O investimento estrangeiro não traz apenas capital e expertise: cria também uma sinergia entre culturas e talento diverso.
Como cofundadora da RedBridge Lisbon, uma comunidade e clube de empreendedores, profissionais e investidores com mais de 150 membros de várias nacionalidades que pretende aproximar os ecossistemas Portugal-Califórnia, coorganizei, em março, um evento em São Francisco, com o objetivo de dar a conhecer Lisboa e Portugal como um hub de inovação e empreendedorismo. No evento, apresentámos a Unicorn Factory Lisboa, falámos da recente eleição de Lisboa como Capital Europeia da Inovação e demos a conhecer uma reputada VC Portuguesa e duas scaleups. Estiveram presentes vários membros da comunidade de São Francisco, ligados ao setor tecnológico, ao investimento e venture capital, e a vários outros setores de negócios, interessados em conhecer mais sobre as oportunidades que estão a surgir em Portugal e no potencial de colaboração e investimento. Estas semanas de reuniões e conversas sobre tendências em Portugal e em São Francisco e potencial de colaboração vieram realçar uma perspetiva que é um dos grandes motivadores do trabalho que temos desenvolvido: o potencial de unir talento estrangeiro qualificado com os recursos locais para impulsionar o crescimento económico e a inovação em Portugal.
A diversidade de talento tem sido um dos principais impulsionadores do sucesso económico e cultural da Califórnia, e Portugal pode beneficiar igualmente seguindo esse exemplo
É um facto que, por um lado, testemunhamos uma onda sem precedentes de estrangeiros qualificados que trazem consigo não apenas meios financeiros para investir, mas também uma expertise valiosa e uma disposição para fornecer formação e mentoria. Além disso, muitos vêm com a intenção de se envolver em projetos locais ou até mesmo criar novas empresas. Na verdade, esta chegada de talento é um fenómeno que nunca antes havíamos presenciado em Portugal, mesmo considerando o nosso passado valioso ligado à imigração. Contudo, por outro lado, enfrentamos o desafio de várias gerações de jovens portugueses altamente qualificados que sentem a necessidade de procurar oportunidades de trabalho no estrangeiro, não só porque procuram melhores salários, mas também perspetivas de crescimento profissional mais ambiciosas.
Esta dicotomia entre talento estrangeiro e fuga de talento nacional é uma realidade complexa, mas coexistente no nosso país. Acredito que existem oportunidades significativas para aproximar essas duas realidades, proporcionando aos jovens portugueses mais oportunidades dentro do país e aos investidores estrangeiros meios para se integrarem na comunidade local. Uma das principais motivações para fundar a RedBridge foi precisamente abordar essa lacuna e atuar como um agente ativo na promoção da colaboração transfronteiriça entre talento estrangeiro e local. Acreditamos firmemente que essa colaboração não só impulsiona a economia, mas também enriquece a comunidade empresarial e cultural em Portugal.
É importante reconhecer que, em alguns círculos, existe uma narrativa anti-imigração que pode obscurecer o potencial positivo do investimento estrangeiro. No entanto, podemos ver que locais como a Califórnia se tornaram centros de empreendedorismo e inovação justamente por abrirem as suas portas a pessoas de todas as nacionalidades. Como cofundadora da AGPC, tenho testemunhado pessoalmente relações sólidas e parcerias produtivas entre estrangeiros e locais em Portugal. A verdade é que a diversidade de talento tem sido um dos principais impulsionadores do sucesso económico e cultural da Califórnia, e Portugal pode beneficiar igualmente seguindo esse exemplo e adaptando às suas características, sem perder autenticidade.
No fundo, o investimento estrangeiro não traz apenas capital e expertise: cria também uma sinergia entre culturas e talento diverso. Ao abraçar essa diversidade e procurar promover a colaboração entre investidores estrangeiros e talento local, podemos, de facto, criar um ambiente propício para o crescimento económico sustentável e a inovação contínua em Portugal.
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