acesso a mercados globais e conhecimento internacional. Quanto à cultura de inovação, o consultor destaca a importância de desenvolver “uma maior abertura para aquilo que é o erro, uma mentalidade de aceitação do risco e um bocadinho de tolerância ao fracasso”. Esta cultura é considerada essencial para o avanço de tecnologias inovadoras.
Financiamento e apoio europeu
Tiago Marques destaca o papel dos fundos europeus no desenvolvimento do setor deeptech em Portugal e detalha que os apoios de Bruxelas são importantes, por exemplo, no combate às disparidades nos investimentos públicos e privados que são feitos nas empresas de cada país. “O que acaba por acontecer é que, embora uma startup de França esteja a competir com uma startup de Portugal num mercado único europeu, muitas vezes os apoios que recebem são completamente diferentes. Estas disparidades podem ser muito grandes. Por exemplo, uma startup em Portugal pode receber 100 mil ou 200 mil euros para desenvolver uma determinada solução. No entanto, uma startup com a mesma solução e as mesmas características em França ou na Áustria poderia estar a receber um milhão ou dois milhões de euros. Isto acaba por gerar diferenças significativas ao nível da competitividade das startups portuguesas no mercado europeu”, acrescenta.
Um desses apoios europeus é o programa EIC Accelerator, que apoia empreendedores, inovadores e pequenas empresas através de financiamento e da disponibilização de serviços de coaching. “Portugal nos últimos anos tem cada vez mais conseguido candidatar e ter sucesso nas suas candidaturas,” afirma Tiago Marques, que nota que pelo menos 14 entidades portuguesas já estão a ser apoiadas por este programa.
Portugal impressiona visitantes
Apesar dos desafios, Portugal tem demonstrado um potencial que não passa despercebido aos olhos internacionais. O responsável realça que os empreendedores estrangeiros que visitaram o país ficaram particularmente impressionados com entidades como a Fundação Champalimaud, e com empresas de sucesso global, como a Unbabel. O consultor diz ainda que “o talento que há em Portugal foi uma das coisas que mais impressionou os empreendedores estrangeiros”. Esta perceção positiva sugere o potencial de Portugal para se tornar um player cada vez mais relevante no cenário deeptech europeu, desde que continue a investir no fortalecimento do seu ecossistema e a aprender com as melhores práticas internacionais.
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